tag:blogger.com,1999:blog-89929859441657153882024-03-05T08:45:45.042-08:00Filosofia, Cultura, Política e MarxismoH.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.comBlogger101125tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-72737521876021289082011-05-24T08:01:00.000-07:002011-05-24T08:02:33.855-07:00Última postagem<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal">Este blog acabou, isto é, não receberá mais postagens. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal">A razão pela qual continuará no ar é que existem algumas postagens, sobretudo de teor mais acadêmico, que, segundo as estatísticas, permanecem com algum acesso. Além disso, <a href="http://agarrandooconceito.blogspot.com/2009/03/montanha-magica-thomas-mann-trechos-em.html">há uma tradução importante</a>, e a princípio foi a primeira à disposição do público, dos trechos em francês de <i style="mso-bidi-font-style:normal">A Montanha Mágica</i> de Thomas Mann. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal">Quaisquer eventuais contatos podem ser feitos pelo jarivaway arroba gmail ponto com . </p>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-47297540427014128472011-01-24T17:32:00.000-08:002011-01-24T19:33:05.802-08:00O balanço do lulismo<!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;">O “lulismo” de qualificativo jornalístico pejorativo ganhou ar de estatuto teórico. Hoje, lulismo é um conceito. Conceito que busca descrever e explicar, de modo geral, o período dos últimos oito anos da política brasileira. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>O balanço desse período é urgente e necessário. Para quem participa eventual ou organicamente da esquerda brasileira pôde constatar a notável diferenciação valorativa em relação ao governo Lula de 2002 para cá. Sem descolar do plano mais superficial, esse movimento foi da esperança à desilusão, do cinismo a um projeto histórico de transformações viáveis e progressistas dentro da ordem capitalista. Do ponto de vista do movimento social isso significa apenas uma coisa: da defesa envergonhada do lulismo em 2006 a sua defesa apaixonada em 2010.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>Esse período correspondeu também a um fortalecimento efêmero da esquerda revolucionária. Desde 2002, quando se anteviu o quanto os bancos seriam remunerados, até mais ou menos 2008, quando a crise econômica foi “vencida” por instrumentos de incentivo ao consumo e por uma orientação desenvolvimentista da economia, a esquerda revolucionária viveu um momento de fôlego parcial. Proliferaram análises sobre a origem e caráter do PT, surgiu mais um partido na esquerda brasileira, movimentos sociais de caráter autonomista e com sérias desconfianças à ordem institucional passaram a ter um espaço inaudito. Uma análise séria a respeito desse movimento que ensaiou rupturas a ordem é um capítulo à parte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>O fato é que o lulismo com políticas sociais emergenciais, seguido do consumo de geladeiras e carros, conquistou um largo setor da classe trabalhadora mais explorada. Isso ainda para permanecer no superficial. O fenômeno que se processou nesse interregno é bem mais profundo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span><a href="http://novosestudos.uol.com.br/acervo/acervo_artigo.asp?idMateria=1356">André Singer</a>, com uma análise liminar e brilhante, aventou a hipótese do lulismo ser, efetivamente – e não distorcidamente –, uma representação de classe – representação no sentido de Marx –, mais propriamente de uma fração de classe, o subproletariado., isto é, aqueles que sobrevivem vendendo sua força de trabalho mas nem sempre encontram quem a compre Com as políticas sociais, o crédito consignado e o aumento real do salário mínimo, Lula conseguiu deslocar uma classe tradicionalmente ligada à direita política, em razão de sua fragilidade econômica e social, para o seu lado mais “reformista” – em oposição ao seu caráter, também, intrinsecamente conservador. Singer define o perfil ideológico do subproletariado como aqueles que desejam mudanças, mas que essas mudanças se processem de modo lento e gradual; o abalo da ordem, qualquer que seja, é sempre prejudicial a essa fração imensa da população que não possui direitos sociais – uma situação de desemprego é insuportável àqueles que não possuem seguro-desemprego; a estabilização da economia, o controle da inflação, é fundamental para uma classe sem poder de auto-organização. Essa dialética entre reforma e conservação (cuja distribuição de renda não prescinde e não contradita a remuneração dos bancos, por exemplo), seria resolvida por mudanças graduais, progressivas e mesmo lentas na ordem, que jamais ensaiariam quaisquer mudanças de corte radical. Os argumentos de Singer em suporte a essa tese são bem convincentes: desde o mapa eleitoral destacando a diferença profunda entre lulismo e petismo – este predominante nos centros industriais, aquele, no vocabulário jornalístico, nos grotões do Brasil –, o delineamento histórico do caráter do subproletariado como contrário a greves e até favorável ao uso de força militar na sua dissipação. A novidade do texto de Singer consiste ainda em mostrar um ator social até então razoavelmente invisível como, talvez, o mais poderoso da democracia brasileira. Tudo isso, é claro, tendo como pano de fundo a formação social subdesenvolvida que caracteriza o Brasil, ampliando em muito o poder dessa subclasse pouco expressiva no capitalismo avançado.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>Além disso, o texto de André Singer retoma o que há de melhor na análise marxista. É possível encontrar os conceitos mais fundamentais como classe, fração de classe, força de trabalho, formação social etc. Além do uso dos conceitos, a inspiração fundamental Singer encontra na análise dos pequenos camponeses promovida por Marx no <i style="">O 18 Brumário</i> – o subproletariado é mesmo homólogo ao pequeno-camponês francês do século 19 em linhas gerais: não está economicamente ligado entre si (como o operário na linha de montagem) e é portanto incapaz da auto-organização, no que implica fazer-se representar por um Bonaparte qualquer, no caso brasileiro sem nenhuma conotação militar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>Em que pese isso, parece-me que Singer ainda, como apoiador do governo e em que pese seu profundo realismo político, mistifica o caráter social do lulismo considerando-o como um retorno do “popular” à política. Ao contrário, e aqui a hipótese de <a href="http://revistacult.uol.com.br/home/2010/07/movimentos-sociais/">Ruy Braga</a> do lulismo como “revolução passiva” ganha força, o lulismo parece antes de tudo uma profunda recomposição das elites sociais e políticas em vistas de uma conservação capitalista. É uma reforma conservadora, ou uma conservação que para continuar capitalismo acaba por reformar-se. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>Ruy Braga mostra como o centro do lulismo se constitui no Estado, e aí ajuda a desfazer ilusões de uma esquerda que sem nunca ser anticapitalista sempre foi antineoliberal e, portanto, acreditou na diminuição real do papel do Estado ou que a contradição principal residiria entre capital e Estado – um evidente recuo a respeito das lições de Lênin no <i style="">O Estado e a Revolução</i>. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style=""> </span>Diz Ruy Braga:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"> </p> <p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.25pt; text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"><span style="line-height: 150%;font-size:10pt;" >Contudo, parece-me meridianamente claro que o governo Lula conseguiu coroar a incorporação de parte das reivindicações dos “de baixo” com a bem orquestrada reação ao subversivismo esporádico das massas representado pelo “transformismo de grupos radicais inteiros”. Da miríade de cargos no aparato de Estado, passando pelos muitos assentos nos conselhos gestores dos fundos de pensão, pelas altas posições em empresas estatais, pelo repasse de verbas federais para financiamento de projetos cooperativos, pela recomposição do aparato de Estado, pela reforma sindical que robusteceu os cofres das centrais sindicais etc., o locus da hegemonia resultante de uma revolução passiva é exatamente o Estado. O fato é que o subversivismo inorgânico transformou-se em consentimento ativo para muitos militantes sociais que passaram a investir esforços desmedidos na conservação das posições adquiridas no aparato estatal.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%;font-family:trebuchet ms;"> </p> <p class="MsoNormal" face="trebuchet ms" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style=""> </span>Difícil discordar. Interessante pensar isso a partir disso da hipótese de <a href="http://www.contrapontoeditora.com.br/produtos/detalhe.php?id=230">Rudá Ricci</a> ao, inspirado em Claus Offe, pensar o lulismo não apenas como “cooptação” – conceito fácil e conjuntural – dos movimentos sociais, mas como uma verdadeira estatalização – ou contra o neologismo, estatização – dos movimentos sociais. A reprodução material de variados movimentos sociais hoje depende do Estado que por meio da política de editais e de políticas (a um nível essencialmente corretas, mas em outro perniciosas) de assistência dão vazão a um certo tipo de reivindicações da sociedade. A velha diferenciação entre sociedade civil e Estado, sempre precária, ganha maior indistinção. </p> <p class="MsoNormal" face="trebuchet ms" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style=""> </span>Vale notar ainda os autores, <a href="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TPRdeo7RQsI/AAAAAAAAAmA/w0N2_9VdmnQ/s1600/capital_imperialismo.jpg">Virgínia Fontes</a> à frente, que tentam pensar aspectos da política internacional brasileira como subimperialismo. Para isso não faltam indícios – mesmo que talvez parciais –, como a intensa participação do BNDES, Petrobrás e Itaipu na América Latina. BNDES, sobretudo, porque o financiamento de empresas brasileiras têm por fito sua instalação em outros países – seja na Bolívia, seja em Angola – ou o banco emprestando dinheiro a Guatemala, isto é, exportando capital. O fato é que o regozijo da diplomacia sul-sul preconizada por Marco Aurélio Garcia deve ser relativizada, prestando-se mais atenção às operações dos órgãos citados do que nas cordiais declarações dos governantes da América Latina. </p> <p class="MsoNormal" face="trebuchet ms" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style=""> </span>Por fim, o livro <a href="http://www.garamond.com.br/noticias.asp?id=2021393107">“Os anos Lula”</a>, grande projeto coletivo, apresenta a parcial mas imponente tentativa de uma avaliação geral do lulismo. Nesse caso, o interesse do livro reside menos pela síntese e mais pela análise pormenorizada dos diferentes temas – da educação à política econômica, do conflito agrário à política industrial. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%; font-family: trebuchet ms;"><span style=""> </span>O interesse de se fazer um amplo e correto balanço do lulismo reside no combate a uma versão da história que, a partir dessas eleições, nas milhares de mensagens eletrônicas disseminadas pelos apoiadores de Dilma, consiste na mistificação dos anos Lula. Se a crítica da direita merece ser solenemente ignorada, por não fazer jus ao mínimo de respeito aos fatos, a versão lulista não é muito melhor: a versão pai dos pobres, com dados seletamente colhidos e com depoimentos piegas de uma classe média com má-consciência, deve ser desfeita, sob pena de daqui a alguns essa versão, em oposição a alguma coisa pior, ser tomada como verdade.<br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%; font-family: trebuchet ms;">Do fato de que Lula é um gigante – possivelmente o maior estadista desse país – e de que tratamos do governo com a maior e mais eficaz estratégia política já implementada, com as transformações superficiais jamais realizadas e mais sensíveis ao grosso da população, é um fato a ser lamentado e <span style="font-style: italic;">criticado</span> por todo socialista autêntico. Resta ainda tudo por fazer, mas com um balanço bem orientado do lulismo ao menos não começaremos do zero.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%; font-family: trebuchet ms;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; line-height: 150%; font-family: trebuchet ms;"><span style="font-style: italic;">H. Vivan</span><br /></p> <span style=";font-family:";font-size:12pt;" ><span style=""> </span><br /></span>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-24089144295960407852011-01-12T19:07:00.000-08:002011-01-12T19:24:07.308-08:00Grupo de Estudos do PSOL Joinville<p style="font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span">O grupo de estudos e formação do PSOL Joinville realizará seu primeiro encontro em 2011. </span></p> <p style="font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"> </span></p> <p style="font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span">Passadas as eleições, nos colocamos a tarefa de debater e compreender, a partir da gênese, o que era e o que veio a ser o Partido dos Trabalhadores (PT). Portanto, iremos refletir sobre a trajetória do partido, a fim, inclusive, de não cometer os mesmos erros.</span></p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span">Para tanto, decidimos pelo texto “PT – Os</span> Dilemas da Organização” do sociólogo e militante socialista Florestan Fernandes (1920 – 1995). À luz do texto e das nossas experiências, assistiremos e em seguida debateremos o vídeo de “Clipagem com cenas do programa eleitoral da Frente Brasil Popular (campanha de Lula) para Presidente da República no ano de 1989”, a fim de verificar as brutais transformações de prática e discurso ocorridas durante esses anos.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"> </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span">Sobre Florestan Fernandes, o autor foi sociólogo e militante marxista (na década de 40, retomando atividades de cunho diretamente político de 80 em diante). Toda sua obra está ligada a desvendar e explicar relações de dominação seja na sua atenção ao indígena, ao negro ou ao proletariado. <a href="http://www.sbd.fflch.usp.br/florestan/index1.htm">Maiores informações biográficas aqui</a>.</span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"> </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span">O encontro ocorrerá na sede do PSOL Joinville (<a href="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=jer%C3%B4nimo+coelho,+joinville,+285&ie=UTF8&hq=&hnear=R.+Jer%C3%B4nimo+Coelho,+285+-+Centro,+Joinville+-+Santa+Catarina,+89201-050&ll=-26.302014,-48.842812&spn=0.008868,0.013797&t=h&z=16&iw">Jerônimo Coelho, 285, centro</a>) no dia 19 de janeiro, quarta-feira, às 19:00h. </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"> </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span">Sinta-se convidado. O grupo não é fechado a membros do PSOL, mas sim é aberto a todos que tenham interesse em discutir questões pertinentes ao socialismo. Se possível, confirme presença pelo e-mail <a href="mailto:psoljoinville@gmail.com">psoljoinville@gmail.com</a> . </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"> </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"><a href="http://www.4shared.com/document/f0stZd81/PT_os_dilemas_da_organizao__Fl.html">O texto pode ser baixado aqui</a>.</span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span"> </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> <i><span class="Apple-style-span">PSOL Joinville, 13 de janeiro de 2011.<br /><br /></span></i><span class="Apple-style-span">Fonte: <a href="http://psoljoinville.blogspot.com/2011/01/grupo-de-estudos-v.html">PSOL Joinville</a>.</span><i><span class="Apple-style-span"><br /></span></i></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-75305779004041303132011-01-04T17:59:00.000-08:002011-01-04T18:05:55.073-08:00"Se os historiadores tiverem juízo, ele será lido como o presidente mais privatizante da história" - entrevista com Chico de Oliveira<a style="font-family: trebuchet ms;" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TSPR5BiwLRI/AAAAAAAAAmU/EeSD33CiPqk/s1600/image_preview.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 214px; height: 320px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TSPR5BiwLRI/AAAAAAAAAmU/EeSD33CiPqk/s320/image_preview.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558517142702271762" border="0" /></a><br /><p style="text-align: justify; font-style: italic; font-family: trebuchet ms;"><b>Chico Oliveira, sociólogo aposentado da USP</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Qual leitura o sr. faz dos oito anos do presidente Lula?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O balanço geral é mediano. Essa história de "nunca antes neste país" é conversa fiada. O Brasil foi a segunda economia mundial a crescer sustentadamente durante um século. Mas foi um crescimento feito sem nenhuma distribuição de renda. A gestão do presidente Lula não diminuiu desigualdade nenhuma, isso é lenda criada a partir de muita propaganda. O que houve foi uma transferência de renda a partir do governo para os estratos mais pobres. Distribuição ocorre quando existe a mudança da renda de uma classe social para outra. Nesse sentido, não houve nenhum avanço.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O sr. concorda com os que afirmam que Lula é um mito?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Sim, e como acontece em todos os casos o mito é maior do que a realidade. Ele construiu um mito poderoso devido a vários fatores, entre os quais, conta o muito o fato de ele ser de origem pobre. Até hoje o presidente é considerado um operário, mas não pega em uma ferramenta há 50 anos. Isso o ajuda a fomentar uma figura. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">E o Bolsa-Família?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Nós fomos educados na ética cristã, que nos impede de sermos indiferentes à fome. Então, ninguém pode ser contra. Agora, politicamente, o programa diz que o crescimento econômico continua sendo excludente, que é preciso algo por fora do salário para dar condições de vida às pessoas. Outro fator grave é que ele é uma regressão, uma volta à política personalista, baseada no favor, algo ruim da tradição brasileira.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">André Singer, cientista político e ex-assessor de Lula na Presidência, compara os anos Lula aos de Roosevelt (presidente dos EUA entre 1933 e 1945 e recuperou a economia daquele país). O senhor concorda?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Respeito muito o André como intelectual. Ele elevou o nível de debate no PT. Mas acho que há um equívoco da parte dele. Lula não pegou o País em uma grave crise. Os anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) não foram gloriosos, mas não foram de quebradeira, de jeito nenhum. Roosevelt pegou os EUA no fundo da crise. Além disso, o André se esquece de que Roosevelt acabou com o trabalhismo americano. Entre as grandes democracias do mundo, a única na qual os trabalhadores não têm um partido é a dos EUA. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O sr. vê traços autocráticos no presidente Lula?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Montado nessa popularidade, ele exagerou. O presidente esteve à beira de se tornar autoritário. Foi além dos limites. Só duas pessoas no século 20 disseram, como ele, que eram a encarnação do povo: Adolf Hitler e Joseph Stalin.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Lula e o PT chegaram ao Planalto fazendo um discurso forte contra a corrupção. O sr. se decepcionou nesse quesito?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O poder absoluto corrompe muito. O presidente do Brasil pode nomear muitos cargos. Não há partido que resista a uma coisa dessas. O PT se perdeu no poder, ficou menor do que o presidente e não consegue impor seu programa. Lula e o PT tem um estilo predatório de administrar o Estado e lidar com as finanças públicas.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Lula foi melhor do que Fernando Henrique Cardoso?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Fui muito amigo do Fernando Henrique durante 12 anos e nos afastamos quando ele virou presidente. Fui revê-lo depois que ele deixou Brasília. Sei quem ele é e já fiz essa comparação. Fernando Henrique fez muito mal ao Estado com as privatizações. Ele, com isso, quebrou a capacidade de o Estado regular a economia, quebrou alguns instrumentos construídos com o sacrifício do povo para que o Estado pudesse intervir na economia. Mas tentou avançar institucionalmente, e essa é a grande diferença entre eles. O Lula não tem uma criação institucional. A República não avançou um milímetro com Lula. O que é celebrado na gestão Lula não se transformou em regra. Getúlio Vargas (ditador e presidente do Brasil de 1930 a 1945 e presidente de 1951 a 1954), quando criou as leis trabalhistas, obrigou as empresas a seguirem as regras da nova legalidade, que significavam uma nova hegemonia. A sociedade caminha pela luta de classes dentro dos caminhos que a hegemonia cria. Não ocorreu isso com Lula. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Mas e o aumento do salário mínimo não é um avanço?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Não, é um processo da economia, nada está garantido. Se amanhã a economia der para trás, o salário mínimo que se dane, não é um avanço. O salário mínimo do Juscelino Kubitschek (presidente entre 1956 e 1961) chegou, em valores de hoje, a R$ 1.500, e caiu porque as forças do trabalho não tiveram capacidade de sustentá-lo e porque logo depois viriam os governos militares. Avanços são direitos. Para ficar na história como um estadista, não apenas como um presidente popular, Lula deveria ter transformado, por exemplo, o Bolsa-Família em legislação constitucional. Não fez reformas. O Lula não é um estadista, de jeito nenhum. Ele não é aquele que constrói instituições que significam uma nova hegemonia.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O sr. estava entre os fundadores do PT...</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Isso de fundador não faz muita diferença. Muita gente estava na fundação do partido (no colégio Sion, em São Paulo, em 1980) e depois nunca mais apareceu. O que interessa é a militância, e eu fui militante.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Como o sr. acha que a era Lula ficará para a História?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Se os historiadores tiverem juízo, ele será lido como o presidente mais privatizante da história. Ele não é estatizante, isso é falso, uma lenda que a imprensa inventou e que ele usa como arma. Ele é privatizante no sentido de estar criando regras para que poucos grupos controlem a economia brasileira, usando o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para isso. Com Lula, nós estamos entrando naquilo que a teoria marxista chamava de capitalismo monopolista de estado, do qual não há volta. Todas as vezes que essas forças crescem, as dos trabalhadores diminuem. É esse país que ele vai legar para a Dilma.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="font-weight: bold; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Diante da alta popularidade de Lula, o sr. se arrepende de ter saído do PT?</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">De jeito nenhum. Esse negócio de popularidade é como maré, vai e volta.