sábado, 24 de maio de 2008

Coerência autoritária

O prefeito Marco Tebaldi, através de seu posto de presidente do conselho deliberativo do Joinville Esporte Clube, decidiu pela convocação de um plebiscito cujo motivo é a destituição da atual diretoria, tendo em vista os últimos acontecidos da semana que passou (Guerra declarada, AN de 23/05). Ao ter uma proposta, para usar um eufemismo, “ruim” rechaçada, o prefeito, em nome da garantia de sua influência, convoca um plebiscito para que todos os associados de Joinville possam decidir os rumos do Clube, em uma manobra de discutível legitimidade jurídica e democrática. Engraçado – ou melhor: farsesco, porque se trata de uma trama cujo humor é do mais canhestro.

Os fatos, amplamente sabidos e divulgados pelos jornais, no entanto, perdem de vista algo importante e que deve ser rememorado. Ano passado, quando do aumento das passagens de ônibus em Joinville, dentre as duas reivindicações dos manifestantes uma delas era a convocação de um plebiscito para que as pessoas pudessem decidir (postagem em 18/07/2007 no barraroaumento.blogspot.com). Nesse caso, sobre a presença da iniciativa privada no transporte coletivo. Na ocasião, os que lutavam por transporte público compreendiam que a iniciativa privada, com a anuência do poder público, explorava o transporte coletivo em um processo pouco transparente – 30 anos sem licitação, no mínimo – e que, portanto, cabia à prefeitura chamar por esse plebiscito para que a democracia superasse seu estado embrionário, de dois em dois anos, e se aplicasse verdadeiramente à vida das pessoas no que tange aos assuntos importantes do município. À época, a novidade consistia em ampliar o espaço político – ao mesmo tempo que oxigenava bandeiras históricas da luta por transporte em Joinville –, buscando criar uma nova forma de gestão, mais próxima da autogestão, e, ao mesmo tempo, questionar o primado do privado – a tarifa sendo paga para enriquecer duas famílias – sobre o público – o enorme contingente de pessoas que não possuem o direito à mobilidade urbana em razão do preço abusivo da tarifa.

Não fomos atendidos. O diagnóstico sobre o transporte, todavia, continua o mesmo, exceto ao que se refere ao tempo de exploração sem licitação – agora, no mínimo, 31 anos.

A diferença entre os dois episódios é que o atual clama por um plebiscito para legitimar uma dominação; o outro, buscava o plebiscito para contestar a exploração privada no transporte coletivo.

Tebaldi, segundo a edição de 24 de maio do AN, diz que destituir a atual diretoria é “mais uma questão moral do que legal”. Cabe a pergunta: porque determinados assuntos mexem mais com a consciência moral do prefeito do que outros? Sem meias palavras: plebiscito no JEC e não no modelo de gestão transporte, porquê?

Por contraditório que pareça à primeira vista, o prefeito é coerente. Isso porque o plano político segue como sempre seguiu, isto é, de maneira autoritária, sustentando uma suposta democracia quando convém a esse plano ou suspendendo-a ao sabor das circunstâncias. Difícil não concordar com a opinião de Adelir Alves, atual presidente do JEC, vítima da “democracia” circunstancial do prefeito, na mesma edição do AN: “Ele (Tebaldi) tem poder supremo e fica subjugando as pessoas comuns da nossa cidade”. Ainda tem, ainda.

2 comentários:

Maikon K disse...

Mto bom suas observações.
Assino embaixo.
Acredito que vc deveria encaminhar para os jornais da cidade, os três que estão em circulação e mandar para o Savedra (via o blog dele)...sério, pode refletir num sério debate na cidade, desde que role de entrar no meio do setor da grande midia local
abraço.

Maikon K disse...

salve.
nem coloquei o link por esquecimento...mas isso me deu a ideia de fazer um texto sobre essa fionte, que é o TErrorismo Nunca MAis.
hehehe
Eu vi esse livro, ele coordenado um grupo de estudos na UFF e lá tem uma cadeira sobre anarquismo.
Tbm to com artigos dele sobre anarquismo.
abraço.
maikon k.