quarta-feira, 5 de março de 2008

Lula, "O venturoso"


Uma geração inteira passou privações (maiores ou menores) para acumular o dinheiro que permitiu pagar nossos credoresUma geração inteira passou privações (maiores ou menores) para acumular o dinheiro que permitiu pagar nossos credores

03/03/2008

Plinio Arruda Sampaio *


As descobertas do século XV transformaram Portugal, de um pequeno reino esquecido atrás dos Pirineus, em uma potência mundial. O afortunado monarca então no trono ganhou o apelido de Dom Manoel, "O Venturoso".

Como o apelido está vago desde sua morte, é o caso de passá-lo ao Lula.

Ao assumir o governo, em 2003, a economia brasileira, que já capengava desde os anos 1980, encontrava-se no ponto mais baixo de uma crise desatada em 1997: pruduto interno bruto estagnado; endividamento externo elevado; dólar a 1 por 4; juros estratosféricos; "risco-Brasil" nas nuvens; desemprego altíssimo.

Pois bem: em 2008, todos esses indicadores mudaram de sinal: hoje, são todos positivos. Como foi possível realizar esse milagre?

O principal fator foi o extraordinário crescimento da economia mundial nos últimos cinco anos. O crescimento aumentou a demanda externa, estimulando as exportações brasileiras e, conseqüentemente, criando um saldo comercial crescente e suculento.

O dedo de Lula nisso consistiu em manter o real valorizado (1 por 1,7) e manter um elevado superávit fiscal (o novo nome do corte de gastos).

A partir daí gerou-se um "círculo virtuoso": mais exportações, mais saldos em dólar, menor "risco-Brasil", mais entrada de dólares, mais reservas do Banco Central, redução paulatina dos juros, crescimento lento mas contínuo e lento decréscimo do desemprego.

Hoje, o Brasil tem em caixa mais dinheiro do que o montante da sua dívida externa. A glória?

A resposta depende do ângulo da análise. No caso desta coluna, o ângulo é, como sempre, a "opção preferencial pelos pobres", feita pela Igreja da América Latina em Medelin. E, nesse caso, a pergunta é: qual o preço desse resultado e quem o pagou?

A resposta contraria a frase de Tancredo Neves: "não se pode pagar a dívida com a fome do povo brasileiro". O que permitiu a melhoria dos indicadores macroeconômicos foi fundamentalmente a moeda valorizada e o superávit fiscal, ou seja: o desestímulo à indústria e a drástica redução dos gastos do governo com o seu funcionalismo e com os programas de educação, pesquisa, saúde, moradia, saneamento básico, segurança externa e interna e infra-estrutura.

Uma geração inteira passou privações (maiores ou menores) para acumular o dinheiro que permitiu pagar nossos credores. Mas, pelo menos, esse sacrifício permitiu solucionar de vez um problema que nos atormenta desde a proclamação da independência?

Negativo. As conseqüências das políticas econômicas iniciadas com a crise dos anos 80, aprofundadas com Collor e FHC e mantidas inalteradas por Lula foram gravíssimas:

No plano econômico, o patrimônio público passou para o capital privado e a indústria foi brutalmente desnacionalizada - o que significa menor ingerência dos brasileiros em sua própria economia.

No plano social, anos de desemprego, salários deteriorados e serviços públicos sucateados criaram bolsões de miséria e focos de criminalidade, hoje de longa e difícil eliminação.

E, no plano político-administrativo, a confusão entre o público e o privado institucionalizou a corrupção nos órgãos do Estado e expandiu-a para toda a sociedade.

Nos últimos quatro anos, os ventos do mercado mundial permitiram a Lula aumentar ligeiramente o gasto social. Depois de 20 anos de sofrimento, esse alívio soou para os mais pobres como uma redenção. Lula virou redentor.

Bom mesmo só para quem analisa a situação do país pelo angulo da "opção preferencial pelos ricos"... ah! esses estão nadando de braçada.

Plinio Arruda Sampaio é advogado, ex-deputado constituinte, presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e diretor do jornal Correio da Cidadania

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/lula-o-venturoso

3 comentários:

Cascão disse...

Cara tá bem legal seu blog, curti a história do Nilson
Abração
vc tá na lista dos sonhos né, então olho o mail q vou mandar sobre os movimentos sociais, para entregar junto com os botons

abraço

Maikon K disse...

salve.
andei escrevendo sobre a historia do floresta...
sua opiniao é mto importante.
abraços libertários.

Maikon K disse...