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><b>QUEM É</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> <span style="font-style: italic;">Chico de Oliveira é professor aposentado de sociologia da Universidade de São Paulo, da qual recebeu o título de professor emérito, e foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Entre seus livros, destaca-se Crítica à Razão Dualista.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Fonte</span>: <a href="http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110101/not_imp660655,0.php">Estadão</a>.<br /></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-65142254681938864662011-01-02T13:48:00.000-08:002011-01-02T13:58:12.568-08:00The Adventures of Sherlock Holmes [Série Completa]<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TSDzgANlWOI/AAAAAAAAAmM/i0vAhXN6J60/s1600/SH-THE-ADVENTURES-OF-SHERLOCK-HOLMES-300x428.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 280px; height: 400px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TSDzgANlWOI/AAAAAAAAAmM/i0vAhXN6J60/s400/SH-THE-ADVENTURES-OF-SHERLOCK-HOLMES-300x428.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557709671313529058" border="0" /></a><br /></div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><img src="file:///C:/Documents%20and%20Settings/INTEL/Desktop/SH-THE-ADVENTURES-OF-SHERLOCK-HOLMES-300x428.jpg" alt="" /><strong><span style="color: rgb(128, 0, 0);">1ª a 7ª TEMPORADA</span></strong> – <a class="downloadlink" href="http://filmescomlegenda.net/fcl/7827" title=" downloaded 276 times">Download</a></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;font-family:trebuchet ms;"><span style="color: rgb(255, 0, 0);"><br /></span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><strong>Sinopse:</strong> The Adventures of Sherlock Holmes (As aventuras de Sherlock Holmes) é uma coletânea de contos de aventuras do detetive Sherlock Holmes, publicada em 1892, escritos por Sir Arthur Conan Doyle. Os contos foram originalmente publicados na revista Strand Magazine, nos anos de 1891 e 1892.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><li><strong>IMDb</strong>: <a href="http://www.imdb.com/title/tt0086661/">http://www.imdb.com/title/tt0086661/</a></li><li><strong>Youtube</strong>: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=h6D9kO_1iI8">Assista ao Trailer</a></li></ul><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br />Fonte: <a href="http://filmescomlegenda.net/fcl/series/the-adventures-of-sherlock-holmes-serie-completa/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+filmescomlegenda%2FmgDk+%28Filmes+Com+Legenda%29">Filmescomlegenda</a>.</div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-37052471632758426992010-12-21T16:14:00.000-08:002010-12-21T16:16:22.747-08:00Porque o nosso povo não se rebela?<p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="autor"><span style="font-size:85%;">Plínio de Arruda Sampaio<br />De São Paulo </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Os telejornais estão cheios de noticias das rebeliões que estão acontecendo na França, Inglaterra, Itália e Grécia. Multidões de funcionários públicos, trabalhadores, agricultores, caminhoneiros, ocupam as ruas, bloqueiam estradas, ocupam edifícios públicos em protesto contra cortes em seus direitos. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Por que aqui não acontece o mesmo, sendo que os cortes são muito maiores? </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Dois fatores explicam a passividade da nossa gente. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> O primeiro deles é a terrível repressão policial sobre os insurgentes. Desde a Inconfidência Mineira, o povo sabe que a repressão dos revoltosos é seletiva: os figurões da conspiração foram deportados; o sargento de milícias foi enforcado, sua cabeça exposta ao público e o terreno da sua casa salgado para que nada jamais voltasse a nascer ali. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Em 1964, os deputados, senadores, governadores, políticos importantes e pessoas poderosas foram cassados e tiveram seus direitos políticos suspensos. Mas, o patrimônio deles não foi tocado, sua família sempre pôde vir ao Brasil, passada a cassação todos tiveram seus direitos restabelecidos e, muitos receberam polpuda indenização. Os líderes camponeses que se rebelaram foram todos assassinados. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> O povo observa essas coisas. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> O segundo fator da conformidade chama-se "cultura do favor". Roberto Scharwz tratou desse assunto com maestria. Segundo ele, durante os trezentos anos de escravidão, só havia dois grupos sociais organicamente ligados à produção e, portanto, à obtenção de renda (monetária ou sustentada pelo trabalho). Os demais grupos (negros alforriados, mulatos, cafusos, profissionais sem patrimônio, brancos pobres) só tinham duas maneiras de sobreviver: ou por meio de atos ilícitos ou pela proteção de um poderoso. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Surgiram daí o capanga; o mumbava; o cabo eleitoral. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> A cultura do favor é uma ética da gratidão. O marginalizado, no sentido daquele que vive à margem dos direitos sociais, que recebe um favor do poderoso está moralmente obrigado a devolver esse favor, a fim de se sentir uma pessoa digna. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Esta cultura atingiu não somente o pobre, mas também o poderoso. Porque sempre há alguém mais poderoso de quem se necessita uma providência - um favor. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Num livro admirável, Ligia Osório de Souza demonstrou que a elite dominante brasileira desenvolveu uma técnica legislativa destinada a evitar que a lei seja aplicada imparcial e universalmente. Toda lei brasileira tem preceitos vagos e confusos para possibilitar o casuísmo. O casuísmo é o favor. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Conta-se até mesmo a anedota do cidadão que pediu um favor a um senador e quando este respondeu-lhe que não podia atender por ser ilegal respondeu: "Mas é por isso mesmo que estou recorrendo ao senhor; se fosse legal, eu protocolaria no balcão da repartição". No Brasil, no balcão só os pobres sem padrinho. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Pois bem, uma população totalmente sem esperança de conseguir que seus problemas sejam resolvidos contentou-se com migalhas e identificou na figura do Lula o poderoso que lhe faz um favor. Seu dever moral é retribuir esse favor e o meio de que dispõe para isto é o voto. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> Não adianta nada demonstrar que o governo Lula está metido em falcatruas e que as migalhas distribuídas não resolvem o seu problema. Se dever moral é retribuir o favor. </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="destaque_cinza"> <b>Plínio Soares de Arruda Sampaio</b>,<i> 80 anos, é advogado e promotor público aposentado. Foi deputado federal por três vezes, uma delas na Constituinte de 1988, é diretor do "Correio da Cidadania" e preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária - ABRA<br /><br /></i>Fonte: <a href="http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4853582-EI17081,00.html">Terra Magazine</a>.<i><br /></i></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-28067322570833143892010-12-08T06:08:00.000-08:002010-12-08T06:12:10.649-08:00Zizek - The Guardian, em agosto de 2008 (tradução própria)<span style="font-family:'Trebuchet MS',sans-serif;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Slavoj Zizek, 59, nasceu em Ljubljana, Eslovénia. Ele é professor da European Graduate School, diretor internacional do Instituto de Ciências Humanas Birkbeck, em Londres, e investigador sênior do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana. Ele já escreveu mais de 30 livros sobre temas tão diversos como Hitchcock, Lênin e 9/11, e também apresentou a série de TV The Pervert's Guide To Cinema.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Quando você foi mais feliz? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Algumas vezes quando eu olhava para um momento feliz passado e lembrava-me dele - nunca enquanto ele estava acontecendo.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é o seu maior medo? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Acordar depois de morto - é por isso que eu quero ser queimado imediatamente.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é a sua lembrança mais antiga? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Minha mãe despida. Bastante desagrad.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Que pessoa viva você mais admira e por quê? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Jean-Bertrand Aristide, o presidente, duas vezes deposto, do Haiti. Ele pode servir de modelo para as pessoas, mesmo em situações desesperadoras.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é a característica que mais deplora em si mesmo? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Indiferença com os males dos outros.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é a característica que mais deplora em outras pessoas? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Suas desprezíveis disponibilidades para me oferecer ajuda quando eu não preciso ou não quero.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual foi o momento mais embaraçoso? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Estar sem roupas na frente de uma mulher antes de fazer amor.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Sem ser uma propriedade, qual a coisa mais cara que você comprou? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">A nova edição alemã da obras completas de Hegel.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é o seu bem mais valioso? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Veja a resposta anterior.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que o deixa deprimido? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ver pessoas estúpidas felizes.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que você mais gosta na sua aparência? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ela faz com que eu pareça do jeito que eu realmente sou.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é o seu hábito mais desagradável? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Os tiques excessivamente ridículos das minhas mãos enquanto eu falo.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que você escolheria para vestir para se fantasiar? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Uma máscara do meu próprio rosto, para que as pessoas pensem que não sou eu, mas apenas alguém querendo se passar por mim.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Sobre qual prazer sente mais culpa? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Assistir embaraçadamente filmes patéticos como "A noviça rebeld" ("The Sound Of Music").<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que você deve a seus pais? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Nada, eu espero. Eu não gastei nem um minuto lamentando a morte deles.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Para quem você mais gostaria de pedir desculpas, e por quê? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Para meus filhos, por não ser um pai bom o bastante.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Como o sentimento de amor lhe parece? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Como um grande infortúnio, um parasita monstruoso, um permanente estado de emergência que arruina todos os pequenos prazeres.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que ou quem é o amor da sua vida? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Filosofia. Eu secretamente acho que a realidade existe, então nós podemos especular a respeito dela.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é o seu cheiro preferido? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Natureza em decomposição, como árvores podres.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Alguma vez você já disse "eu te amo" e não quis dizer isso? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O tempo todo. Quando eu realmente amo alguém tudo o que eu consigo fazer são comentários agressivos e de mau gosto.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Que pessoa viva você mais despreza, e porquê? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Os médicos que auxiliam torturadores.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é o pior trabalho que você já fez? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ensino. Eu odeio alunos, eles são (como todas as pessoas), na maior parte das vezes, estúpidos e enfadonhos.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual foi sua maior decepção? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O que Alain Badiou chama de "desastre obscuro" do século 20: a falha catastrófica do comunismo.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Se você pudesse modificar o seu passado, o que mudaria? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Meu nascimento. Concordo com Sófocles: a maior sorte é não ter nascido - mas, a piada continua, muito poucas pessoas conseguem isso.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Se você pudesse voltar no tempo, onde você iria? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Para a Alemanha no início do século XIX, para seguir um curso universitário de Hegel.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que você faz para relaxar? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Ouvindo de novo e de novo Wagner.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Quantas vezes você faz sexo? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Isso depende do que se entende por sexo Se for a habitual masturbação com um parceiro, eu tento não fazer isso todo o tempo.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual o mais próximo que já esteve da morte? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Quando eu tive um leve ataque cardíaco. Foi quando eu comecei a odiar o meu corpo: ele se recusou a cumprir seu dever se servir-me cegamente.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual coisa simples poderia melhorar a sua qualidade de vida? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Evitar a senilidade.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>O que você considera ser a sua maior conquista? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Os capítulos onde eu desenvolvi o que eu acho que é uma boa interpretação de Hegel.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><b>Qual é a lição mais importante que a vida lhe ensinou? </b><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Que a vida é uma coisa estúpida e sem sentido, que não tem nada a ensinar.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Conte-nos um segredo. </b></span><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">O comunismo irá vencer.<br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-size:x-small;">O original pode ser conferido em: http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2008/aug/09/slavoj.zizek<br /><br /><span style="font-size:130%;">Fonte: http://slavoj-zizek.blogspot.com/2010/01/entrevista-pelo-guardian-em-agosto-de.html</span><br /></span></div></span>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-87493660165063538032010-12-06T05:00:00.000-08:002010-12-06T05:06:31.918-08:00Entrevista: economista Sérgio Lazzarini<span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold; font-style: italic;">Mariana Sanches</span><div style="text-align: justify;"><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-style: italic;">Depois de estudar as cadeias de comando de 804 empresas, o economista concluiu que o papel do governo continua tão forte quanto antes das privatizações</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-style: italic;">Desde a primeira privatização, no começo dos anos 90, 165 empresas estatais foram vendidas e geraram uma receita de US$ 87 bilhões para o Estado brasileiro. Um observador desavisado poderia ter a impressão de que o governo abandonava a economia ao capital estrangeiro e às forças do livre mercado. Duas décadas depois, o economista Sérgio Lazzarini diz que nada poderia estar mais distante da realidade. Ele pesquisou a composição acionária de 804 empresas brasileiras entre 1996 e 2009 e mapeou as relações entre elas. Montou uma espécie de rede social dos sócios das empresas. E concluiu que aqueles com mais contatos na rede de proprietários eram braços do Estado. Um exemplo é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 1996, ele estava no capital de 30 empresas. No ano passado, em 90. O Estado não apenas permaneceu no centro nervoso econômico, mas conseguiu se irradiar em consórcios e dirigir, em certa medida, os investimentos privados. Lazzarini batizou essa dinâmica de “capitalismo de laços”.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">QUEM É</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Economista, de 39 anos, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)</span><br /><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">O QUE FEZ</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Pós-doutorado em Harvard, Estados Unidos, sobre as redes empresariais do Brasil</span><br /><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">O QUE PUBLICOU</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="font-style: italic;">Capitalismo de laços: os donos do Brasil e suas conexões</span> (Campus-Elsevier), R$ 49,90</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – O senhor diz que imaginava que o empresariado brasileiro tivesse sofrido transformações após o processo de liberalização, com menor participação do Estado. Sua pesquisa derrubou essa impressão?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Sérgio Lazzarini – O que houve no Brasil foi uma diminuição da participação direta do governo nas empresas. Se compararmos com os anos 70, houve mudança. Não há tantas estatais. Novos investidores, alguns estrangeiros, entraram. Mas não são eles que têm o poder. A pesquisa mostra que o poder de articulação é maior quanto mais enfronhado nessas redes de contato. Não se trata de dominar um setor, mas de estar disseminado, tendo mais contato com outros proprietários.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – O senhor fala em “panelinhas”. Isso significa que, ao contrário do que se esperava com as privatizações, continua a existir algum tipo de monopólio?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – Alguns setores em que havia monopólio foram liberalizados, como a extração de petróleo. Mas criou-se esse modelo de consórcio, em que as pessoas se associam. Quando três empresas se associam, três a menos concorrem para disputar uma concessão, um leilão. Permite-se certa cooperação, que pode ser boa para diluir riscos, juntar capital – algo escasso no Brasil. Mas há potenciais problemas. Há atores que se irradiam em vários grupos. São esses que têm mais poder de articulação. Desde o começo das privatizações, houve um aumento no papel de atores ligados direta ou indiretamente ao governo, notadamente o BNDES e os fundos de pensão das estatais. Isso acaba tendo implicações nas próprias movimentações corporativas. Na fusão entre Sadia e Perdigão, foi a Previ (o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), que tinha participação nas duas, que arquitetou a junção.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – Qual é o problema nisso tudo?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – O ruim é não haver critério. Ninguém diz como a sociedade vai ganhar com a participação forte do Estado nesses negócios. Até hoje, não recebi uma explicação convincente de por que se alocou tanto dinheiro no setor frigorífico. Falam em criar um campeão nacional, para exportar. Mas qual a vantagem? O que isso adiciona de empregos locais? Não sei. É preciso mais transparência. Se alocamos X para a Friboi, deixamos de alocar X para um projeto de prisão, de saneamento, de escola. Ninguém deu dinheiro para a Friboi, o dinheiro está investido. Há quem diga que é lucrativo. O governo não tem de ver o que é lucrativo, mas o que é prioritário socialmente.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – Os donos do poder após as privatizações continuam os mesmos?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – São os velhos donos. O governo saiu de uma participação mais direta para uma participação indireta. A própria Vale, privatizada, tem sofrido pressão política via relações societárias com fundos de pensão.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – O capitalismo brasileiro depende dos fundos de pensão?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – O capitalismo brasileiro, que chamo de “capitalismo de laços”, tem duas características principais. A primeira são as aglomerações. Um conjunto de empresas, como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, o grupo La Fonte (do empresário Carlos Jereissati), forma consórcios. A segunda é que a ponte entre esses grupos é feita por atores governamentais: BNDES, Previ, Petros, Funcef. O processo de privatizações trouxe ganho de eficiência em alguns setores. Mas o modelo escolhido para fazer as privatizações, desde a Usiminas, em 1991, é esse modelo de juntar pessoas e articular atores governamentais.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-style: italic;">"Precisa ficar mais fácil para um novo empreendedor</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-style: italic;">despontar sozinho, sem recorrer ao Estado"</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – Se a ideia de privatizar é tirar o Estado do mercado, por que os fundos e o BNDES participaram do processo?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – Quem fez as concessões e as privatizações diz que era necessário aglomerar, senão os empresários não teriam capital para bancar as aquisições. E os fundos e o BNDES eram uma forma de entrar com dinheiro e tornar a participação nos leilões mais atraente. No limite, o Estado emprestava dinheiro para que esses empresários comprassem as empresas do próprio Estado. Isso não é necessariamente um problema. O problema é que não se estabeleceu um isolamento político do processo. Então, a toda hora, o governo fica incitando esse pessoal a entrar em consórcios. Estamos vendo isso com Belo Monte e o trem-bala.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – Se o governo empresta dinheiro e faz pressão para a compra das estatais, o processo de privatização não se concluiu?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – É uma privatização híbrida, o Estado mantém seu pezinho ali. O processo de privatização não muda a matriz institucional, as regras do jogo do país. As relações que já existem continuam.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – O que o senhor sugere?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – Um choque institucional para reduzir os custos de intermediação de empresas. No Brasil se demora para abrir empresa, há pouco crédito para o setor privado, pouco se fez para criar um mercado privado de dívida de longo prazo. A própria intromissão forte do BNDES reduz isso, dando recursos a empresas que poderiam captar de outra forma. É preciso ficar mais fácil para um novo empreendedor despontar sozinho, sem recorrer ao Estado. Não acredito que essa feição de capitalismo de laços vá acabar. E talvez nem precise. Mas é preciso que esses laços se renovem mais rapidamente.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – A abertura de capital das empresas em Bolsa não contribuiu para isso?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – A princípio, seria um caso de renovação. Mas, quando você vai olhar, isso não aconteceu. Houve uma entrada de investidores financeiros, mas eles não pegaram o controle das empresas. O governo participou de vários eventos de abertura de capital. Surge um Eike Batista, por exemplo, com novas empresas, mas rapidamente ele é visto falando que o BNDES é o melhor banco do mundo...</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – De um governo para outro, mudam os atores desse capitalismo de laços?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – Não. Em geral, eles permanecem os mesmos. Não é uma questão partidária, ideológica, mas estrutural.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">ÉPOCA – Não houve então nenhuma ruptura entre os governos FHC e Lula?</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Lazzarini – Não. Talvez, no Lula, essas iniciativas de concentração de empresas tenha aumentado um pouco, até porque foi para o BNDES o (economista) Luciano Coutinho, que tem muito essa cabeça de criar campeões nacionais, grandes empresas. Mas é um equívoco dizer que FHC é privatista e Lula estatizante. Não se pode dizer que um governo seja privatista quando a entidade que vai coordenar a privatização é um banco público e há um monte de atores governamentais no capital das empresas. A participação do governo caiu diretamente, mas se irradiou por outras empresas.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Fonte</span>: Revista Época, nº 665.</span><br /><br /></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-42126917709232564732010-11-29T18:00:00.000-08:002010-11-30T04:59:03.698-08:00Capital-Imperialismo<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TPRdeo7RQsI/AAAAAAAAAmA/w0N2_9VdmnQ/s1600/capital_imperialismo.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 162px; height: 200px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TPRdeo7RQsI/AAAAAAAAAmA/w0N2_9VdmnQ/s200/capital_imperialismo.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5545159822163395266" border="0" /></a><br />A historiadora Virginia Fontes lançou há pouco o livro "Brasil e o Capital-Imperialismo" (Fiocruz e UFRJ). No texto <a href="http://www.centrovictormeyer.org.br/attachments/177_O%20capital%20imperialismo-Virginia%20Fontes.pdf"><span style="font-style: italic;">O capital-imperialismo: algumas características</span></a>, o qual tomei conhecimento pelo site do <a href="http://www.centrovictormeyer.org.br/index.php">Centro Victor Meyer</a>, ela sumaria as teses teóricas principais do livro, basicamente procurando demonstrar um processo contínuo de "acumulação primitiva" - ao contrário de um fato histórico bem determinado -, implicando na despossessão de meios de produção, direitos sociais e mesmo da reprodução da vida e do código genético humano, colonizados pelo capital.<br /><br />No momento que há um regozijo generalizado pelos sucessos econômicos do país - abstração feita das consequências que esse "sucesso" proporciona e pressupõe, a saber, sobretudo, o subimperialismo brasileiro na região, travestido no mito da cordialidade - o exercício da crítica é bem-vindo - como disse certa vez o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, de nada serve partir das coisas boas de sempre, mas sim das novas e ruins.<br /><br />Fica a indicação do texto e do livro.<br /></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-69210343846243513802010-11-17T06:29:00.000-08:002010-11-17T06:33:53.471-08:00‘Lula consolidou o capitalismo e instrumentalizou o Estado no Brasil’<span style="font-size:85%;"> Escrito por Valéria Nader e Gabriel Brito, da Redação <br />12-Nov-2010</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">Com a confirmação no segundo turno da eleição de Dilma Rousseff, o país se prepara para viver a etapa pós-Lula, o pai dos pobres que deixou a presidência com consagradora aprovação, inclusive daqueles que um dia ameaçaram abandonar o país caso o operário chegasse ao Planalto.</span><br /><br /> <br /><br /><span style="font-style: italic;">Para analisar a vitória petista e o que se pode esperar do futuro brasileiro, o Correio da Cidadania entrevistou Ildo Sauer, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e ex-diretor de Petróleo e Gás da Petrobrás na gestão de Lula até 2007. Para explicar como Lula "consolidou a hegemonia do capitalismo sobre as relações sociais e de existência", vai às vísceras da política nacional, desnudando o seu funcionamento no "pós-mensalão" e a partilha das riquezas nacionais entre os mesmos setores privilegiados de sempre.</span><br /><br /> <br /><br /><span style="font-style: italic;">Para sustentar tamanha metamorfose em relação ao projeto original petista, Ildo aponta como Lula soube instrumentalizar o aparelho estatal, avalizando o apoderamento da máquina pública, a partir de inusitados formatos, por representantes de grandes grupos econômicos. "Entregar de 2,6 a 5,5 bilhões de barris de petróleo e uma hegemonia tecnológica do núcleo da Petrobrás ao Eike, sem nenhuma resistência, foi algo brutal contra o interesse público. Portanto, são vários formatos de privatização".</span><br /><br /> <br /><br /><span style="font-style: italic;">Ildo faz um importante alerta: a ‘nova cartada’ na ‘partilha’ do patrimônio público vincula-se ao Pré-Sal, a partir do ‘poder autocrático e unilateral do presidente’, ao lado da desmobilização e cooptação de grande parte do movimento social. Situação que remeteria a uma mistura entre os processos vistos no México - onde o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que ficou no poder entre 1917 e 1994, instrumentalizou a riqueza do petróleo - e na Argentina - com um sindicalismo na gaveta do Estado, cujo papel se restringe a dar legitimidade social ao governo, que, em troca, atira os restos do banquete em forma de assistencialismo.</span><br /><br /> <br /><br /><span style="font-style: italic;">Apesar de lamentar seu pessimismo ao final da conversa, e como alguém que participou diretamente da gestão Lula, o engenheiro não fez concessões para descrever as engrenagens da política brasileira, inclusive desvelando a futura esterilidade da Lei da Ficha Limpa. Terminou com uma autocrítica de quem partilhou dos sonhos dos anos 80.</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Como encarou o período eleitoral, os debates que foram levados a cabo, culminado com a vitória de Dilma Roussef nessas eleições?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: De certa forma, a campanha eleitoral acabou sendo resolvida em parte pela longa metamorfose pela qual o governo Lula passou. Logo em seu início, quando liderava um governo hegemonicamente do PT, veio a Carta aos Brasileiros, a fim de garantir algo que era razoável – estabilidade econômica, tranqüilidade social, pois se esperava um processo de profundas mudanças por parte dos mercados. Uma carta que, portanto, tornava o governo aparentemente aceitável para alguns segmentos como estratégia de transição.<br /><br /><br /><br />Evidentemente, todo mundo concordava com a necessidade de estabilidade da moeda, redução do processo inflacionário, já que o sistema capitalista de produção ainda seria hegemônico de qualquer maneira e por longo tempo, e isso tinha de ser mantido. Mas progressivamente, após 2003, 2004 e 2005 passarem tranqüilos, apareceu a ironia de o sucesso do Lula ser o anti-Lula, o avessso de si mesmo, o que foi percebido pelo mercado, pelo sistema financeiro internacional e pela burguesia nacional. Então, o anti-Lula, que de fato residia dentro do Lula, garantiu a estabilidade, sendo seu próprio fiador, à medida que revelou como líder aquilo que alguns já tinham percebido em seu entorno, mas que não estava claro: o partido passou a ser secundário, e a figura carismática de Lula ficou como fiadora das expectativas da burguesia, ao mesmo tempo em que era profundamente donatário e depositário das esperanças do processo construído ao longo de décadas em torno do PT, da mudança.<br /><br /><br /><br />O processo que ele conduziu foi o de garantir as expectativas de grande retorno ao capital financeiro, via juros, aparelhamento das empresas públicas, BNDES, para manter a taxa de investimento, numa transformação da estrutura produtiva brasileira que se manifestou em vários campos hegemônicos. Criou-se uma petroleira brasileira que faz sombra à Petrobrás – a OGX de Eike Baptista; a petroquímica ficou em torno do grupo Odebrecht; nas telecomunicações, após uma disputa quase de faroeste, com espionagem, dois ministros envolvidos, fundos de pensão, terminou por hegemonizar o grupo Telemar, encastelado no grupo Jereissati e Andrade Gutierrez, com a coincidência, ou não, de seu principal executivo ser amigo de infância da nova presidente; nas obras de infra-estrutura, o BNDES consolidou outros grupos econômicos com hegemonia no Brasil e exterior, nas áreas de agronegócio, carnes, frigoríficos. Há a Vale, que vinha do governo FHC, mas no fundo o Lula criou um monte de Vales; instrumentalizou os fundos de pensão, as estatais, o BNDES e outros bancos para financiar tais ações. E mais ainda: hegemonizou um protagonismo na África, América Latina, de grupos econômicos como vendedores de equipamentos, obras de infra-estrutura, hidrelétricas, rodovias e outros projetos financiados pelo BNDES. Uma espécie de sub-imperialismo.<br /><br /><br /><br />Com isso, a agenda do PSDB - a chamada social-democracia que na prática implementou todos os cânones do neoliberalismo hegemônico dos anos 90 - foi seqüestrada pelo Lula. Lula seqüestrou a agenda da burguesia, mantendo e ampliando os espaços abertos pelo governo tucano, e ao mesmo tempo se manteve depositário da esperança de um processo longamente construído.<br /><br /><br /><br />Assim, nestas eleições, havia pouco espaço para uma candidatura legitimamente de esquerda ser ouvida pelas bases, pois ainda há toda essa herança construída de esperança e transformação, ainda formalmente depositada pela população no PT. Isso é demonstrado pelo voto. De onde veio a grande vitória do governo? De regiões que antigamente eram chamadas pelo depreciativo nome de grotões. Mas hoje não existe esse tipo de coisa na democracia, os votos têm o mesmo valor.<br /><br /><br /><br />É bom observar tais ondas da percepção política. Na ditadura, o MDB, que liderou a resistência eleitoral a ela, se tornou hegemônico nos grandes centros urbanos, progressivamente encurralando a ARENA a regiões periféricas. Veio o PT e o solavanco da social-democracia, varrendo o PMDB pra periferia e tomando seu espaço nos centros urbanos. Agora, é interessante ver o misto: a hegemonia do PT voltou a essas regiões periféricas, com menor grau de desenvolvimento e acesso ao processo de consumo e renda.<br /><br /><br /><br />Enquanto isso, criou-se nos grandes centros a onda verde, do discurso ambiental, de sustentabilidade, mas sem conteúdo fortemente social, problema básico do país. E ao mesmo tempo, veio o ressurgimento do discurso conservador - numa social-democracia, do ponto de vista teórico, expresso pelo PSDB. No limite do pouco que PT e PSDB expressam programaticamente, o PT em tese é social-democrata, mas muito mais operador da máquina – levou-nos a um discurso um pouco mais populista contra outro um pouco mais elitista, com pequenas nuances na forma de abordar o Estado. Não vejo muita diferença entre privatizar uma empresa ou instrumentalizá-la em favor dos interesses privados. Portanto, nesse sentido, os projetos são parecidos, tanto que não geraram entusiasmo.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Os votos nulos, brancos e abstenções nesta eleição são significativos deste quadro que o senhor ressalta, de mais semelhanças do que diferenças entre os blocos de poder representados por PT e PSDB?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Sim, é importante notar, para simplificar essa análise inicial: os votos brancos, nulos e abstenções atingiram 28%, dentro de um eleitorado de 135 milhões. O candidato que ficou em segundo, teve 32%; 32 mais 28, já se vão 60%, enquanto os restantes 40% ficaram com a candidata vencedora. De modo que esse é o quadro resultante da longa metamorfose do projeto que nasceu socialista e progressivamente virou gestor dos interesses da burguesia nacional, do setor financeiro, industrial, do setor contratista de obras públicas, expressos no Brasil e no exterior. A grande diferença para o PSDB é que o PT ainda conta com a enorme confiança e esperança dos setores mais distantes, das cidades mais periféricas e mais pobres. O futuro mostrará, no entanto, as semelhanças entre ambos os partido, à medida que o debate evoluir e isso for decantado, com a transparência e capacidade de mobilização aparecendo. Os movimentos sociais têm uma clara identificação histórica, assim como as regiões que citei, com o PT. O movimento ambiental se ancorou na Marina, mas se dividiu. Esse é o quadro brasileiro.<br /><br /><br /><br />Para definir, o governo Lula foi aquele que consolidou as relações sociais de existência e de trabalho capitalistas com a hegemonia capitalista no país. Até Lula chegar ao poder, havia a dúvida se aqui poderia nascer um experimento de caráter social-democrata, mas profundamente transformador, que apropriasse socialmente os excedentes econômicos provenientes das rendas, com controle público sobre o petróleo, telecomunicações, potenciais hidráulicos, sobre tudo que é patrimônio da nação, inclusive a terra, cujo resultado econômico seria apropriado para fins públicos. Mais do nunca, vemos uma privatização e internacionalização da terra; ao invés de fazermos a reforma agrária, nós estamos internacionalizando cada vez mais o agronegócio e o acesso à terra.<br /><br /><br /><br />Portanto, o governo Lula foi o que consolidou o capitalismo no Brasil, gerando a tal falta de diferença na campanha.<br /><br /><br /><br />Era nítido que todos procuravam mostrar quem tinha feito mais disso ou daquilo no passado. Mas não se discutiu a reforma da educação, necessária, com conceito e amplitude, horizontalização; não se discutiu a reforma agrária, que ficou escondida; não se discutiu a reforma urbana, a questão da moradia, do planejamento, abarcando onde as pessoas vivem, trabalham, circulam, enfim, a mobilidade de um transporte público de qualidade; não se discutiu a questão da reforma da saúde, e não há um brasileiro que queira estar submetido ao nosso sistema de saúde público, muito bem concebido e mal implementado. Ninguém deseja circular nos transportes públicos nas grandes metrópoles; ninguém acredita que a proteção ambiental hoje, da qualidade do solo, ar e água nas cidades e em termos globais, seja aceitável; ninguém está satisfeito com o volume de investimento em ciência, tecnologia e pesquisa.<br /><br /><br /><br />E, no entanto, o país parece feliz, o que é um paradoxo. De onde vem isso? Creio que da pequena sensação de bem estar, promovida por uma conjuntura econômica, externa e interna, favorável.<br /><br /><br /><br />Com a situação pós 2ª. Guerra, a visão cepalina da economia, de Celso Furtado e tal, denunciava o subdesenvolvimento em parte como produto da deterioração dos termos de troca, em que a produção primária – essencialmente minérios, agricultura –, por ser de baixo grau de manufatura, exportada pelos países latinos, se defrontava com o enorme valor atribuído às importações de produtos de maior conteúdo tecnológico e industrializados.<br /><br /><br /><br />Houve uma reversão desse processo comandada a partir do dinamismo da economia chinesa, que passou a ter a necessidade do afluxo de alimentos, matérias-primas etc., para poder incorporar 40, 50 milhões de chineses todos os anos ao processo modernizado de produção, saindo da atividade camponesa, braçal, de baixo nível de apropriação energética, para o nível de produção industrial urbanizada. Portanto, acho que essa situação da China e da Ásia comandou tal transição, fazendo sua revolução industrial e urbana, iniciada nos anos 70, com uma grande quantidade de empresas estatais planejando estrategicamente e implementando. Na China, a renda da terra não existe. Os solos urbano e rural pertencem ao Estado. Assim, o preço da terra e da moradia, como custo de reprodução da força de trabalho, são bem menores, propiciando o acúmulo de enormes excedentes.<br /><br /><br /><br />O dinamismo chinês, e em parte indiano também, permitiu, mesmo com a crise de 2008 que afetou Europa e EUA, que não se afetasse a valorização progressiva dos produtos primários brasileiros. Porém, ao mesmo tempo, assistimos à deterioração da nossa balança de pagamentos, porque a taxa de câmbio é muito valorizada em função da alta taxa de juros, devido à necessidade de atrair dólares para nossas reservas – as quais, por si só, já custam muito, pois implicam em ampliação da dívida pública interna para a compra e manutenção dessas reservas, com um custo de 12% ao ano sobre os 270 bilhões de dólares de reservas. A dívida pública não pára de crescer desde o governo FHC, já tendo alcançado R$ 2,2 trilhões, parcela significativa do PIB, de maneira que tal quadro deixa a preocupação com a desindustrialização futura.<br /><br /><br /><br />De qualquer maneira, tal período de prosperidade comandado por essa conjuntura internacional foi determinante para a pequena sensação de bem estar, que permitiu dar um pouquinho mais para os que nada tinham, e muito mais para aqueles que já tinham muito, configurando a partilha do governo Lula, consolidando definitivamente as relações sociais capitalistas e abafando a expectativa de um movimento social que propunha outro quadro. É isso que foi revelado. O discurso tradicional da esquerda foi seqüestrado, e de certa forma também foi seqüestrada a prática da direita. E o Lula, com uma mão de cada lado, emplacou sua candidata, ainda que de forma muito mais apertada do que podia supor a dita popularidade de seu governo.<br /><br /><br /><br />Assim, o que vejo no próximo governo é o aprofundamento do capitalismo nessa trajetória e, a partir daí, talvez, um espaço para o novo debate. É a minha percepção.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Portanto, Dilma levará adiante o legado de Lula, reforçando as tendências neoliberais, como a continuidade da política econômica, ao lado das tendências sociais/assistenciais do governo Lula, com eventual ampliação do Programa Bolsa Família.</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: É muito claro. Mais assistencialismo, mais Bolsa Família, quando o caminho necessário para mudar a sociedade é criar autonomia, promover independência, que só se faz com as reformas da educação, urbana, da mobilidade, agrária, da infra-estrutura... Falo reforma, não revolução; reestruturar o que existe, dando novos sentidos, direção e conteúdo.<br /><br /><br /><br />Como o produto social é único no PIB, é preciso escolher em que direção vão os recursos, que caminho teremos. E o que está aí é mais do mesmo. Grande parte da poupança é canalizada pelos bancos públicos, e muito pouco se reverte em investimento público, como se viu, por exemplo, no programa Minha Casa Minha Vida. Todos reconhecemos a enorme carência da habitação, mas não só isso. Além de casa, as pessoas precisam de transporte, escola, morar menos distantes do trabalho... A reforma urbana tem de ser mais ampla.<br /><br /><br /><br />E o que esse programa engendrou? Um enorme movimento de especulação imobiliária, em que a renda do solo urbano acabou enriquecendo pequenos grupos especuladores. E mais ainda: hoje temos uma longa ironia sobre a promessa de ‘minha vida’ e ‘minha casa’. O que se criou? Dinheiro dos fundos públicos, dos fundos de garantia, do FAT, que são poupanças mandatórias da força de trabalho e que recebem uma remuneração abaixo do valor capitalista, de 3% ao ano de juros sobre o fundo de garantia, sendo apropriado pela Caixa, que empresta esse dinheiro muitas vezes a empresas estrangeiras, muitas das quais fracassaram no mercado imobiliário dos EUA e agora estão aqui. Elas tomam esse dinheiro, compram a força de trabalho dos trabalhadores, construindo a casa com a força de trabalho e a poupança deles, com mediação dos bancos e lucro enorme, terminando por criar uma dependência de 20, 30 anos do trabalhador com as prestações sobre aquilo que foi uma valorização extraordinária do capital originalmente do próprio trabalhador, que o poupou compulsoriamente via fundo de garantia.<br /><br /><br /><br />Nesse caminho, o que houve? A especulação do solo urbano, que explodiu de preço, um sobrepreço enorme no custo do trabalho incorporado aos insumos e mão-de-obra. Aí se expressa o verdadeiro caráter capitalista desses projetos ditos sociais. Há outros modelos, desde os mutirões, cooperativas e uma estrutura planejada, com o planejamento urbano retomado da localização urbana em relação à escola, trabalho, planejando também a mobilidade.<br /><br /><br /><br />De repente, isso permitiria não soltar da garrafa com tanta força o espírito da especulação e da acumulação quase primitiva sobre o solo urbano e a construção. Digo isto pra mostrar como projetos que ancoraram grande parte da aprovação ao governo são na verdade mais do mesmo, significando cada vez mais acumulação capitalista para quem controla os meios. E, claro, enquanto a economia continuar crescendo, haverá uma sensação de bem estar.<br /><br /><br /><br />Podemos dizer que temos um enorme peleguismo político, para não chamar de populismo, paternalismo, agora maternalismo. A única solução é a busca de um grande debate de projeto nacional, sobre quais as propostas concretas para as reformas citadas anteriormente, os planos de proteção ambiental e, acima de tudo, para o setor do mais extraordinário excedente econômico: as rendas do petróleo e o setor de energia, temas varridos pra baixo do tapete, que só voltaram à campanha após provocações de gente externa, que mostrou claramente que o rei estava nu, pois ambos se acusavam de privatistas e ambos estavam corretos.<br /><br /><br /><br />O governo FHC iniciou a entrega do petróleo como um todo, dando razão a ambos em suas acusações – e não se pode diferenciar o petróleo do Pré-Sal daquele das demais camadas, pois são qualitativamente pouco distintos, com diferença raramente acima de 10% em seu valor; portanto, tanto faz 60 ou 70 dólares no preço do barril, pois de toda forma são valores astronômicos. O governo Lula exerceu por muito mais tempo, e talvez com mais gosto, o modelo de concessões criado por FHC, e no final propôs uma mudança já obsoleta, a da partilha, ao invés de um novo modelo.<br /><br /><br /><br />O que está no horizonte (aliás, a grande ameaça política que vejo ao país)? Se olharmos as experiências de México e Argentina, vemos dois paradigmas que inspiram cautela com o futuro. Se houver um crescimento econômico, a tendência é que a "pax lulensis", da mão direita grande e esquerda pequena (mas que afaga o coração e a consciência dos mais humildes com redistribuição), se mantenha e o capitalismo floresça no Brasil. Se houver crise, o governo talvez lance mão de um recurso que remete à história mexicana... O México fez uma revolução muito sangrenta no início do século passado, que se institucionalizou no chamado processo da Constituição de 1917; em 1938, a nacionalização do petróleo e a criação da Pemex passaram a gerar um fluxo de excedente econômico comandado pelo Estado e pelo PRI, que o permitiu ficar no poder de 1917 a 1994, quando, por corrupção, exaustão e crise econômica, acabou varrido por um governo mais conservador ainda. A partilha do excedente econômico do petróleo mexicano é algo que está no horizonte e merece atenção, porque o Projeto de Lei que tramita no Congresso delega ao presidente ouvir do conselho nomeado também por ele a definição sobre quase tudo que será feito; o ritmo em que o Pré-Sal será colocado em partilha, quem vai participar do processo e quem vai dirigir tudo.