Olá Hernandez,

Bem, é importante receber as opiniões diversas e não aquelas tradicionais babações de ovos, ainda mais quando estamos abordando um tema de grande validade para a construção de uma cidade baseada em laços efetivos de justiça social, em que a cada dia o respirar seja de uma democracia diferenciada do que habituamos entender como a única existente ( democracia representativa ).

A idéia de escrever o texto partiu da leitura do capitulo “clandestinos em Joinville”, publicado no livro “Os quatros cantos do sol’ de Celso Martins. A base da leitura foi somente esse livro, assim acabei negligênciando diversos questionamentos que surgiram enquanto lia e escrevia. Entre os questionamentos estavam presentes os apontados por vc.

Não quis cometer “furos” históricos ao levantar dados populacionais, pq não havia livros e dados suficientes em mãos, somente acrescentei as informações que tinha na memória de leituras anteriores, mas nada de precisão. Nesse aspecto é de extrema importância uma leitura dedicada e diversas, e as fontes para buscar os dados são diversas, afinal, está ligada a economia e ao processo de industrialização da cidade. Um ponto importante acrescentar é que hoje Joinville está com cerca de 600 mil habitantes, sendo que na década de 1970 o número era inferior a 200 mil habitantes. E os bairros localizados na zona sul ( como o Floresta ) eram de baixa habitação. Para levantar problemas, desde da pesquisa metodologica é necessário tempo e leitura, que de fato estou pensando em organizar, fazendo um recorte, inicial, de 1964 a 1984, trazendo atuação de moradores-as do Floresta no PCB e do surgimento da CEB e suas lutas sociais.

As idéias que pintaram após publicar o texto foram diversas, entre elas a fundamentação real de uma pesquisa sobre atuação da esquerda, tendo como cenário o bairro Floresta. Não pretendo afirmar, a brincadeira do bairro como “berço da esquerda’, como habitualmente faço, mas identificar e apresentar os elementos de contestação ao regime militar, sendo o foco as residentes no bairro. O pensamento não é transcorrer nas linhas nostalgicas de um passado “glorioso” de resistência e de lutas, mas de trazer a tona e ao conhecimento de um maior público, além dos bancos universitários, da passagem da história da luta de classes nas ruas do bairro que nasci e de que alguma maneira foram fundamentais para a minha formação política. Algo como se tivesse uma “dívida social” pelas missas de domingo ministrada pelo Padre Facjini. (hehehe)

Em relação ao PCB e suas caminhos ou descaminhos preciso de mais referências, até pq o livro que tomei como base ( os 4 cantos do sol ) tem diversos furos nesse sentindo, de abordar um problema mais estruturado, tem mto um olhar nostaligos da resistência ao regime militar. Como não tenho leituras amplas sobre esses caminhos e descaminhos e não gostaria de fechar o texto sem uma opinião. Deixei claro que ainda não estava com uma consideração final fechada, estava aberto e teria a necessidade de aprofundar.

Outra coisa: na historiografia tem um problema mto chato, por exemplo, os eventos, os fatos, os personagens e tudo mais que se passa na história dos principais centros do pais ( resumido ao eixo de RIO-SP ) é caracterizado como “história do brasil”, enquanto o que se passa por aqui ( Joinvas ), Belém ou Campo Grande é tido como “história regional”. Eu tenho grandes resalvas com essa coisa toda. Por isso, quando falo atuação do PCB em Joinvas e seu desaparecimento, pretendo levar em consideração os aspectos do PCB em todo brasil e na esfera global. Afinal, é uma organização que ( teoricamente ?) as deliberações eram (é?) tomada em coletivo e levando em consideração todas suas espeferas e frentes de atuação.

Nande, acabei escrevendo demais e tornando publica algumas das minhas pretensões. Gostaria de conversar mais de perto com vc essa história toda. Não pretendo encaminhar para a FCJ um projeto, essas coisas de financiamento via Estado não é me agrada saber que uma perspectiva poderá ser julgada por meia dúzia de caras de ternos e gravatas, que vão determinar o que “realmente é a história da cidade”. Prefiro pesquisar por conta e quem correr atrás de algum lugar para lançar.

Espero que tenha respondido alguns dos seus pontos. É mto bom esse debate, quem sabe com o tempo outros-as podem aparecer e discutir. Preciso dizer, por favor abandone essa história de “especialista”, pq diploma universitário não é um canal de abertura para “capacidade” ou “dominios das tecnicas” para uma pesquisa. Por um mundo livre, que todos-as ( de consciencia critica. Hehehe) possam serem jornalistas, historiadores e afins.

Qqr coisa escreva.
Abraços libertários.
Maikon K.
www.vivonacidade.blogspot.com