<br /><br /><br /><br />Nesse sentido, a experiência mexicana é o exemplo de como a apropriação do lucro do petróleo, comandada pelas instâncias do governo, permitiu uma partilha entre as elites, fortalecendo-as e mantendo-as no poder. Ao mesmo tempo, temos um movimento sindical no Brasil que perdeu seu rumo classista histórico; teve um período de discurso socialista de enfrentamento ao capitalismo, mas busca hoje a conciliação, à semelhança da Argentina, onde a principal tarefa das grandes centrais e sindicatos - que se enfrentam mutuamente, mas se abrigam no governo, que lhes dá recursos, espaço político, mantendo a corrente sindical ativa - é conferir uma aura de legitimidade social aos governos.<br /><br /><br /><br />Portanto, se olharmos as duas experiências, podemos vislumbrar a enorme dificuldade, mesmo em situações de crise daqui pra frente, que a esquerda brasileira terá em se reorganizar, pois está claro que o atual governo não é mais de esquerda; seqüestrou boa parte do discurso de esquerda, mas sua prática é nitidamente conservadora.<br /><br /><br /><br />Dessa forma, é o desafio que sobra: compreender o que está em jogo, buscar, talvez, uma frente de esquerda e amplificar os debates públicos. Uma frente que, a exemplo de outras ondas, consiga se multiplicar, para, na medida em que as contradições ficarem mais claras, se agrupar em uma iniciativa política.<br /><br /><br /><br />Acho que a esquerda, com seus méritos específicos, está muito fragmentada, em muitos partidos. Creio ser hora de pensar, como saída para o debate, e o atual quadro de enfrentamento, numa frente de esquerda que abrigue tais partidos, abrindo discussões sobre todas as questões em jogo, elaborando propostas concretas em torno dessas reformas e de como apropriar socialmente os recursos, disputando-os com o governo de turno. Certamente, se não houver tal pressão, a partilha será pior ainda, e creio que esse é o nosso papel.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Acredita, de todo modo, que a futura presidente possa, de alguma forma, caminhar do foco mais assistencialista das políticas sociais sob o governo Lula – a exemplo do Bolsa Família - para um programa mais abrangente de distribuição de renda - incrementando, por exemplo, as políticas de valorização do salário mínimo e se contrapondo aos aspectos do projeto de reforma tributária, já em fase de discussão no Congresso, e que são prejudiciais à seguridade social?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: A campanha eleitoral deixou como ironia paradoxal um xeque-mate no governo que entra. A partir do momento em que a oposição conservadora propõe aumento do Bolsa-Família e do salário mínimo, o governo entrante não terá outra saída a não ser acompanhar a idéia. Paradoxal que tenha vindo do movimento conservador essa proposta de redistribuição. O alcance vai depender das contas públicas, da dívida pública e da taxa de juros extremamente elevada, promovendo uma dilapidação do valor do trabalho, na medida em que os impostos são arrecadados e encaminhados para bancar a usura do sistema financeiro, já que temos uma das taxas mais altas de remuneração financeira do mundo.<br /><br /><br /><br />Nos EUA, tem até um movimento em curso de aumento da liquidez com injeção de dólares a custo muito baixo. É uma tendência natural que parte significativa desses dólares saia, chegue ao Brasil, aprofunde a queda da taxa de câmbio daqui, aumente as reservas, ou venha fazer investimentos como comprar terras, desnacionalizar mais empresas na área econômica, eventualmente até para forçar o governo a abrir mais espaço a empresas estrangeiras na exploração do petróleo, quando o projeto devia ser o contrário.<br /><br /><br /><br />Devia se proceder a um maior conhecimento e delimitação das reservas e só produzir petróleo no ano para custear os investimentos das reformas da saúde, urbana, educacional, da infra-estrutura, mobilidade (inclusive de longa distância), agrária, viária, dos portos, da proteção ambiental, de ciência e tecnologia. E ficar com uma reserva de petróleo de valor debaixo da terra, não sendo administrada por uma oligarquia política que vai disputá-la a ferro e fogo dentro dos conceitos que descrevi antes. Não acredito que não haja nenhum investimento.<br /><br /><br /><br />Há uma pressão no modelo que o governo discute agora de promover uma rápida licitação dos contratos de partilha, para abrir espaço econômico de investimentos em plataformas e infra-estrutura, capturar finanças e converter tudo em dinheiro. Tirar o petróleo debaixo da terra e convertê-lo em dinheiro.<br /><br /><br /><br />Nesse processo, todo mundo vai ganhar. O governo vai acumular algum capital financeiro lá fora no fundo social, não se sabe em que moeda, porque todas estão em xeque hoje. Vão investir em títulos da dívida americana? Em euro, que não tem muita estabilidade, em função de sua credibilidade não estar ancorada em nenhum tesouro nacional (é uma confraria que tem uma moeda)? E os EUA estão em franca decadência. Em que moeda vamos verter o petróleo, em que país, na América Latina, África, EUA, Europa? É muito mais simples deixar o petróleo debaixo da terra e só produzir o volume necessário!<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: E controlar de verdade a exploração.</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: E, antes disso, saber quanto tem de reserva, pra saber em que ritmo produzir ao longo do tempo. Por duas razões: em primeiro lugar, para tirar de lá apenas o excedente econômico necessário ao financiamento do projeto nacional de desenvolvimento econômico e social nos paradigmas que acabei de citar; e, em segundo lugar, para poder participar. O governo brasileiro não pode criar motos-contínuos, que, uma vez assinados os contratos, vão cumprir as etapas automaticamente.<br /><br /><br /><br />Encontrou petróleo? Vão fazer o plano de avaliação, saber se é comercial, e, se for, vão começar a produzir e, o mais rapidamente possível, converter em dinheiro, no interesse daquele contrato. Isso se choca com a necessidade de ver qual o volume de reservas disponíveis para financiar as prioridades nacionais e, em segundo lugar, com o controle da participação brasileira no mercado internacional. Porque, sem o Pré-Sal do novo modelo, a produção anunciada hoje, só pela Petrobrás, prevê quase 6 milhões de barris por dia em 2020. Só por parte de outro empresário, que recebeu desse governo em 2007 o volume que agora já está entre 2,5 a 5,5 bilhões de barris, valendo de 27 a 55 bilhões de dólares como patrimônio, já se anuncia que em 2019 estará sendo produzido 1,4 milhão de barris por dia, sendo que a Petrobrás não produz 2 milhões atualmente.<br /><br /><br /><br />E vão exportar tudo que se refere ao que está fora do novo modelo do Pré-Sal, mas como parte do que FHC e Lula entregaram. O Brasil vai ser o 3º. maior exportador do mundo. Em primeiro lugar, vem a Arábia, com 10 milhões de barris/dia; depois a Rússia, com 8 milhões; o Brasil estará em mais de 5 milhões de barris possivelmente em 2020, enquanto os demais não passam de 4 milhões. Isso apenas com o que se tem hoje entregue somente a dois grupos, Petrobrás e OGX, leia-se Eike Baptista - fora os outros que estão entrando. E note bem que este grande empresário já resolveu ser parcimonioso. Deu 1 milhão de reais pra cada campanha, de Serra e de Dilma, dizendo ser necessário não ser mal tratado por nenhum dos dois.<br /><br /><br /><br />Desse modo, veja como é grave o risco da mexicanização. Uma enorme economia petrolífera, comandada por um governo na forma como vem se configurando: um condomínio de partidos e líderes com parca, digamos assim, capilaridade entre as forças sociais, e, ao mesmo tempo, sob pressão, do outro lado, dos grandes grupos econômicos, com enorme capacidade de influência.<br /><br /><br /><br />Para quem produz tantos bilhões de barris, e sabendo como é comprável o financiamento das campanhas eleitorais e a lealdade dos eleitos a esses interesses - dentro do conceito second life, do discurso público diferente da prática nas entranhas do poder -, este é o caminho.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Isso é o mais impressionante. Hoje em dia o sujeito afirma abertamente o que pode ser entendido, sem distorção alguma, como a ‘aquisição particular’ do mandato – ironicamente, privatização do próprio parlamentar. Paga-se a propina na campanha e alguns interesses privados são escancaradamente atendidos por sobre outros.</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Essa é uma parte das questões políticas e econômicas que se colocam, porque no fundo eu vejo as limitações, no atual estágio da sociedade brasileira, de um partido que no discurso mantenha a realidade, mas com propostas práticas. Veja que até agora só falei de reforma, não de revolução, pois não vejo espaço para tanto. Talvez não fosse um sonho, mas não vejo como possível. Nem essas reformas estão na agenda! Essa é a tragédia resultante da consolidação da hegemonia política.<br /><br /><br /><br />Por isso que PT e PSDB, que teoricamente teriam essa convergência social-democrata, mutuamente se excluem. Eles não querem um projeto, querem um espaço de poder, para manejar os recursos econômicos e serem gestores e líderes dessa partilha. Não há espaço para ambos fazerem a mesma coisa, que não é a reforma social-democrata. É gerir o capitalismo tal como ele está, com sua crueza, virulência, mascaramentos, contradições.<br /><br /><br /><br />Nesse sentido, o processo político brasileiro lamentavelmente está subordinado à hegemonia dos grandes grupos econômicos, que estão se convertendo em meros síndicos do grande condomínio econômico. Como disse, o governo Lula avançou ao consolidar grandes grupos brasileiros dos vários campos da economia.<br /><br /><br /><br />Consolidou alguns bancos, com fusões, principalmente após a falência de vários deles em 2008. Na área de eletricidade, o grupo Rede e a Camargo Correa ficaram hegemônicos na distribuição, grupos europeus e nacionais na transmissão e as estatais do sistema Eletrobrás foram convertidas em muletas voltadas a dar confiança às empreiteiras e ao capital privado. Tanto que a tarifa elétrica hoje é uma das mais caras do mundo ao consumidor cativo, e uma das mais baratas do mundo para os 600 consumidores privados do mercado dito livre, mas que na verdade é apenas usurpador. Na área da petroquímica, a Braskem se tornou hegemônica, com a Petrobrás servindo de âncora, por imposição do governo. Na área do petróleo, o caso mais notório é o da OGX, mas há outros grupos nacionais e internacionais crescendo muito aqui, na única das três grandes fronteiras mundiais do petróleo que lhes permite.<br /><br /><br /><br />Além disso, o grande patrimônio brasileiro hoje na área de petróleo é duplo. De um lado, os recursos naturais estão debaixo do sal e da terra, valendo quase o mesmo. A organização social capaz de convertê-los em riqueza quando necessário e a Petrobrás estão, ambas, sendo alvo dessa mediação da entrega. Como exemplo, a OGX, como já ressaltado, criada em meados de 2007 - informação já confirmada pelo governo -, com ajuda de ex-integrantes dos governos Lula e FHC, arrancou lucros estratégicos sem nenhuma resistência e ação do governo. E logo depois de comprar os blocos em novembro de 2007, vendeu 38% das ações por 6,7 bilhões de reais, 11 meses depois de criada.<br /><br /><br /><br />Portanto, ela já valia 17 bilhões e, ao fazer os primeiros furos, conforme previsto e denunciado previamente em 2009, já anuncia reservas de 2,6 a 5,5 bilhões de barris. E cinco bilhões de barris equivalem a tudo que o governo incorporou da Petrobrás pra aumentar seu capital, no valor de 42 bilhões de dólares hoje. O valor de mercado hoje seria dessa ordem, o que colocou um senhor como o mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo, tornando-o generoso em filantropia. Vai às favelas, duplica a generosidade do presidente da República, ao arrematar o seu terno de posse em um leilão por 500 mil. E ainda o devolve ao presidente, dobrando a aposta. Vai ao Teatro Municipal e vira mecenas da arte e cultura, com migalhas do que herdou num lance articulado nos bastidores do governo, que não reagiu.<br /><br /><br /><br />Esse é o indicador claro do risco que falo da articulação em torno do petróleo como mecanismo aglutinador de forças e recursos para manter a hegemonia político-eleitoral. É um exemplo concreto e aconteceu agora. Os mesmos atores estão vivos, reavivados e abençoados nas urnas.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Em entrevista ao Correio, o sociólogo Chico de Oliveira afirmou que, na medida em que o governo Lula tem consolidado no Brasil o ‘capitalismo monopolista de Estado’, chega a ser mais privatizante do que o de FHC. Ao mesmo tempo, o senhor ressaltou há pouco que não há muita diferença entre privatizar uma empresa ou instrumentalizá-la em favor de interesses privados, e que está se consolidando no Brasil uma partilha do espaço produtivo entre grandes grupos econômicos, entre eles Camargo Corrêa, Odebrecht, Eike Baptista, sob patrocínio do governo e com a ajuda do BNDES e dos fundos de pensão. Essas duas assertivas não estão bem associadas entre si?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Sim, e caso não haja uma resistência popular organizada, com capacidade de entendimento da dimensão política, compreendendo que uma onda de mudança hegemonizada pelo PT não mais está em curso - em função da metamorfose do partido –, corre-se um sério risco de se consolidar esse curso econômico.<br /><br /><br /><br />Mas os movimentos sociais ainda estão presos a isso, e é difícil recriar e mudar tal compreensão. É o desafio político: ter uma proposta e a capacidade de fazê-la compreendida em seus conceitos pelas bases, os verdadeiros interessados, ou seja, os trabalhadores, os grupos sociais, estudantes, todos aqueles excluídos da grande festa; aqueles que habitam a senzala da esperança, enquanto a Casa Grande faz a festa. E o padrinho, e também a madrinha, tem uma mão muito gentil na Casa Grande, enquanto a outra, pequenina, apenas acaricia o povo que mora na senzala.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: O grande patrimônio brasileiro na área do petróleo está, como dito pelo senhor, submetido a uma mediação perversa para entrega a grandes grupos econômicos. Haveria alguma chance, mínima que fosse, de a presidente eleita negociar a volta do monopólio do petróleo, revertendo a Lei 9478/97 de FHC – já que se trata de uma reivindicação de vários movimentos sociais, bem como de estudiosos, que consideram que a substituição do modelo de concessão pelo de partilha da produção não é satisfatório, já que o setor privado continuará com presença maciça e determinante?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Essa discussão tem dois papéis. Um de tentar de fato retomá-la, porque tecnicamente é possível se apropriar do excedente econômico do petróleo por vários meios: tributários, sobre a partilha, imposto de renda, há vários mecanismos. Mas o problema é que, embora possíveis tecnicamente essas várias apropriações, quem controla a reserva outorgada, quem controla a produção na partilha ou concessão, tem um poder econômico enorme na mão pra convencer o governo e o Congresso, como ficou claro nessa eleição e com o que já foi entregue. Isso está patente e claro!<br /><br /><br /><br />Por isso a defesa do monopólio, da necessidade de delimitar, certificar e conhecer as reservas, definir publicamente o debate do ritmo de produção, do que fazer e onde aplicar o excedente econômico, em que reformas sociais. E tal idéia pode se tornar hegemônica, pois também tenho percebido nos vários campos estudantis, de operários, profissionais liberais e até de empresários, que, quando compreendem o que está em jogo, refloresce a idéia da necessidade do controle político da sociedade sobre esse recurso. Não é questão que se delegue a qualquer governo eleito, pois o transcende. Portanto, esse é um discurso que acho que chama a atenção e permite mobilizar parte da sociedade.<br /><br /><br /><br />O outro ponto é a destinação, sem dúvidas. Todo mundo reconhece a necessidade da reforma da educação, da saúde, urbana, da mobilidade, da recuperação ambiental, do aprofundamento da ciência e tecnologia, de toda a infra-estrutura de circulação da produção nacional. É uma agenda que, conciliando os dois debates, pode mobilizar as forças. Mas não seria tarefa fácil. Até porque temos de reconhecer que qualquer governo tem um ano de graça, a não ser que aconteça um escândalo muito grande ou uma desgraça, o que é improvável.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Um governo Serra não seria, nesse sentido, ainda mais privatizante do que o governo Dilma poderá ser no que diz respeito ao nosso petróleo - afinal, ex-ministros do governo FHC criticam explicitamente a substituição do modelo de concessão pelo de partilha, sob o argumento de que o Estado não tem condições de levar adiante os investimentos astronômicos necessários ao Pré-Sal?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Eu não afirmaria isso porque acho que ambos foram privatizantes. O que mudou foi o instrumento, a modalidade e a configuração da privatização. Entregar de 2,6 a 5,5 bilhões de barris de petróleo e uma hegemonia tecnológica do núcleo da Petrobrás a um grupo privado, sem nenhuma resistência, foi algo brutal contra o interesse público. Portanto, são vários formatos de privatização.<br /><br /><br /><br />O que deve ser discutido é como o excedente econômico e a riqueza nacional são colocados a serviço das elites, e como poderiam ser colocados a serviço das reformas fundamentais na sociedade, pra criar a autonomia de todos os brasileiros.<br /><br /><br /><br />Não vou ser repetitivo, mas é que se desgastou muito o debate da educação, saúde, nas eleições. "Sou o gerentinho que vai fazer tantas APAS, AMAS, Escolas Técnicas, não sei o que...". Cadê o conteúdo do debate? O SUS como conceito é excelente, mas está às traças. Basta dizer que poucos brasileiros que têm condições de evitá-lo se submetem aos seus serviços. Lamentável, mas é a tragédia do Brasil. A primeira delas, a educação.<br /><br /><br /><br />Nesse sentido, são dois formatos semelhantes da mesma prática. Com nuances diferentes, mas conteúdo semelhante, e conseqüências também semelhantes. Interessante que tanto os grupos financeiros como empresariais são os mesmos, o que denota claramente que esse é um governo a serviço dos interesses dos grandes, como seria o outro, um com um estilo mais populista, outro mais elitista, o que é a grande diferença entre eles.<br /><br /><br /><br />Evidentemente, para o grande empresariado e a burguesia, o governo sucessor do Lula é melhor, pois tem mais aceitação popular, além da confiança de tais setores, o que se cristalizou nas eleições. Eles devem estar muito felizes, pois fizeram a aposta certa. Tudo que vier de fora de tal expectativa será da mobilização popular, o que é uma tarefa gigante que se coloca diante daqueles que ainda têm uma concepção de sociedade diferente da que hoje é hegemônica - não no discurso, mas na prática real.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Pensando no setor elétrico, citado pelo senhor, o governo Lula tinha entre seus objetivos iniciais uma reorientação do modelo do setor relativamente ao modelo privatista de FHC. Vários estudiosos entrevistados por este Correio confirmam sua avaliação de que esse objetivo foi alcançado de modo muitíssimo limitado, na medida em que continuam a prevalecer grandes consumidores e sua lógica de lucro, a descapitalização das estatais e a influência de interesses de poderosos setores eletro-intensivos sobre o governo. Como ficará, a seu ver, o setor elétrico sob um governo Dilma? Diante de suas conjecturas políticas, tudo indica que não será nada menos privatizante do que o seria um eventual governo Serra.</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Ela é a madrinha do que foi feito, eu dizia que ela criou o Bolsa-energia para o ‘mercado livre’, que valeu cerca de 20 bilhões de reais de 2003 pra cá... Por que haveria de alterá-lo? Eles têm tido alguns dissabores porque periodicamente aparece, como neste ano, a ameaça de garantia do suprimento. Exatamente porque o mercado livre não contrata transparentemente sua demanda a futuro, vivendo de especular, do que o governo entendia como sobras e que não eram, e sim energia firme, que custava capital e recursos às estatais, vendida como se fosse energia de sobra, secundária, sem garantia e segurança.<br /><br /><br /><br />Por isso, de vez em quando aparece, como agora, a idéia que chegaram a cogitar de operar todas as usinas de gás, e fora da ordem de mérito. Portanto, o consumidor cativo que paga, em beneficio dos livres, especuladores. Assim, nesse último ano até se chegou a cogitar operar as usinas a diesel, pois os reservatórios chegaram próximo ao limite mínimo de confiança. Em caso de crescimento econômico no ano que vem similar ao deste ano, podemos chegar ao fim de 2011 com muito risco, se a hidrologia dos dois anos acabar sendo desfavorável. O que mostra a instabilidade, pois a única reforma feita foi a da necessidade de contratação de longo prazo, uma proposta nossa, mas como veio junto da idéia de que parte do mercado não precisa registrar contratos de longo prazo, já veio fraudada no seu objetivo por conta dessa não contratação.<br /><br /><br /><br />O restante do modelo ficou igual, com algumas pioras, como a não recuperação das estatais como empresas autônomas, sendo colocadas de muletas de parceria com empreiteiras e investidores privados na transmissão e geração; continuamos privatizando os potenciais hidráulicos; aliás, não fomos capazes de escolher os melhores nos últimos anos, tampouco de fazer os estudos sociais, ambientais, obter as licenças, negociar de maneira civilizada com as populações atingidas. Nada disso foi feito, repetimos o que era feito desde os governos militares. Como ela (Dilma) comandou tudo, talvez um pouco mais distante a coisa ande melhor, mas não há uma expectativa muito positiva de que isso aconteça...<br /><br /><br /><br />E, de novo, como grande parte dos movimentos sociais atingidos por essas ações todas nos últimos momentos se posicionaram a favor dela, na falta de outra alternativa, chegamos a uma desmobilização diante do que vem por aí.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Dessa forma, a gestão do setor, um dos mais rentáveis de toda a economia nacional, é uma síntese do aparelhamento do Estado por interesses privados, além de uma pista de que tal modus operandi será mantido.</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: O setor elétrico foi, sim, colocado a serviço dos interesses do grande capital. O BNDES financia tudo, os empresários privados comparecem de um lado com a muleta da estatal e do outro lado no mercado cativo para garantir a compra, além da pequena porção que vai para a especulação do ‘mercado livre’.<br /><br /><br /><br />De forma que criamos um quadro onde a idéia anterior do PT de que o excedente econômico possível no setor elétrico (a diferença entre custo de produção e o valor na esfera do mercado da circulação na eletricidade), e mesmo em outros, como nas telecomunicações, poderia ser usado como alavanca para resolver as assimetrias na área das carências sociais, inclusive na infra-estrutura energética para todos, foi para as calendas. Fizemos o Luz Para Todos, com muita propaganda, mas nem todos têm luz, e muitos a têm precariamente. Além de muitos escândalos.<br /><br /><br /><br />As estatais foram canibalizadas pelo mercado livre e colocadas a serviço dos novos investimentos desejados pelas empreiteiras; deixou-se de fazer a manutenção, o que levou a dois apagões notórios: o da linha de Itaipu e outro no Nordeste, mostrando a precariedade em que se encontra a manutenção. Depois de 20 anos operando com plena confiança, Itaipu caiu em descrédito, operando abaixo do nível de projeto, usando usinas a gás para segurar, por falta de manutenção e, claro, gestão do setor. Eis o quadro advindo da submissão da gestão das empresas aos contratos que as empreiteiras demandam. As estatais têm poucos recursos porque venderam grande parte de sua energia muito abaixo do custo.<br /><br /><br /><br />Ademais, grande parte de suas gestões foi loteada entre interesses de base partidária, de despachantes de interesses empresariais e políticos, cuja demanda e atenção não eram voltadas à plena manutenção, confiabilidade e operação no nível máximo. Os gestores estavam lá, mas voltados a novos projetos, investimentos e a tais demandas políticas. Tanto que o sistema Eletrobrás tem uma rentabilidade abaixo do custo de capital médio, enquanto os grupos privados têm uma rentabilidade enorme no mesmo sistema produtivo. Os consumidores cativos pagam as tarifas mais caras do mundo, ao passo que alguns grupos privados e comercializadores têm à sua disposição a energia mais barata do mundo.<br /><br /><br /><br />Eis a contradição criada nesses oito anos de governo. Se não acontecer nenhuma tragédia - que é muito improvável, mas não inteiramente descartável -, a festa vai continuar.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: E Belo Monte, uma das jóias da coroa do PAC, mas tão criticada e combatida por ambientalistas e movimentos sociais pelos impactos ambientas e sociais, vai entrar nessa festa também?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Já está fazendo parte. Belo Monte é uma empresa concebida no governo militar e a essência do que se previu fazer naquele tempo foi executada agora. Assim como no rio Madeira, com as usinas Santo Antonio e Jirau, gestadas no governo FHC com a Furnas e a Odebrecht. Apenas partilharam uma das duas com outro grupo, pra não ficar tudo com a Odebrecht.<br /><br /><br /><br />De forma que, concretamente, há o processo de submissão desse espaço econômico, dos recursos naturais e da estrutura empresarial estatal, ao interesse da acumulação capitalista dos grupos privados. É a essência do que vem sendo feito.<br /><br /><br /><br />Tal lógica vale para o petróleo e por isso a afirmação de que o governo Lula é o que mais instrumentalizou, de maneira mais eficaz, com mais aceitação social, a submissão do espaço econômico dos recursos do Estado em favor da acumulação capitalista privada.<br /><br /><br /><br />É o que está em jogo. É nesse sentido que vai minha afirmação, e de muitos outros, de que o Lula consolidou o capitalismo e instrumentalizou o Estado no Brasil.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Correm especulações de que serão tomadas medidas fiscais duras já nesse fim de mandato de Lula, para evitar desgaste de Dilma em início de gestão. O que pensa a respeito?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Primeiro, é preciso ver que reformas são essas. Note que há reformas e reformas, e quem clama por elas quer reduzir direitos trabalhistas, sociais, previdenciários. É isso que está em jogo. São contra-reformas na verdade, o aprofundamento do modelo concentrador de privilégios e riquezas. É difícil avaliar, pois acho que o Congresso estará mais dócil, a não ser que a disputa pela partilha de cargos seja muito violenta.<br /><br /><br /><br />Mas o governo o tem ao seu lado hoje, embora nenhum partido tenha significado. Ou seja, está tudo pulverizado e todos buscam uma fatia. De maneira que, se a partilha for promovida no estilo anterior, vai ter uma maioria pra fazer qualquer coisa no começo do governo. Vai ser mais fácil a aprovação de projetos no novo governo, tanto que já se cogita concluir o modelo do Pré-Sal depois. Isso porque do Congresso atual sobra pouco; os derrotados têm expectativa relativamente baixa e os reeleitos estão olhando o futuro. Assim, no início do governo, vão tentar colocar as principais questões na mesa e resolvê-las na medida em que se consolidam as promessas de entrega da barganha.<br /><br /><br /><br />Não sei se me faço entender, mas é algo como "vamos fazer essa e essa reforma no começo e votá-las. À medida que vocês forem confirmando os votos, vamos confirmando o espaço no governo pra vocês". É um pouco jogo de gato e rato, porque ninguém mais confia em ninguém, uma desconfiança mútua generalizada.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Vão fazer troca de reféns.</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: É uma boa figura de imagem, é o que está em jogo neste processo político.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Quanto a estas facilidades referidas do novo governo no Congresso, Chico de Oliveira, na entrevista ao Correio acima citada, afirmou também que as bancadas majoritárias, e agora aumentadas, da base governista nas duas casas farão o próximo governo mais conservador do que o de Lula. O que pensa a respeito de tal idéia?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Creio que sim, porque será mais fácil trabalhar. E é preciso compreender o papel secundário que lamentavelmente o Congresso tem tido ultimamente, de mero carimbador. Grande parte da representação eleita se converte muito mais em despachante do interesse de grupos, muitas vezes com forte conteúdo econômico e até empresarial. Foram eleitos de forma genérica, com apoio de recursos e a profissionalização da campanha...<br /><br /><br /><br />Nesse sentido, entendo que o Executivo detém o poder real. O Congresso é um espaço de legitimação formal da democracia, mas os grandes debates nacionais estão em outros campos há muito tempo (no campo econômico), os quais o Congresso apenas legitima. Seus líderes buscam um tentáculo, algum espaço em órgão de governo, acima de tudo alguma estatal, onde poderão nomear o despachante de interesses e mediar e proteger o jogo econômico dos grupos que os apóiam.<br /><br /><br /><br />De maneira que novamente se manifestam as duas mãos. Acho que há uma figura de imagem muita apropriada do processo político do Brasil: o Second Life, ao qual já me referi, criado há algum tempo, em que o sujeito, além de cuidar de sua vida real, programa e vai comandando uma vida no computador. Eu temo que o típico agente político brasileiro tenha sua second life; uma pública, e a outra que fica nesse compromisso permanente, que não aparece, mas é com quem vive mais intensamente, o verdadeiro âmago do que ele faz: as articulações com o poder econômico. Ao mesmo tempo, tem a necessidade de aparecer diante de setores amplos da população como representante de algum interesse popular. Mas, na verdade, se expressa de um jeito ao público, enquanto, na articulação interna, inclusive em alianças interpartidárias na base do governo, busca avidamente nomear dirigentes de órgãos públicos, que por sua vez são colocados lá como mais que despachantes de interesse. Servem a essa correia de transmissão montada pra promover, de fato, a partilha daquele excedente econômico que cabe ao Estado e às empresas públicas gerirem. E as empresas de grande porte são muito visadas, porque direcionar contratos, organizar e legitimar esse processo é uma das tarefas. Tanto que grande parte da competência atribuída a dirigentes é a de ser o preposto político capaz de escapar dos órgãos de fiscalização e das áreas corporativas da empresa.<br /><br /><br /><br />Inclusive, e de certa forma, isso é uma tragédia que diminui um pouco o alcance da Lei Ficha Limpa. Porque se, de um lado, ela surgiu de um sentimento público contra a prática de ilícitos contra a economia popular e o patrimônio público, por outro lado, grande parte dos dirigentes políticos terceiriza e nomeia despachantes para praticar tais atos. Eles não os cometem mais diretamente, pois têm seus prepostos para tal.<br /><br /><br /><br />E ironicamente, em muitas corporações, já se criaram elites, que são como jogadores de futebol, cujo passe é comprado e vendido. São bem treinadas tecnicamente a serviço da nomeação política. Um exemplo notório foi com o ex-presidente Collor, cassado, capaz de ter um preposto, que nem conhecia de antigamente, que alugou o crachá de um técnico da Petrobrás para ser seu diretor da BR Distribuidora. É típico exemplo de como o alcance da Lei Ficha Limpa, efusivamente saudada, tem seu papel limitado, na medida em que a deterioração do papel político do Congresso, dos eleitos, faz com que estes não desempenhem papel direto, mas ‘apenas’ de influenciar diretamente, nomeando prepostos que nunca vão ser candidatos. Se forem pegos e condenados, o preposto lava as mãos. Esse é o processo político pós-mensalão.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: O que acontecerá e como reagirá um futuro governo Dilma, e os movimentos sociais, caso uma nova crise econômica bata às nossas portas?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Só vai ter recurso pra minorá-la, a não ser que bata profundamente e as contradições aflorem; aí pode ser difícil. Mas já passamos pela experiência do Jânio, de estilo voluntarioso, personalista, que renunciou; passamos pelo governo Collor, que tentou promover a partilha entre diferentes grupos econômicos, mas foi ejetado do processo, retornando agora nas asas do socialismo moreno e do caudilho do ABC... É difícil prever o grau de coesão e coerência. Enquanto houver o que partilhar no plano institucional e com os movimentos sociais...<br /><br /><br /><br />A nova cartada que está na mão com o modelo do Pré-Sal é o poder autocrático e unilateral do presidente, que pode ouvir um conselho nomeado por ele e tomar a decisão de quanto vai produzir e como gerar as expectativas em torno disso. É um elefante na cartola da presidente eleita. Volto a olhar para o México, sendo importante lembrar que, no período de hegemonia da Pemex, o petróleo valia pouco - o excedente era pequeno, na diferença entre custo e preço, pois sua apropriação se dava em outras etapas, não na de produção, como agora. Portanto, acho que o grande coelho da cartola será sempre a partilha do Pré-Sal. No caso é trocadilho, já que o modelo de partilha permitirá... a partilha - não só entre governo e produtores, como também entre os vários produtores. É um recurso de que o governo dispõe pra manter a correia de transmissão andando.<br /><br /><br /><br />Havendo uma degradação muito forte da chamada moralidade e probidade, já notoriamente degradadas, tal percepção talvez possa chegar às bases se a crise for muito violenta, sem que se consiga manter a pequena mão esquerda fazendo a redistribuição e um pouco de carícia. Talvez, a mão do Lula seja percebida por sua história; o pouco que ele dava aos pequenos provocava enorme sentimento de reconhecimento e esperança, o que talvez não venha pela outra mão.<br /><br /><br /><br />É difícil fazer previsão do que vai acontecer numa crise. As conseqüências reais aqui dentro vão depender da capacidade da esquerda em se reorganizar em cima de uma nova compreensão do que está em jogo, numa clara plataforma de reformas possíveis no atual estágio de compreensão e mobilização política. Organizar, criar um movimento mais amplo, buscar espaço nos sindicatos e movimentos e recuperar seu espaço de atuação.<br /><br /><br /><br />Aí, qualquer crise econômica lá fora vai se refletir numa possível mudança da trajetória política do Brasil. Do contrário, é mais do mesmo: mexicanização e justicialismo.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Pensando um pouco na nova equipe de governo, o que imagina da hipótese de a atual ocupante do cargo de diretora de Energia e Gás da Petrobrás (cargo no qual substituiu Ildo Sauer no segundo mandato de Lula), Graça Foster, ir para a Casa Civil?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Entendo que a Casa Civil sob um José Dirceu era uma Casa Civil com conteúdo político, isto é, tinha um ator com densidade, que operava nas articulações, negociações, em detrimento da hegemonia do próprio presidente. Quem cumpriu à risca os ditames de ser operador em campo, de segurar a máquina estatal, dominá-la, quem negociava com grau de gentileza maior conforme a nobreza do interlocutor nos estamentos da Casa Grande, e tratava com rudeza o povo da senzala, isto é, funcionários públicos, de estatais, era a Dilma. Criou um estilo que é a antítese do que dizem os manuais de gestão, mas foi operativamente, do ponto de vista político, muito instrumental ao Lula, que ficou preservado, tendo alguém que lhe era fiel e operava todos esses campos da maneira descrita, tanto que ele acabou premiando-a com a candidatura e apoio, carregando-a na eleição com seu prestígio.<br /><br /><br /><br />Para tal paradigma se repetir, talvez não seja impensável uma clone da ex-chefe da Casa Civil e atual presidente, no método e estilo, ocupando o espaço praticando os mesmos métodos. E seria alguém (Graça) ‘liberado’, de muito baixo conteúdo político, baixa densidade pessoal, sem história de liderança no partido, pois é um enxerto já da era da metamorfose petista plena, que chegou muito mais como operadora. Ter no seu entorno, para negociar as concessões aos demais partidos e grupos, alguém de mais densidade política talvez não seja a opção de quem quer manter a hegemonia, o comando a ferro e fogo. Melhor ter alguém que compartilhe sua personalidade, que execute a ferro e fogo o serviço necessário, para que a grande mediação seja feita pelo primeiro mandatário, que só intervém lá na frente, após mandar fazer as coisas.<br /><br /><br /><br />Foi assim que operou o Lula no pós-Zé Dirceu. Ele estava confinado ao núcleo duro do partido, pois até 2005 quem mandava no governo era o núcleo duro do PT. Três ministros e um presidente que pensavam quase igual: o da Casa civil, o das Comunicações, o da Fazenda e o da Secretaria Geral de governo. Os quatro ministros originários da articulação histórica do partido chefiavam o governo, formando quase uma junta. Mas ela foi degolada e o príncipe emergiu sozinho. Passou a usar subalternos para domar a classe política em seu entorno e promover a partilha, o que tornou Dilma conhecida como gerente eficaz, na medida em que executava à risca os acordos, independentemente dos princípios em discussão. Impunha-os e salvaguardava a figura do presidente.<br /><br /><br /><br />Esse é o modelo que está posto. Agora, vamos ver o superpríncipe – afinal, não há "rei morto, rei posto", há um muito ‘vivo’ que vai sobreviver - e depois também os comportamentos. Criador e criatura sempre têm conflitos.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Acredita que, conforme dita o padrão histórico, Dilma poderá se voltar contra Lula? Ou ela veio com a serventia de possibilitar a volta de Lula em 2014?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Depende da conjuntura. A natureza intrínseca do processo levaria a uma possibilidade de afirmação definitiva de que Lula tem a última instância, o poder máximo. Só que exercê-lo às vezes exige uma conjuntura política, articulação, e de vez em quando há erros de avaliação.<br /><br /><br /><br />A tendência natural seria essa. Mas ninguém aceita de bom grado ser um preposto ocupando o posto máximo. É estratégia de jogo de poder. É melhor ler Maquiavel pra explicar o que vem por aí, ele é capaz de explicar melhor que eu.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Lula, como os jornais noticiam, "sugeriu" a Dilma que mantenha Meirelles, Guido Mantega e o restante da sua equipe econômica em seus lugares. Dilma vai acatar as sugestões de Lula? No geral, o que o senhor espera da montagem do novo staff? Haverá um arco de líderes e ministros dos mais variados matizes, como fez Lula?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Acho natural que sim. Aquilo que deu certo tem tudo pra ser mantido - a grande mediação. Assim como as questões do comando do governo, e de toque pessoal, de hegemonia interna, ou do comando da Casa Civil com alguém que seja um fiel executor de tarefas, mais do que um articulador de grande porte.<br /><br /><br /><br />No restante, o governo tem de afirmar que ele vem para ser a continuidade do que já está aí. E, portanto, todos os compromissos com taxa de câmbio, juros altos, toda a lógica que prosperou e fez o que fez prosseguirá, de modo que não há muito a esperar com relação à mudança. Pode até trocar o nome do ator, mas o papel a ser exercido é o mesmo.<br /><br /><br /><br />A partilha está aí na configuração de toda a equipe, tendo de ser um pouco ampliada, uma vez que o equilíbrio eleitoral é um pouco maior; são quase equivalentes PT, PMDB, PSB e os outros que estão lá, o que aumenta o poder de mediação do príncipe, ou da princesa, que em última instância é quem poderá arbitrar o dote que caberá a cada um.<br /><br /><br /><br />Trata-se disso, partilha dos dotes. Este é o socialismo! Não o que criamos desde os anos 80, na fundação do PT. Trinta anos depois, vemos o socialismo: a socialização dos espaços do governo entre os grupos políticos, que por sua vez estão lá subservientes a interesses em geral empresariais, do capital, não ao que diz o discurso, voltado aos movimentos sociais. A eles, as migalhas.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Diante do quadro geral aqui traçado, qual a sua opinião quanto ao apoio que a candidata petista acabou por angariar junto à esquerda e aos movimentos sociais - estes mesmos que partilham as migalhas! -, especialmente no segundo turno? Acredita que fará algum jus a este apoio?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Vendo que ambos, PT e PSDB, são muito parecidos, e com a imagem histórica do PSDB claramente vinculada ao neoliberalismo, apesar da trajetória de Serra - digamos que ele era a esquerda da direita, enquanto a Dilma a direita da esquerda -, havia pouca clareza para a esquerda e os movimentos sociais.<br /><br /><br /><br />À medida que o Serra assumiu uma agenda conservadora de direita, não deixou espaço aos movimentos sociais que se vêem como esquerda, a não ser se vincular à mão esquerda do Lula, deixando de olhar a mão direita, que também estava lá. Agarraram-se à mão a esquerda do Lula, sem se perguntarem o que a mão direita, a hegemônica, fará depois.<br /><br /><br /><br />Portanto, creio que no tabuleiro político faltou um pouco de percepção do xadrez, dado que propostas e práticas são muito parecidas. Aqueles que foram para a candidatura do PSOL ou ambiental no primeiro turno, ou anularam ou se dividiram no segundo; um pouco mais para o Serra, mas não o suficiente para consolidar a vitória eleitoral, mesmo com pouco mais de 40% dos votos do eleitorado. Grande parte dos movimentos optou por tapar as narinas e votar na candidata herdeira de uma história de esperança, especialmente porque o discurso exageradamente conservador do candidato tucano assustou. De certa forma, ele encurralou essas correntes entre a Dilma e o voto nulo.<br /><br /><br /><br />De qualquer maneira, evidencia-se um imenso vazio político. Falo assim apesar da agenda verde e nova no 1º. Turno, mas com baixo conteúdo social para responder aos anseios nacionais, e do discurso socialista, que não conseguiu se sustentar, em parte porque as regiões que mais se beneficiariam de tal discurso ainda estão prisioneiras do discurso da esperança e da mudança que vem da construção do PT. Uma construção que só agora, após uma longa onda de 20 anos, chega lá, onde talvez só chegue o discurso, porque nas práticas só temos tênues mudanças.<br /><br /><br /><br />O Bolsa Família, por mais necessário que fosse para extirpar a fome, que grassava, não é suficiente como processo político de criação de autonomia, participação efetiva, tornando os brasileiros mais iguais; ao contrário, aprofunda e cristaliza uma situação social e política inaceitável. Como instrumento de arrancada, é necessário. No entanto, cristalizá-lo cria uma situação política de dependência permanente do paternalismo, outra coisa invocada nessas eleições, de um lado pelo conservadorismo e de outro pelo populismo paternal e agora maternal.<br /><br /><br /><br />E veja como é contraditório: afirma-se uma mulher presidente como inovação, ao passo em que ela é apresentada como uma mãe, herdeira de um pai maior, criando não afirmação da independência, autonomia e igualdade entre mulheres, homens, regiões etc., mas aprofundando uma relação de dependência, herdeira de uma sociedade injusta, contra a qual foi criado um partido e muitos movimentos sociais. Eis o quadro.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Finalmente, ainda acredita em um projeto democrático-popular para o Brasil, nos moldes antes pregados, e abandonados, pelo PT, ou imagina que este seja um caminho que se tenha esgotado, devendo ser substituído por um outro projeto de nação?</span><br /><br /><br /><br />Ildo Sauer: Eu acho que o PT tal como criado não existe mais. É um partido convencional que busca tirar o máximo possível da herança memorial de esperança, ainda retendo em suas prisões, seqüestrado, o imaginário de mudanças dos movimentos sociais, com um discurso longa e arduamente construído, ainda que grande parte dos precursores hoje esteja longe. Aqueles que se apoderaram deste patrimônio de mobilização social ainda vão querer tirar o máximo de proveito. Como seus escrúpulos já não eram muitos antes, certamente não terão os mínimos agora, depois da metamorfose, buscando arrancar o máximo dessa etapa, que os próprios vêem como os estertores de um projeto que começou cheio de sonhos, solidariedade, esperança, transformação, e virou uma disputa quase igual à da Noite dos Cristais, dentro e fora do partido.<br /><br /><br /><br />Temos de fazer uma autocrítica. Muitos de nós partilhamos tal projeto, em detrimento de um outro mais ortodoxo, de exame das reais contradições que habitavam a sociedade brasileira, conseguindo estruturar movimentos sociais capazes de compreender estas contradições e articular um poder real. Um poder em que os líderes que ajudaram nas formulações e se afirmaram no debate dentro das bases fossem os líderes do projeto, criando estruturas orgânicas fortes e indissolúveis, capazes de chegar ao poder e exercê-lo.<br /><br /><br /><br />Fizemos o contrário: delegamos a agentes simbólicos, com baixo grau de comprometimento, uma agenda real de esquerda. E que puderam, nessa estrutura tênue de correias de transmissão, de laços de cobrança, numa estrutura de partido com forte inserção social, fazer tudo que vimos. E a figura principal foi a cabeça do projeto, que tinha um grande legado histórico, simbólico. Como disse alguém um dia, "a qualquer chefe de esquerda lhe falta o dedo, perdido por um operário na fábrica". Isso é altamente simbólico. Para qualquer líder de esquerda ocupar um lugar hegemônico, vai lhe faltar o dedo perdido na labuta operária. Esse forte simbolismo não se traduziu em compromissos concretos, com a compreensão das contradições da sociedade.<br /><br /><br /><br />É muito simbólica a afirmação do presidente da República de que ele "chegou lá". Parece que é um Pelé, um jogador ou modelo que chega longe na carreira. Como se fosse possível ter 190 milhões de Pelés, 190 milhões de Lulas, 190 milhões de Giseles Bündchen no Brasil, como se a estrutura social permitisse.<br /><br /><br /><br />Esse grau verbalizado no discurso mostra claramente a ausência de compromisso com a realidade das contradições dentro do âmago da sociedade brasileira, que é a estrutura social de produção e distribuição do produto social entre os grupos da população. Isso é que precisa ser rearticulado: aumentar as forças produtivas, produzir mais e garantir que a distribuição seja melhor. Mas não se leva a cabo tal tarefa com populismo, assistencialismo, paternalismo, maternalismo, pra onde tudo descambou.<br /><br /><br /><br />É a autocrítica que faço. Muitos intelectuais participaram do processo e, embora tendo uma compreensão maior, acabaram delegando poder. O símbolo maior foi o sindicalismo. Toda a base, que tinha um baixo entendimento do significado político do que estava em jogo, preferiu depois se servir do espaço de poder e dessa nova partilha com o sistema econômico dominante. E se subordinou a esse capitalismo, aqui no Brasil dependente, mas com um pouco mais de autonomia hoje em dia pela nova inserção internacional do país, criando até asas para um sub-imperialismo na África e América Latina.<br /><br /><br /><br />Foi o que fizemos, creio que deva ser essa a autocrítica. A estrutura partidária tênue que o PT representava, com facções e diversos grupos, permitiu que quem mais lançasse asas às alianças com a burguesia se tornasse a articulação hegemônica, terminando por desempenhar todo esse papel. É um aprendizado duro, mas vamos ver o que emerge daqui em diante.<br /><br /><br /><br />Meu último lampejo de esperança é que tudo que disse nesta entrevista não seja verdadeiro. Lá no fundo ainda sobra um pouquinho, um milionésimo, de esperança de que não seja.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.<br /><br />Fonte</span>: <a href="http://www.correiocidadania.com.br/content/view/5200/9/">Correio da Cidadania</a>.<span style="font-weight: bold;"><br /></span>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-85561671482315103982010-11-08T09:20:00.000-08:002010-11-08T09:24:27.245-08:00História das Lutas Sociais em Joinville<a style="font-family: trebuchet ms;" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TNgyNZQhjjI/AAAAAAAAAlk/N5kNiAUEpJg/s1600/PCB.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 200px; height: 143px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TNgyNZQhjjI/AAAAAAAAAlk/N5kNiAUEpJg/s200/PCB.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5537230947551907378" border="0" /></a><br /><p class="MsoNormal" face="trebuchet ms" style="text-align: justify; color: rgb(0, 0, 0); font-family: trebuchet ms;">O grupo de formação política do PSOL Joinville realizará o seu quarto encontro nesse ano. Acreditamos que a formação política é uma atividade prioritária e não deve ser relegada ao segundo plano.<br /></p> <p class="MsoNormal" face="trebuchet ms" style="text-align: justify; color: rgb(0, 0, 0); font-family: trebuchet ms;">O próximo encontro retomará um modelo utilizado em 2009 que consiste em chamar pessoas de outros grupos, organizações e histórias distintas das do PSOL, mas que, nesse diálogo, permitem repensarmos nossa prática, corrigirmos nossas metas e construirmos unidades políticas para a construção da sociedade socialista. </p> <p class="MsoNormal" face="trebuchet ms" style="text-align: justify; color: rgb(0, 0, 0); font-family: trebuchet ms;"> O historiador e militante político de direitos humanos, <span>Maikon</span> Jean Duarte irá fazer uma apresentação cujo título é <b>“<span style="font-weight: normal;"><span style="font-weight: bold;">Edgar Schatzmann: Fragmentos da história de uma pessoa extraordinária”</span>, resultado parcial de uma pesquisa sobre as lutas sociais em Joinville. </span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; color: rgb(0, 0, 0);"><b><span style="font-weight: normal;"> Edgar Schatzmann foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) entre 58 até metade da década de 80, participando ativamente das lutas sociais desse período em Joinville, inclusive contra a ditadura civil-militar, e sua história pessoal é representativa dos conflitos do período. </span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; color: rgb(0, 0, 0);"><b><span style="font-weight: normal;"> Usaremos como texto base o capítulo <i>Joinville e o Batalhão durante o regime militar</i> do livro <span style="font-weight: bold;">O Exército e a Cidade</span><i> </i>dos historiadores<i> </i></span></b><span>Sandra P. L. de Camargo Guedes, Wilson de Oliveira Neto e Marilia Gervasi Olska</span>, disponível <a href="http://www.4shared.com/document/QwIvCZYW/O_Exrcito_e_a_Cidade_-_A_Ditad.html" target="_blank">aqui</a> ou <a href="http://www.cipedya.com/web/FileDetails.aspx?IDFile=177515" target="_blank">aqui</a>. <b><span style="font-weight: normal;"><span> </span></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; color: rgb(0, 0, 0);"><b><span style="font-weight: normal;"> <span style="font-weight: bold;">O encontro será realizado no dia 27 de novembro, às 15h na sede do Partido Socialismo e Liberdade </span></span></b><span style="font-weight: bold; color: rgb(192, 192, 192);">(</span><a style="font-weight: bold; color: rgb(192, 192, 192);" href="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=jer%C3%B4nimo+coelho,+285,+joinville&sll=-14.179186,-50.449219&sspn=72.919271,113.027344&ie=UTF8&hq=&hnear=R.+Jer%C3%B4nimo+Coelho,+285+-+Centro,+Joinville+-+Santa+Catarina,+89201-050&ll=-26.302014,-48.842812&spn=0.00881,0.013797&t=h&z=16&iwloc=A"><i><span style="font-style: normal;">Jerônimo Coelho</span></i>, 285, centro</a><span style="font-weight: bold;"><span style="color: rgb(192, 192, 192);">)</span>.</span> Sinta-se convidada/o. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; color: rgb(153, 153, 153);"> <a href="http://psoljoinville.blogspot.com/2010/11/historia-das-lutas-sociais-de-joinville.html"><i>PSOL Joinville</i></a></p>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-13427422796432235422010-11-05T19:22:00.000-07:002010-11-05T19:33:06.190-07:00Livros militantes<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TNS9z9WZLuI/AAAAAAAAAlU/U50XMYWQZWQ/s1600/Trotsky.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 131px; height: 200px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TNS9z9WZLuI/AAAAAAAAAlU/U50XMYWQZWQ/s200/Trotsky.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5536258542284648162" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Estou vendendo os seguintes livros:<br /><br /><span style="font-style: italic;">Conheça Trotsky</span> escrito por Tariq Ali e desenhado por Phil Evans. O popular “Trotsky em Quadrinhos” narra a história do revolucionário russo de forma bem-humorada, mas não por isso “vulgarizada”. O autor Tariq Ali resenha de modo cuidadoso as posições de Trotsky – frequentemente amparado na ótima biografia escrita por Isaac Deustcher – e traça um painel introdutório sobre a vida e obra do revolucionário.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Preço: R$6,00.</span><br /><br /><a href="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TNS-GJuzLqI/AAAAAAAAAlc/UESc7Tvob-A/s1600/Thalheimer.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 132px; height: 200px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TNS-GJuzLqI/AAAAAAAAAlc/UESc7Tvob-A/s200/Thalheimer.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5536258854845886114" border="0" /></a><br /><span style="font-style: italic;">Sobre o Fascimo</span> de August Thalheimer é uma publicação do Centro de Estudos Victor Meyer. É uma coletânea de escritos do marxista alemão Thalheimer, líder do PC Alemão quando da revolução de 1923 e ferrenho crítico da linha política stalinista do “social-fascismo” (igualando social-democratas e fascistas, destruindo a possibilidade de uma frente antifascista e aplainando o caminho ao nazismo). O volume contém ainda duas introduções (de Victor Meyer e Eric Sachs) sobre a importância teórica de Thalheimer e sua influência na criação da Política Operária (POLOP), organização da esquerda brasileira na década de 60.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Preço: R$15,00.</span><br /><br />Ambos saem por <span style="font-weight: bold;">R$20,00 </span>(mais eventuais postagens). O contato para venda pode ser feito via o e-mail jarivaway arroba gmail ponto com .<br /><br />Saudações.<br /></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-58936187355814823352010-10-27T18:17:00.000-07:002010-10-27T18:19:31.811-07:001989, 2002, 2006, 2010<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">Valério Arcary</span><br /><span style="font-style: italic;">Historiador, professor do Cefet/SP e membro do conselho editorial da revista Outubro</span><br /> <br /> <br /><br /><br />• <span style="font-weight: bold;">Se uma pessoa te enganar ela merece uma surra.</span><br /><span style="font-weight: bold;">Se esta mesma pessoa voltar a te enganar quem merece a surra é você.</span><br /><span style="font-style: italic;">Sabedoria popular chinesa</span><br /><br />Poucos dias nos separam do segundo turno das eleições presidenciais de 2010. Pela quarta vez, desde o fim da ditadura, haverá segundo turno. A campanha pelo voto útil em Dilma Rousseff aumenta sobre os militantes e eleitores da esquerda anticapitalista. Sob a pressão de uma eleição ainda apertada, a direção do PT abraçou um discurso catastrofista que quer apresentar a disputa entre Serra e Dilma como um armagedon político. Serra seria do mal, Dilma seria do bem. Uma análise marxista abraça um método menos emocional: é uma interpretação da realidade orientada por um critério de classe. Muitas vezes na história os governos dos partidos operários reformistas foram mais úteis para a defesa da ordem que os partidos da própria burguesia: protegiam o capitalismo dos capitalistas. Não indicamos aos trabalhadores a escolha do carrasco menos cruel.<br /><br />Em 1989 os militantes que se organizam na corrente histórica que constituiu o PSTU chamaram a votar em Lula e o fizeram novamente em 2002. Já em 2006 e agora, convocam ao voto nulo. Duas indicações de voto diferentes. Por quê? Votamos em Lula em 1989, e em 2002, apesar de nossa discordância do programa do PT, porque a maioria dos trabalhadores confiava em Lula e não queríamos ser um obstáculo à sua eleição. Não tínhamos qualquer ilusão em um governo do PT, mas acompanhamos no voto, e somente no voto, a vontade do movimento da classe trabalhadora de levar Lula ao poder, depois de uma espera de vinte anos, alertando que estavam iludidos aqueles que tinham esperança que o governo iria romper com o programa neoliberal de ajuste dos governos de Fernando Henrique. O brutal ajuste de 2003/2004 nos deu razão. A manutenção da taxa de juros mais alta do mundo em 2010, ou seja, a remuneração fácil das aplicações dos rentistas, continua confirmando nosso prognóstico.<br /><br />E agora, como em 2006, porquê não votaremos em Dilma, se a maioria do movimento organizado dos trabalhadores deseja derrotar Serra? Porque nos últimos oito anos o PT governou o Brasil ao serviço do capitalismo. Os trabalhadores sabem, também, que Lula governou ao serviço dos banqueiros, mas acham que não era possível uma política de ruptura. Os trabalhadores, em situações políticas de estabilidade da dominação capitalista, não têm expectativas elevadas, ou seja, não acreditam senão em reformas nos limites da ordem existente. Não acreditam que é possível porque perderam a confiança em si mesmos, portanto, na força de sua união e de sua luta.<br /><br />O papel dos socialistas não pode ser o de reforçar essa prostração político-social, mas, ao contrário, o de incendiar os ânimos, inflamar a esperança, e combater a perigosa ilusão de que é possível regular o capitalismo. A tarefa daqueles que defendem o programa socialista consiste em demonstrar para os trabalhadores que era e é possível ir além. Era e continua sendo possível desafiar a ordem do capital. Nas ruas da França milhões de pessoas estão nestes dias impedindo Sarkozy de governar, e provando que a força da mobilização popular pode derrotar o capital.<br /><br />O argumento simples da direção do PT é o mais eficaz, mas, também, politicamente, o mais infantil: Serra e Dilma são diferentes. É verdade. São, também diferentes do que eram décadas atrás. Muito diferentes. A Dilma que se uniu à resistência armada à ditadura merece respeito. O Serra presidente da UNE que foi para o Chile viver o exílio, também. Mas mudaram e para muito pior. São hoje, cada um à sua maneira, irreconhecíveis com o que foram na juventude.<br /><br />Nos dizem que, apesar de tudo, Serra e Dilma não são iguais. Não obstante, isso não demonstra que Dilma mereça confiança. Essa opinião não é somente nossa. Não pode ser ignorado que as diferentes frações burguesas financiaram os dois no primeiro turno. Os instintos de classe dos banqueiros, industriais, fazendeiros, rentistas são certeiros. Não por acaso foram, também, generosos com Marina. E nos ajudam a lembrar que não é um bom critério envenenar a polêmica política com a pressão dos curtos prazos. É sempre no tempo de um presente imediato, às vésperas de mais uma eleição, que se agigantam as diferenças entre os candidatos, para encorajar o voto no mal menor, encorajando uma amnésia coletiva.<br /><br />Que sejam diferentes entre si, portanto, não prova que Dilma mereça um voto sequer de socialistas conscientes. Qual deve ser o critério para aferir as diferenças? A direção do PT e até os camaradas do MST argumentam que as posições sobre privatizações, ou sobre as políticas assistencialistas, ou sobre a repressão às lutas operárias e populares, ou até sobre a relação internacional com os EUA e as outras potências imperialistas justificam o voto em Dilma. Não estamos de acordo com estes critérios. Não entendemos porque é necessário escolher entre um projeto burguês mais estatista e outro mais privatista, se ambos são anti-operários. Esse é um bom critério para quem aposta em um projeto nacional desenvolvimentista, portanto, capitalista, mas não deveria orientar o voto de socialistas. Não entendemos porque é necessário escolher entre um projeto capitalista com mais ou menos políticas públicas assistencialistas. Esse é um bom critério para quem aposta em um projeto de reformas de estabilização do regime democrático-liberal em países de aberrante desigualdade social. Para socialistas inspirados no marxismo o critério na hora de eleições é um critério de classe. Isso não é maximalismo, nem doutrinarismo, é somente classismo. Não precisamos escolher quem será o mal menor. Podemos anular o voto.<br /><br />É até paradoxal que haja tanta pressão por parte das direções do PT e PCdB e de uma parcela da intelectualidade porque no recente primeiro turno de 2010, os menos de 1% foram os piores resultados da esquerda radical desde o final da ditadura. Esse paradoxo merece uma explicação. Na verdade, os votos somados entregues ao PSOL, PSTU e PCB não farão diferença, e os defensores de Dilma sabem muito bem disso. A audiência conquistada pelas propostas da esquerda socialista foi muito superior aos seus menos de 1 milhão de votos, em especial, nas grandes fábricas e entre a juventude, onde o respeito pelo empenho da militância tem se expressado nos últimos anos em vitórias sindicais, que demonstram que está em curso nos movimentos sindical, estudantil e popular um processo de reorganização significativo, superando as ilusões no bloco PT/PCdB. Acontece que a maioria dos votos que poderiam ter sido entregues à oposição de esquerda já foram capturados pelo PT no 1º Turno. A pressão pelo voto para derrotar o retorno do PSDB ao poder entre os trabalhadores, e a simpatia pelas propostas de regulação ambiental nas universidades, deslocando votos para Marina, foram, eleitoralmente, devastadoras. Uma parcela importante da classe trabalhadora em setores estratégicos – como entre os metalúrgicos, petroleiros, metroviários, construção civil, professores, bancários, e outros - quer os revolucionários à frente dos seus sindicatos, mas ainda não sente segurança em votar nas eleições nos partidos anticapitalistas.<br /><br />Votações em segundo turno foram sempre uma escolha tática difícil. Táticas são táticas, isto é, são opções conjunturais e somente isso. A mesma aposta estratégica pode traduzir-se em diferentes opções táticas, dependendo das circunstâncias. A maioria da esquerda socialista, por exemplo, chamou ao voto em Lula em 2002. Compreendemos, porém, que seria a melhor alternativa o voto em Lula, porque essa era a vontade da maioria da classe trabalhadora e, depois de duas décadas de lutas, não queríamos colocar qualquer obstáculo à chegada de Lula à presidência. Oito anos depois, o mesmo critério não faz qualquer sentido.<br /><br />Não serão, portanto, os 1% que definirão quem será o próximo presidente. Na verdade, o que está em disputa não é o apoio eleitoral a Dilma, mas a atitude que a oposição de esquerda terá diante do novo governo: um voto crítico em Dilma sinaliza uma disposição de apoio crítico ao futuro governo da coligação PT/PMDB. Oxalá esse não seja o caminho daqueles, como os deputados eleitos pelo PSOL, que já anunciaram o voto em Dilma. Mas, esse é o perigo. Ilusões perigosas se disseminam nas bases eleitorais da oposição de esquerda quando se decide pelo mal menor. Por isso, tem muito valor a declaração de Plínio de Arruda Sampaio pela anulação do voto no segundo turno. Tem igual mérito a mensagem de Heloísa Helena. A esquerda anticapitalista não pode ter como estratégia ser uma fração externa do PT que exerce pressão pela esquerda. Sua estratégia deve ser a construção de uma oposição revolucionária ao governo Dilma.<br /><br />Fonte: <a href="http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=8048:1989-2002-2006-2010-&catid=100:outras-vozes&Itemid=21">Diário Liberdade</a>.<br /></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-41515127674535347562010-10-08T17:30:00.000-07:002010-10-08T17:32:26.696-07:00Sessão Especial 9/10: Cidadão Boilesen<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;font-size:x-large;" class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span">Cidadão Boilesen</span></span><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TK-36ihknaI/AAAAAAAAAlA/k1Gajhu4Rwc/s1600/BOILESEN.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 136px; height: 200px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_SvAOLXSi1ik/TK-36ihknaI/AAAAAAAAAlA/k1Gajhu4Rwc/s200/BOILESEN.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5525837484134800802" border="0" /></a></div><span style="font-family: trebuchet ms;">Pra quem achava que o CdC estava dormindo... foi só um bocejo. Diversificando as atividades e nos preparando para novas empreitadas, o Clube de Cinema convida para uma sessão especial, neste sábado, dia </span><b style="font-family: trebuchet ms;">9/10</b><span style="font-family: trebuchet ms;">, em horário especial, às </span><b style="font-family: trebuchet ms;">15h</b><span style="font-family: trebuchet ms;">, para a exibição do documentário </span><b style="font-family: trebuchet ms;">Cidadão Boilesen</b><span style="font-family: trebuchet ms;">.</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Seguindo a receita já experimentada no ano passado com o ciclo Ideias, câmeras, ação! realizado em parceria com o </span><i style="font-family: trebuchet ms;">Grupo de Estudos, Ações e Políticas Feminista (Gepaf)</i><span style="font-family: trebuchet ms;">, esta exibição contará com a participação do grupo de formação política do </span><i style="font-family: trebuchet ms;">Partido Socialismo e Liberdade (Psol)</i><span style="font-family: trebuchet ms;"> de Joinville.</span><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /></div><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px; font-family: trebuchet ms;"><span class="Apple-style-span">O filme conta a história do empresário dinarmaquês do grupo</span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px; font-family: trebuchet ms;"><span class="Apple-style-span"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px; font-family: trebuchet ms;"><span class="Apple-style-span">Liquigaz,</span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px; font-family: trebuchet ms;"><span class="Apple-style-span"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px; font-family: trebuchet ms;"><span class="Apple-style-span">Henning Boilesen. Boilesen colaborava ativamente com o regime instaurado em 1964, seja assistindo a sessões de tortura pessoalmente, seja recolhendo dinheiro com o empresariado paulista a fim de reforçar o efetivo do regime.</span></span><br /><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span">Após militantes desconfiarem da participação do grupo</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span">Liquigaz</span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span">– vários locais de cercos policiais tinham caminhões da empresa na localidade –, um comando guerrilheiro justiçou o empresário.</span></span></div></span><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;">O filme conta com depoimentos dos diretamente envolvidos, como o filho e amigos do industrial Boilesen e guerrilheiros que participaram da ação de justiçamento, mas também com análises políticas e históricas do período com os historiadores Daniel Aarão Reis e Jacob Gorender e o jornalista Percival de Souza.</span></div></span><br /><br /><br /><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span"><b><i>CdC Sessão Especial</i></b></span></span><br /><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span"><b><i>Dia 9 de outubro</i></b></span></span><br /><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span"><b><i>Sala C27 do Ielusc/Centro</i></b></span></span><br /><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span"><b><i>15h</i></b></span></span><br /></div><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;"><br /></span></span><br /><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Cidadão Boilesen</b></span></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Direção: </b>Chaim Litewski</span></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Música:</b> Lucas Marcier e Rodrigo Marçal</span></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Edição:</b> Pedro Asbeg</span></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><b>Origem: </b>BRA/2009</span></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;"><br /><br /></span></span><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;">Fonte: <a href="http://sabadodecineclube.blogspot.com/2010/10/sessao-especial-910-cidadao-boilesen.html">Clube de Cinema</a>. </span></span></div></div><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;"></span></span>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-44250979850766726412010-10-01T21:04:00.000-07:002010-10-02T06:38:21.570-07:00O PT como 'partido orgânico' da modernização brasileira<div style="text-align: justify;font-family:trebuchet ms;">Maquiavel dizia que a vitrtude (<span style="font-style: italic;">virtùs</span>) é fundamental para o governo do príncipe. Seu olhar direcionava-se para um mundo em construção, o mundo burguês que se descortinava e construía normas de organização ideológica e política.<br /><br />Aliás, a política constitui o centro de suas preocupações e a virtude do governante a base da política. Um dos grande estudiosos de Maquiavel, Lucio Villari, agudamente acentua a dramaticidade do período de afirmação societal da burguesia, onde o projeto maquiaveliano de Estado tenta operar como uma "obra de arte" mas com fria lógica, juntamente com a imaginação e improvisação. A idéia maquiaveliana da força política revolvente e envolvente constitui a "necessária criatividade que deve compor essencialmente a <span style="font-style: italic;">virtùs</span> do governante.<br /><br />No mundo moderno, como acentuou Gramsci, o príncipe só pode existir como príncipe intelectual-coletivo (o Partido político de novo-tipo), aquele em que a <span style="font-style: italic;">virtùs </span>materializa-se coletivamente, quando "encarna", entende e expressa a vontade coletiva, na perspectiva da maioria do povo, os trabalhadores (<span style="font-style: italic;">Note sul Machiavelli</span>). A leitura leninsta de Gramsci da organização política pressupõe a organização da cultura, como construção de uma hegemonia para uma nova forma de sociabilidade. Era a contrapartida gramsciana às posições de Georges Sorel, para quem o príncipe deveria ser a figura mítica inspiradora e doutrinária da política. Ao limite, um líder (<span style="font-style: italic;">condottiero</span>) fantasioso e inexistente na realidade histórica com fins de cooptação ideológica para uma "ética" abstrata e principista. Sorel insistia que esse <span style="font-style: italic;">condotiero </span>não estava na organização (da vontade coletiva) dos trabalhadores; não encontrava-se na finalidade (teleologia) do movimento social, mas na prática pois a vontade já era atuante por si mesma! Na perspectiva soreliana, o único válido é a vontade espontânea, não organizada.<br /><br />Como sabemos, o PT enquanto organização de trabalhadores, nunca se propôs a ser um intelectual coletivo do proletariado, mas apenas um organizador das lutas espontâneas dos trabalhadores. Isso explica porque nunca tenha sido elaborada uma "teoria do Brasil" ou uma proposta para a revolução brasileira por parte do PT. Que fique claro, me refiro ao PT como organização. Algumas correntes internas até propuseram esse caminho, mas foram derrotadas na selvagem luta interna, quando saem vitoriosos a socialdemocracia-tardia em aliança com o sindicalismo economicista e espontaneísta. Isso explica, também, o PT como gigante com pés de barro.<br /><br />De fato, o PT se compõe na contramão do projeto pensado por Lenin e Gramsci. Desde seus inícios, ouvia-se que "a teoria do PT era sua prática". E muitos honestos combatentes sociais e revolucionários caíram nesse canto de sereia. O PT, na verdade, deixou de ser o Moderno Príncipe, o intelectual coletivo que organiza a cultura e constrói a hegemonia do proletariado, para encarnar o mito soreliano da espontaneidade e como diz Gramsci, quando se abandona a perspectiva da ação política revolucionária organizada acaba-se indo para uma atividade passiva, que não pensa teoricamente a ação política (<span style="font-style: italic;">Note sul Machiavelli)</span> e que limita-se ao aspecto preliminar dos movimentos sociais, isto é, limita-se às reivindicações imediatas postas pelo movimento, como aumento de salário, luta contra o custo de vida e assim por diante, deixando de lado o projeto de construção de uma nova forma de sociabilidade.<br /><br />Essa opção petista pelo espontâneo o fez um partido geneticamente oportunista. Seus zigue-zagues políticos atestam esse oportunismo que oscilou da posição extremista de não alianças com setores progressistas da sociedade, mum momento político delicado, às amplas alianças espúrias de hoje!<br /><br />Esse comportamento errático e oportunista, com ausência da centralidade do trabalho e de finalidade socialista em suas ações políticas, nos explica também seu deslocamento para o campo do Bloco Burguês. Mas houve uma reviravolta na política do PT. De encarnação do condutor-mítico soreliano, passa a ser o líder real da política capitalista. Na verdade, o projeto proletário que nunca se concretizou e que sempre esteve idealisticamente nas intenções petistas, é substituído por outro real e paupável, o projeto de gerenciar a modernização conservadora de reinserção subalterna do capitalismo e da burguesia brasileira aos pólos centrais do capital.<br /><br />A história tem demonstrado que as organizações de massas com propensões espontaneístas podem oscilar entre a extrema esquerda e à extrema direita e não esqueçamos das origens populares dos partidos fascistas e de seus líderes. Os fascistas tradicionais criaram a "teoria" da "flexibilização ideológica", para adequar seus discursos e, principalmente suas práticas, à conciliação de classe, onde o proletariado encontrava-se subordinado ao projeto do capital. Assim foi principalmente a ação política de Mussolini. Mas o <span style="font-style: italic;">Duce</span> utilizava o discurso nacionalista-chauvinista em voga na época, o da grande pátria e o do desenvolvimento nacional. A contradição fundamental não era entre capital e trabalho, mas sim contra o inimigo externo, ou dizendo de outra maneira, as burguesias inglesas e estadunidenses em disputa interimperialistas com a Itália e a Alemanha. Esse foi o "caldo de cultura" de justificação ideológica para a expansão imperialista e colonialista dos países que chegaram "atrasados" ao capitalismo industrial.<br /><br />O Brasil, país que chega ao capitalismo industrial hipertardiamente constituiu uma burguesia que sempre esteve arrimada num Estado autocrático e na ausência de uma revolução democrático-burguesa, tônica dessa burguesia tupiniquim, mas nunca em sua história nacional, pois em sua gênese é umbilicalmente ligada aos centros hegemônicos do capitalismo. Todos os processos de modernização capitalista foram realizados "pelo alto" através de ditaduras bonapartistas. Deodoro e Floriano Peixoto, Getúlio e os 5 milicos de plantão que se revezaram no poder de 1964 a 1985, sem contar ainda, com a autocracia burguesa institucionalizada da República Velha e os dois imperadores anacrônicos. Os que nos interessam mais de perto, dados os limites desse pequeno artigo de cunho jornalístico, Getúlio e os 5 milicos de plantão, utilizaram de muitas práticas fascistas: a cooptação do proletariado para o projeto do capital, a repressão brutal e o nacionalismo. Mas, ironicamente, apesar de autocracias ditatoriais, essas ditaduras jamais foram fascistas no sentido do conceito objetivo e por um simples motivo: o Brasil sempre foi uma economia complementar e subalterna das economias capitalistas centrais e o fascismo tem por pressuposto uma economia imperialista. Pode ter sido um fascismo de "forma", ou um "colonial-fascismo", mas isso é discussão que não acaba mais e um bom tema para um ensaio.<br /><br />A novidade é o novo momento de modernização capitalista engendrado a partir da década de 1990. A burguesia brasileira procurou criar situações de cooptação desde a crise dos governos militar-bonapartistas para construir o novo Bloco Burguês. O processo passou por esvaziar as movimentações populares pelas Diretas-já, com a conciliação de gabinete que elegeu Tancredo Neves pelo voto indireto (com a derrota da proposta da emenda constitucional pelo voto direto no Congresso) e tentou costurar seu bloco hegemônico com pouco sucesso, até 2002. Faltava uma costura fundamental para essa soldagem que os partidos burgueses não estavam conseguindo, isto é, trazer grandes parcelas do proletariado para essa costura. O PT fez esse papel, com a hegemonização da socialdemocracia-tardia em aliança com o sindicalismo economicista liderado por Lula. Não houve necessidade de um outro golpe autocrático ou bonapartista, o PT fez a ligação, trazendo a CUT para o Bloco Burguês em unidade com a Força Sindical. Mais ainda, Lula, espontaneísta de origem faz sua guinada à direita e se transforma no <span style="font-style: italic;">condottiero</span> de massas necessário para a soldagem do novo Bloco de Modernização Conservadora. Conservadora porque não aprofunda a democracia no Brasil e atrela o movimento operário ao projeto do capital, com o discurso "desenvolvimentista" de um capitalismo subordinado e de uma burguesia subiimperialista. Sua <span style="font-style: italic;">virtùs</span> de lider operário limita-se virtuosamente a implantar o novo momento da acumulação capitalista no Brasil. O PT transforma-se em Partido da Ordem (do capital) e Lula num líder demagógico de conciliação e cooptação de classe e de caráter bonapartista.<br /><br />Há que se romper esse Bloco Burguês liderado por Lula, pelo PT e seus aliados. Apostamos nas mobilizações futuras do movimento proletário e dos movimentos sociais, quando a onda de crescimento for atingida pelo fim desse "ciclo" positivo, típico das oscilações da economia capitalista e agravado pela crise permanente e estrutural do capitalismo hodierno.<br /><br />Há que se compor, desde já o Bloco proletário e popular, anticapitalista e antiimperialista. Esse é o futuro se quisermos ser, os socialistas e comunistas, alternativa de poder no Brasil.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Antonio Carlos Mazzeo</span><span style="font-style: italic;">, professor do departamento de Ciências Políticas e Econômicas da UNESP e membro do Comitê Central do PCB.</span><br /><br />Fonte: <a href="http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=6883:o-pt-como-partido-organico-da-modernizacao-brasileira&catid=69:batalha-de-ideias&Itemid=83">Diário Liberdade</a><br /></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-70805673775944155982010-09-04T20:38:00.000-07:002010-09-04T20:43:43.756-07:00Teatro Pós-DramáticoApós assistir um teatro pós-dramático lembrei-me da intervenção de Iná Camargo a esse respeito. Em que pese sua ênfase total no teatro épico e seu tom deliberadamente polêmico, ela faz verdades pulularem. A ótima intervenção de Iná abaixo. As demais intervenções do debate "Teatro Épico e Teatro Pós-Dramático na Sociedade do Espetáculo" realizado pela Trupe Choque estão no youtube. O filósofo Paulo Arantes participou também.<br /><br /><object width="640" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/eRR-oHuSNxg?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/eRR-oHuSNxg?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="640" height="385"></embed></object>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-79444706076532821802010-09-04T20:18:00.000-07:002010-09-04T20:21:25.772-07:00BNDES financia retrocesso do aparelho produtivo, que deve prosseguir no próximo governo<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Escrito por Valéria Nader e Gabriel Brito, da Redação </span><br /><span style="font-style: italic;">01-Set-2010</span></span><br /><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">Contrastando com a notável indiferença e apatia popular no atual cenário pré-eleitoral, o aparente êxito de nossa economia tem provocado exaltadas análises de membros do governo e de parte da mídia associada. O Correio da Cidadania conversou com o economista e professor da UFRJ Reinaldo Gonçalves, que vai na contramão da homogeneidade das análises mais difundidas, satisfeitas com os atuais resultados macroeconômicos.</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">Para o economista, a visão econômica unipolar deverá prevalecer, com prioridade aos ‘vencedores’ do pacto lulista de governo: bancos, agronegócio e o setor de infra-estrutura. Está claro, ademais, que nenhum candidato da ordem discorda de tais diretrizes.</span><br /><br /> <br /><br /><span style="font-style: italic;">Quanto ao BNDES, tão em alta nos últimos anos por conta de sua atuação decisiva na concessão de financiamentos para a consecução de inúmeras fusões em diversas áreas do setor produtivo nacional, Gonçalves faz importantes ressalvas. Acredita que o banco vai no sentido oposto ao da época de sua criação, pois "não financia um processo de acumulação com progresso técnico, nem uma mudança estrutural no modelo produtivo, e sim um retrocesso do aparelho produtivo". Concentra sua atuação naquilo que o próprio economista já caracterizara como ‘reprimarização’ da economia nacional.</span><br /><br /> <br /><br /><span style="font-style: italic;">A considerar o que vêm declarando os candidatos com maiores chances de vencer o pleito de outubro, e à luz das interpretações de Gonçalves, o que menos podemos projetar para o ano que vem é um novo ‘modus operandi’ em nossa economia. Não há, portanto, muito a se esperar para aqueles que almejam uma reversão na indigente posição ocupada pelo Brasil nos rankings de igualdade social e distribuição de renda. No próximo período presidencial, serão os vencedores da era Lula/FHC a escrever, ou pelo menos delinear, a história.</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Como você avalia o cenário pré-eleitoral, no que diz respeito às propostas dos principais candidatos, Serra, Dilma e Marina, para a condução da economia do país? Há alguma diferença substancial entre esses candidatos?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: Não há nenhuma diferença marcante. Existe muita ausência de identificação de propósitos, ou seja, os candidatos se comprometem o mínimo possível com pontos fundamentais.<br /><br /><br /><br />Outra coisa é que não há um projeto claro de desenvolvimento do país por parte dos candidatos.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Quanto especificamente ao PT e ao PSDB, você enxerga retrocesso maior em algum desses partidos relativamente ao outro, no que diz respeito ao reforço do agronegócio, reprimarização de nossa economia, bem como retomada das privatizações tradicionais, com a venda do que resta do patrimônio público?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: Nesse sentido, tampouco há diferença entre os candidatos do PT e do PSDB, tanto em relação às políticas econômicas como a projetos implícitos de desenvolvimento, que de uma forma ou outra se deduz serem do mesmo tipo.<br /><br /><br /><br />Não faz a menor diferença votar em um ou outro nesse aspecto.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: A candidata Marina representa, a seu ver, uma alternativa aos projetos tucanos e petistas? O caráter ambiental da candidatura poderia inspirar novos paradigmas econômicos, a partir, dentre outros, de uma reavaliação do papel do agronegócio em nosso país?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: De forma nenhuma. Na verdade, ela tem os defeitos de todos os outros e nenhuma qualidade que a diferencie dos demais. Eu diria que é uma candidatura fraca e absolutamente inexpressiva.<br /><br /><br /><br />A candidata Marina ficou vários anos no governo Lula e, em momento algum, se posicionou de forma clara e aguda contra a promoção do modelo de reprimarização da economia brasileira, que tem impactos negativos no meio ambiente. Em nenhum momento marcou posição nos assuntos de agronegócio, pecuária, pré-sal, ou seja, o período dela foi de atuação fraca e apagada, por isso a candidatura é inexpressiva.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: O papel do BNDES, sob direção do economista Luciano Coutinho, tem sido muito criticado pela oposição e alguns veículos de comunicação, sob o argumento de estar recebendo vultosos recursos do Tesouro para privilegiar alguns poucos grupos e setores econômicos, reforçando sua atuação monopolista. O que pensa da atuação do banco e respectiva crítica?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: A crítica é merecida e deve ir além. Em primeiro lugar, o BNDES deu andamento a um processo agudo de concentração e centralização de capital, cuja conseqüência é mais poder econômico nas mãos de um número menor de grandes empresas, afetando o emprego, empresas, especialmente familiares, e até o poder político, ou seja, as políticas do banco caminham no sentido de enfraquecer a democracia no país.<br /><br /><br /><br />Além dessa questão da concentração de capital, a maior parte dos investimentos do BNDES foi focada na exportação de produtos primários, reforçando o projeto de reprimarização, com o modelo de crescimento que traz empobrecimento, leva a população aos grandes centros e cria dependência de commodities.<br /><br /><br /><br />A terceira crítica é sobre o fato de transferir fundos dos trabalhadores para financiar projetos do grande capital, através do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador -, por exemplo.<br /><br /><br /><br />A quarta crítica que faço é sobre o banco financiar a internacionalização de empresas no Brasil, o que na verdade caracteriza fuga de capitais. Ou seja, boa parte dos grupos que entram no Brasil conta com financiamento do BNDES para exportar capital, o que não traz nada ao país. É muito mais uma estratégia de diversificação do patrimônio, repetindo um fenômeno muito conhecido na América latina, com grupos familiares mandando seu dinheiro para o exterior a fim de ter mais proteção, já que alguns locais têm regras diferentes do Brasil.<br /><br /><br /><br />Portanto, momentaneamente, o BNDES está suprindo essa internacionalização, leia-se, diversificação geográfica do patrimônio das famílias e grupos mais ricos, que controlam as maiores empresas. Enquanto alguns setores, como a pecuária, o agronegócio, a infra-estrutura, são privilegiados, outros setores são negligenciados.<br /><br /><br /><br />Dessa forma, temos críticas contundentes a essa gestão do BNDES e o papel que a instituição tem desempenhado. Ou seja, os problemas vão muito além do que foi colocado inicialmente. Quanto a este financiamento a empresas estrangeiras que operam no Brasil, as vantagens que lhes são oferecidas para atender suas vontades específicas são um absurdo. O governo Lula, assim como o de FHC, lhes deu uma mão muito grande através do BNDES.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Ao mesmo tempo, o atual governo defende a atuação do banco como muito relevante, na medida em que estaria reforçando o papel indutor do Estado no desenvolvimento, retomando a função original dessa instituição financeira – função esta que é inclusive um dos alvos de crítica da oposição mais conservadora. Como você enxerga este ‘paradoxo’?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: Na verdade, o grande contraste é que, na origem do banco, nos anos 50, 60 e 70, o que o governo financiou foi uma mudança estrutural na economia brasileira, no sentido de dar uma ‘subida na escala’, ou seja, alcançando um modelo que beneficiasse exportações e preenchesse nossa matriz com produtos mais elaborados, tornando nossa economia mais sofisticada e competitiva.<br /><br /><br /><br />O BNDES de hoje faz exatamente o contrário. Ele não financia um processo de acumulação com progresso técnico, nem mudança estrutural no modelo produtivo, e sim um retrocesso do aparelho produtivo.<br /><br /><br /><br />Portanto, enquanto em sua origem o BNDES financiava o desenvolvimento, uma mudança estrutural na produção, o banco de hoje vai no sentido contrário, estimulando os interesses de reprimarização da economia e o modelo liberal-periférico implantando especialmente nos últimos dois períodos presidenciais.<br /><br /><br /><br />Assim, além de financiar grupos econômicos retrógrados, o banco vai na direção contrária àquela que o impulsionava nas décadas de 50 e 60, no que se refere ao incentivo ao capital produtivo brasileiro. Essa é uma crítica contundente que não pode ser esquecida.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Qual seria a diferença na gestão do BNDES entre eventuais gestões Serra ou Dilma, a seu ver?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: Tenho a impressão de que, com o Serra, seria impossível segurar a pressão de grandes grupos brasileiros; seria tão sensível quanto o governo atual. Não tenho razão para imaginar por que um governo atenderia menos que outro a tais pressões.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Com uma tendência eleitoral nitidamente mais favorável à candidata petista, esta já saiu a campo com declarações de que fará novos ajustes na economia em um eventual governo, com aperto fiscal e arrocho salarial para o funcionalismo público. Como encara esta postura? Trata-se da ‘Carta aos Brasileiros’ de Dilma?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: Exato. Na realidade, seria um bilhete aos brasileiros, não uma carta, pois se trata de uma candidatura muito frágil. Trata-se, ademais, de candidatura que está entre as forças que, sob orientação do Lula, fizeram essa capitulação em 2002, com a Carta aos Brasileiros, agora reescrita em forma de bilhete, de modo a transmitir que temos pela frente a continuidade do modelo liberal-periférico, com a consolidação dos setores dominantes, como o agronegócio, os bancos, e agora os grupos estrangeiros.<br /><br /><br /><br />Prova disso é que essa candidatura não registra nenhum problema de financiamento.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Correio da Cidadania: Finalmente, o que pensa do atual cenário internacional? Após os últimos episódios de crise em países europeus, não estamos na iminência de uma nova crise? Como o Brasil seria impactado neste momento?</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Reinaldo Gonçalves</span>: O cenário internacional está marcado por incertezas, ficando difícil fazer previsões críticas. Houve um certo otimismo até maio, mas, com os acontecimentos na Europa, EUA e a desaceleração da China (a locomotiva), tivemos resultados inferiores ao esperado, contrastando com um quadro que se desenhou no final do ano passado e primeiro trimestre deste ano.<br /><br /><br /><br />O fato concreto é que a economia internacional caiu em recessão profunda desde 2008, e a recuperação não está garantida e nem consolidada. Portanto, seguirão várias turbulências e incertezas quanto à renda, ao comércio, aos mercados financeiros, em toda a economia internacional.<br /><br /><br /><br />No ano passado, o Brasil já teve uma queda de renda, grandes grupos econômicos faliram, e isso certamente pode ocorrer em proporção maior se a crise voltar. Pela simples razão de que a vulnerabilidade externa aumentou no período; nosso passivo externo aumentou, nossas reservas baixaram.<br /><br /><br /><br />Ou seja, estamos muito desprotegidos. Com essa reprimarização, ficamos muito mais dependentes estruturalmente da economia mundial. E com a globalização financeira – por exemplo, os estrangeiros têm a posse de 40% da bolsa -, o investidor estrangeiro compra títulos de curto prazo e o Brasil fica vulnerável, como mostra o passado recente, com menos capacidade de resistência a fatores externos.<br /><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.</span><br /><br /><br />http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4969/9/</div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-32022708488894208842010-08-24T11:22:00.000-07:002010-08-24T11:29:55.645-07:00Convite para grupo de estudos sobre Política e Socialismo II<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O Partido Socialismo e Liberdade de Joinville prosseguirá com seu ciclo de estudos políticos, na perspectiva de que uma ação política consistente supõe um preparo teórico razoável.<br /><br />Iremos ler e discutir a respeito de cinco capítulos do livro Combate nas Trevas (Ed. Ática, primeira edição de 1987) do historiador Jacob Gorender. São os capítulos:<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBtEaas7J0KQpRRcZ6-EzYQR2_hwZVYzAnyiJCB3euUV-f9Zed4wDKfRaWP6yU3N3iRXZYvxGGGCNML91XzT_1sItXDJfZ09gbi0X4csuF_Vmgkxv3mcLYtY_tbLjb7NEfJztq_gW0Ag8_/s1600/Combate.jpg"><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 144px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBtEaas7J0KQpRRcZ6-EzYQR2_hwZVYzAnyiJCB3euUV-f9Zed4wDKfRaWP6yU3N3iRXZYvxGGGCNML91XzT_1sItXDJfZ09gbi0X4csuF_Vmgkxv3mcLYtY_tbLjb7NEfJztq_gW0Ag8_/s200/Combate.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5507492043399189458" border="0" /></a><br /><br /><span style="font-style: italic;">Capítulo 2: O Contencioso da Industrialização e o Populismo;</span><br /><span style="font-style: italic;">Capítulo 3: O PCB – Das Ilusões da legalidade à luta armada;</span><br /><span style="font-style: italic;">Capítulo 4: O PCB – Luta Interna e mudança da linha política;</span><br /><span style="font-style: italic;">Capítulo 5: As Outras Esquerdas;</span><br /><span style="font-style: italic;">Capítulo 10: Ideias que fizeram a cabeça da esquerda.</span><br /><br />O livro busca fazer uma análise crítica e lúcida da esquerda do período imediatamente pré-golpe civil-militar de 64 e durante a ditadura que se instalou no Brasil.<br /><br />Sobre o autor, Jacob Gorender nasceu em Salvador em 1923 e é historiador e marxista. Lutou na Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial na Itália. Desde a década de 40 era membro do PCB, rompendo em 1967 quando fundou com Mário Alves e Apolônio de Carvalho o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR. Foi preso e torturado durante o período militar. Lançou em 1978 o livro <span style="font-style: italic;">O Escravismo Colonial</span>, tese original em que debate o modelo de acumulação que originou o capitalismo no Brasil. É autor também de <span style="font-style: italic;">Marxismo Sem Utopia</span>.<br /><br /><br />O encontro ocorrerá na casa do militante Ivan Rocha, na rua J<a href="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=jacob+moser,+84,+vila+nova+joinville&ie=UTF8&hq=&hnear=R.+Jacob+Moser,+84+-+Vila+Nova,+Joinville+-+Santa+Catarina,+89237-415&ll=-26.284219,-48.902142&spn=0.008812,0.013797&z=16&iwloc=A">acob Moser, nº 84, no bairro Vila Nova</a> (bem próximo ao terminal de ônibus) no dia 12 de setembro, domingo, às 14:30h.<br /><br />Sinta-se convidado. Depois das discussões, haverá um pequeno lanche. O grupo não é fechado a membros do PSOL, mas sim é aberto a todos que tenham interesse em discutir questões pertinentes ao socialismo.<br /><br />O texto pode ser baixado <a href="http://www.cipedya.com/web/FileDetails.aspx?IDFile=177485">aqui</a> ou <a href="http://www.4shared.com/document/qLDpW64M/Combate_nas_Trevas_-_Jacob_Gor.html">aqui</a>. Confirme presença pelo e-mail psoljoinville@gmail.com .<br /><br />Um abraço,<br /><br /><span style="font-style: italic;">PSOL Joinville<br /><br /></span><span>Fonte: <a href="http://psoljoinville.blogspot.com/2010/08/convite-para-grupo-de-estudos-sobre.html">PSOL Joinville</a>.</span><span style="font-style: italic;"><br /></span></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-87989030211440149942010-08-05T07:36:00.000-07:002010-08-05T07:38:27.995-07:00"A Caminho da Guilhotina"Surgiu um interessante blog a respeito de política e eleições, o <a href="http://acaminhodaguilhotina.wordpress.com/"><span style="font-style: italic;">A Caminho da Guilhotina</span></a>. O blog consegue reunir humor - cáustico, mas não apelativo - com utilidade pública. Recomendo a visita:<br /><br />http://acaminhodaguilhotina.wordpress.com/<br />http://acaminhodaguilhotina.wordpress.com/<br />http://acaminhodaguilhotina.wordpress.com/H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-417555765347849022010-07-30T12:40:00.000-07:002010-07-30T12:42:24.995-07:00Joinville está a venda - quem dá mais?<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">Por Sérgio Gollnick</span></span><br /><br /><br />Existe uma técnica muito comum em política de baixo padrão e na imprensa marrom que consiste em "criar dificuldade para gerar facilidade".<br /><br />A história da Lei Macrozoneamento da cidade de Joinville tem uma uma leve brisa de estar neste estágio e, parece que ainda vai dar muito o que falar. Agora dizem por ái que tem gente se colocando como interlocutor de um grande empresário da cidade, sujeito que tem interesse na mudança das macrozonas, especialmente na criação das áreas de transição, porque é claro, adquiriu áreas para ganhar na especulação imobiliária.<br /><br />Explico - é mais ou menos assim: O sujeito compra hoje uma gleba de terra por R$ 1,50/m2 na atual área rural e, tão logo a lei das zonas de transição seja aprovada, o terreno passa a valer R$ 100,00/m2, no mínimo. Aí ele ganha sem qualquer esforço uma fortuna. Neste processo, os excluídos continuarão a ser mais excluídos e os concentradores de renda serão ainda mais donos da cidade.<br /><br />Mas não fica só nisso, já tem vereador fazendo lobby dentro da câmara querendo convencer seus coleguinhas de trabalho a “negociar” a lei, possibilitando que algumas zonas de transição sejam aprovadas. Os bastidores dizem que a argumentação está lastreada na questão da UFSC, da GM e outros “motivos mais nobres”, mas o negócio mesmo é atender aos interesses dos mega especuladores. Tudo como vem ocorrendo em Joinville há muitos anos.<br /><br />Não tenho muita esperança que os nossos edis venham manter sua decisão de congelar as áreas rurais por enquanto, e que o assunto seja mais aprofundado e discutido. Tem muita coisa em jogo nos bastidores e isto vale muito dinheiro. Afinal, estamos em época de campanha política e não tem hora melhor de abocanhar uns trocados, não é?<br /><br />A novidade está na articulação destas intenções nada republicanas. Mais escolados, os interessados assumem lugares importantes dentro dos conselhos municipais. Ali definem as estratégias, convencem o Poder Público e em seguida colocam “assessores” dentro da Câmara de Vereadores que identificam um ou mais edis que se prestem a este tipo de negócio. Não tem sido muito difícil esta missão pelo que podemos perceber nos últimos tempos! Aí ele, o edil que se presta a este serviço, membro de uma das comissões que trata do assunto em foco fará o papel de convencimento dos coleguinhas, sendo o porta-voz da intenção. Ele próprio se dirá como UM GRANDE NEGOCIADOR DOS INTERESSES DA CIDADE, convenientemente omitindo o seu patrocinador!!!!<br /><br />Já aconteceu antes, inclusive com os mesmos protagonistas a defender interesses muito específicos e privados. Como somos uma sociedade fraca, sem mobilização, sem propósitos comuns e carentes de posturas mais éticas, veremos mais um episódio da novela: “Como Destruir o Futuro de uma Cidade em troca de Bola.”<br /><br />Fonte: <a href="http://lavienville.blogspot.com/2010/07/joinville-esta-venda-quam-da-mais.html">La Vie en Ville</a>.</div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-87660984844889709632010-07-21T14:03:00.000-07:002010-07-21T14:08:40.043-07:00Movimentos sociais na Era Lula<h1 style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Movimentos sociais na Era Lula</h1><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="chamadaSingle">Hegemonia às avessas, pequena política ou revolução passiva à brasileira?</div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="publicadoPor">Publicado em 08 de julho de 2010</div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;" class="tagSingle"><strong>TAGS:</strong> <a href="http://revistacult.uol.com.br/home/tag/artigos/" rel="tag">Artigo</a>, <a href="http://revistacult.uol.com.br/home/tag/lula/" rel="tag">Lula</a>, <a href="http://revistacult.uol.com.br/home/tag/politica/" rel="tag">política</a></div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div id="attachment_5959" class="wp-caption aligncenter" style="width: 482px; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><img class="size-full wp-image-5959" title="Divulgação/Geração editorial" src="http://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2010/07/lulacarrega.jpg" alt="" width="472" height="294" /><p class="wp-caption-text">Lula é carregado por trabalhadores durante assembleia realizada em São Bernardo do Campo, 1979</p></div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><span style="font-size: 13.3333px;"><em>Ruy Braga</em></span><span style="font-size: 13.3333px;"> </span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Quando da vitória petista sobre Alckmin, o sociólogo Francisco de Oliveira alertou para os efeitos politicamente regressivos da hegemonia “lulista”: ao absorver “transformisticamente” as forças sociais antagônicas no aparato de Estado, desmobilizando as classes subalternas e os movimentos sociais, o governo Lula teria esvaziado todo o conteúdo crítico presente na longa “era da invenção” dos anos 1970-1980, tornando a política partidária praticamente irrelevante para a transformação social (revista <em>Piauí</em>, jan. 2007). “Transformismo” foi o nome dado pelo pensador Antonio Gramsci (1891-1937) ao processo de absorção, pela classe dominante, de elementos ativos ou grupos inteiros, vindos tanto da base aliada como da adversária.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A medida da desmobilização praticada por Lula poderia ser apreendida pelo escasso interesse depositado pelos eleitores no pleito presidencial de 2006. O efeito social regressivo consistiria exatamente nisto: sob Lula, a política afastou-se dos embates hegemônicos travados pelas classes sociais antagônicas, refugiando-se na sonolenta e desinteressante rotina dos gabinetes, ainda que frequentados habitualmente por escândalos de corrupção.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A partir daí, Francisco de Oliveira adiantou sua conjectura: no momento em que a “direção intelectual e moral” da sociedade brasileira parecia deslocar-se rumo às classes subalternas, tendo no comando do aparato de Estado a burocracia sindical oriunda do “novo sindicalismo”, a ordem burguesa mostrava-se mais robusta do que nunca. A esse curioso fenômeno em que parte “dos de baixo” dirige o Estado por intermédio do programa “dos de cima”, Oliveira chamou “hegemonia às avessas”: vitórias políticas, intelectuais e morais “dos de baixo” fortalecem “dialeticamente” as relações sociais de exploração em benefício “dos de cima”.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><span style="font-size: 13.3333px;">No Brasil, décadas de luta contra a desigualdade e por uma sociedade alternativa à capitalista desaguaram na incontestável vitória lulista de 2002. Quase imediatamente o governo Lula racionalizou, unificou e ampliou o programa de distribuição de renda conhecido como Bolsa Família, transformando a luta social contra a miséria e a desigualdade em um problema de gestão das políticas públicas. Oliveira dirá que Lula instrumentalizou a pobreza ao transformá-la em uma questão administrativa. O programa Bolsa Família garantiu a maciça adesão dos setores mais depauperados das classes subalternas brasileiras ao projeto do governo.</span></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Não estaria essa heteróclita forma de dominação social preparando igualmente uma nação “sem qualquer sofisticação política”, como diria Weber sobre Bismarck? Uma nação totalmente subsumida na hegemonia da pequena política, como bem nos lembrou Carlos Nelson Coutinho (<em>Hegemonia às Avessas</em>, Boitempo, 2010)? Afinal, se atualmente, como diz Oliveira, parece que os dominados dominam, parece que os sindicalistas se transformaram em capitalistas, parece que os petistas controlam o Parlamento, parece que a economia está definitivamente blindada contra a crise mundial…, trata-se, antes de mais nada, de um conjunto de aparências “necessárias”, pois, para o marxismo profano, a aparência não é simplesmente a face espúria da essência, seu “outro” fictício e enganoso. Existe sempre uma íntima relação dialética entre aparência e essência.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><strong>A hipótese da revolução passiva à brasileira</strong><br />De minha parte, confesso que continuo me sentindo bastante atraído pela hipótese da “revolução passiva à brasileira”, que, juntamente com Alvaro Bianchi, esbocei quando da primeira eleição de Lula (<em>Social Forces</em>, Chapel Hill, v. 83, n. 4, 2005). Naquela ocasião, avançamos duas conjecturas:</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">1) o governo Lula não seria, simplesmente, mais um exemplo “neoliberal”,<em> à la </em>Fernando Collor ou FHC, exatamente porque, no intuito de constituir certas margens de consentimento popular, ele deveria responder a determinadas demandas represadas dos movimentos sociais. Empregamos, então, a noção, um tanto quanto frouxa, admitamos, de “social-liberalismo”, para tentar dar conta da ênfase nas políticas de distribuição de renda, ainda que plasmadas pela reprodução da ortodoxia rentista;</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">2) o vínculo orgânico “transformista” da alta burocracia sindical com os fundos de pensão poderia não ser suficiente para gerar uma “nova classe”, como disse Oliveira, mas seguramente pavimentaria o caminho sem volta do “novo sindicalismo” na direção do regime de acumulação financeiro globalizado. Apostávamos que essa via liquidaria completamente qualquer possibilidade de retomada da defesa dos interesses históricos das classes subalternas brasileiras. Chamamos esse processo de “financeirização da burocracia sindical”.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Sei que Carlos Nelson Coutinho é cético em relação à hipótese da “revolução passiva à brasileira” como critério interpretativo do atual momento hegemônico. Prefere falar em “hegemonia da pequena política” para destacar a natureza do lulismo; uma forma de hegemonia mais afinada com as características principais do neoliberalismo, pois apoiada naquilo que Gramsci chamou de “consentimento passivo”, isto é, a aceitação naturalizada de um existente tido e havido como inelutável. Não colocaria reparos nessa opinião de Carlos Nelson, pois me parece que, de fato, a hegemonia lulista apoia-se, sim, em boa parte, nesse tipo de consentimento passivo. Não compartilho, entretanto, de seu ceticismo quanto à hipótese da “revolução passiva à brasileira”, pois intuo que a hegemonia lulista satisfaz, se não completamente, em grande medida ao menos, às premissas gramscianas a respeito tanto da “conservação”, isto é, a reação “dos de cima” ao subversivismo inorgânico das massas, quanto à “inovação”, ou seja, a incorporação de parte das exigências “dos de baixo”. Trata-se, naturalmente, de uma dialética multifacetada e tensa – “inovação/conservação”, “revolução/restauração” –, que catalisa um reformismo “pelo alto”, conservador, é verdade, porém dinâmico o suficiente para não simplesmente reproduzir o existente, mas capaz de abrir caminhos para novas mudanças – progressistas (caso do fordismo, analisado pelo genial pensador sardo no <em>Caderno 22</em>) ou regressivas (caso do fascismo). Na minha opinião, a “hegemonia às avessas” nada mais é do que essa via de modernização conservadora, plasmada pelos limites inerentes à semiperiferia capitalista, em que o avanço se nutre permanentemente do atraso.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Carlos Nelson levanta muito corretamente a questão: se estivermos diante de uma revolução passiva, parte das exigências dos “de baixo” deverá ser acolhida pelo governo reformista e moderado. Mas não é exatamente isso que verificamos quando analisamos o Bolsa Família, a ampliação do sistema universitário federal com o patrocínio das cotas, o impulso na direção da “reformalização” do mercado de trabalho, a política de reajuste do salário mínimo acima da inflação, a retomada dos investimentos em infraestrutura ou, mais recentemente, o incentivo ao consumo de massas por meio do crédito consignado? É pouquíssimo em se tratando de nossa imensa dívida social. Além disso, tais realizações são totalmente insuficientes para garantir Lula no panteão dos campeões reformistas, ao lado de Willy Brandt (político alemão, 1913-1992), Olof Palme (político sueco, 1927-1986) e<em> tutti quanti</em>. Contudo – e isso diz muito sobre o<em> handicap</em> das classes dominantes brasileiras –, conseguem ser suficientes para alçar Lula à condição de incontestável liderança popular.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><strong>A hegemonia do Estado</strong><br />Ainda que mantida a política profundamente regressiva dos juros estratosféricos – surpreendentemente, nem mesmo a atual crise econômica mundial foi capaz de alterar o comportamento visceralmente rentista do Banco Central –, sabemos que a relativa desconcentração de renda experimentada por aqueles que vivem dos rendimentos do trabalho pode perfeitamente coexistir com o aumento da desigualdade entre as classes sociais quando comparada aos incrementos de rendimentos dos que vivem da propriedade de ativos, como títulos, imóveis etc. Uma simples análise da distribuição funcional da renda nacional que confrontasse os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) relativos à remuneração dos empregados, o rendimento dos autônomos e o excedente operacional bruto do Sistema de Contas Nacionais poderia ilustrar bem isso.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Contudo, parece-me meridianamente claro que o governo Lula conseguiu coroar a incorporação de parte das reivindicações dos “de baixo” com a bem orquestrada reação ao subversivismo esporádico das massas representado pelo “transformismo de grupos radicais inteiros”. Da miríade de cargos no aparato de Estado, passando pelos muitos assentos nos conselhos gestores dos fundos de pensão, pelas altas posições em empresas estatais, pelo repasse de verbas federais para financiamento de projetos cooperativos, pela recomposição do aparato de Estado, pela reforma sindical que robusteceu os cofres das centrais sindicais etc., o locus da hegemonia resultante de uma revolução passiva é exatamente o Estado. O fato é que o subversivismo inorgânico transformou-se em consentimento ativo para muitos militantes sociais que passaram a investir esforços desmedidos na conservação das posições adquiridas no aparato estatal.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Se Oliveira tem razão ao afirmar que a “hegemonia às avessas” simplesmente não significou verdadeiros “avanços na socialização da política em termos gerais e, especificamente, alargamento dos espaços de participação nas decisões da grande massa popular, intensa redistribuição da renda num país obscenamente desigual e, por fim, uma reforma política e da política que desse fim à longa persistência do patrimonialismo” (revista<em> Piauí</em>, out. 2009), também é verdade que Lula soube “excluir a grande política do âmbito interno da vida estatal e reduzir tudo a pequena política”. Assim procedendo, fez grande política, isto é, “representou o maquiavelismo de Maquiavel contra o maquiavelismo de Stenterello”, ainda que “para conservar uma situação miserável” (Gramsci). Quando Oliveira fala em “regressão política” para se referir ao governo Lula, é nisso que ele está pensando.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Aos meus olhos, a hegemonia lulista é o ponto comum entre duas formas sociais distintas de consentimento: a <em>ativa</em> e a <em>passiva</em>. “Vanguarda do atraso” ou “atraso da vanguarda”? O governo Lula apoia-se em uma forma de hegemonia produzida por uma revolução passiva empreendida na semiperiferia capitalista que conseguiu desmobilizar os movimentos sociais ao integrá-los à gestão burocrática do aparato de Estado em nome da aparente realização das bandeiras históricas desses mesmos movimentos, que passaram a consentir ativamente com a mais desavergonhada exploração dirigida pelo regime de acumulação financeiro globalizado.</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Por seu turno, emaranhada em uma rede de dependências das políticas públicas governamentais, parte considerável das classes subalternas brasileiras consente passivamente, esgotada por uma década e meia de cruentas lutas sociais ofensivas somada a outra década e meia de obstinadas lutas sociais defensivas. Cansadas de inovar politicamente e de se defender economicamente, as classes subalternas brasileiras preferem, à primeira vista, retomar momentaneamente o fôlego e seguir hipotecando prestígio ao governo da esfinge barbuda e sua candidata. Eis aqui o cerne da questão: após sete anos de “regressão política”, 83% de aprovação no Ibope não pode ser obra da divina providência.</p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /></p><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Fonte: <a href="http://revistacult.uol.com.br/home/2010/07/movimentos-sociais/">Revista Cult</a>.<br /></p>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-8334808108153832252010-07-20T11:09:00.000-07:002010-07-20T11:10:46.236-07:00Convite para grupo de estudos sobre Política e Socialismo<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'trebuchet ms'; ">Alguns companheiros do PSOL irão se reunir no dia 31 de julho, às 15h, na casa do militante Ivan Rocha, na <a href="http://maps.google.com.br/maps?f=q&source=s_q&hl=pt-BR&geocode=&q=Rua+Jos%C3%A9+Manoel+de+Souza,+707+-+Costa+e+Silva&sll=-14.179186,-50.449219&sspn=72.919271,113.027344&ie=UTF8&hq=&hnear=R.+Jos%C3%A9+Manoel+de+Souza,+707+-+Costa+E+Silva,+Joinville+-+Santa+Catarina&z=16">Rua José Manoel de Souza, 707 - Costa e Silva </a>, para discutir textos políticos a respeito do socialismo, convite que se estende a todos.que queiram discutir política e socialismo, onde convidamos você a participar.</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'trebuchet ms'; "><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjydVpaNGJ7PN-5A9GExpRy_YLPoRAg-FSiHHvH9KUEuvILEs4HNbYfS9mzkm6fm6MV2wUvPhNyUb3bYi3BCtWYJtKhvdG67-DZ7u2TsRLPzBH8Qrmdslp9sfygVIeoN18-90CErjGJ0ptv/s1600/Rumor+de+Botas.jpg.php"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjydVpaNGJ7PN-5A9GExpRy_YLPoRAg-FSiHHvH9KUEuvILEs4HNbYfS9mzkm6fm6MV2wUvPhNyUb3bYi3BCtWYJtKhvdG67-DZ7u2TsRLPzBH8Qrmdslp9sfygVIeoN18-90CErjGJ0ptv/s200/Rumor+de+Botas.jpg.php" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496019549237180402" border="0" style="text-align: justify;float: right; margin-top: 0pt; margin-right: 0pt; margin-bottom: 10px; margin-left: 10px; cursor: pointer; width: 132px; height: 200px; " /></a><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Vamos discutir três capítulos do livro Um rumor de botas de Eder Sader (dois textos e uma cronologia), todos a respeito da revolução chilena (1970-73), em seus aspectos históricos, políticos e econômicos. A importância do texto reside em compreender o passado a fim de que atuemos de modo consistente em nosso presente. São os textos:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-style: italic; "><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><span style="font-style: italic; ">Breve Cronologia da Unidade Popular</span>;</span></div></span><span style="font-style: italic; "><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><span style="font-style: italic; ">A Ocupação do Estado: Estratégia da "Via Chilena"</span>;</span></div></span><span style="font-style: italic; "><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><span style="font-style: italic; ">A Transição frustrada: A Economia da Unidade Popular</span>.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para quem não conhece, o Eder Sader é irmão do Emir Sader. Era formado em Ciências Sociais pela USP. Participou da Política Operária na década de 60, exilando-se no Chile em seguida. Vivenciou a queda de Allende. No Brasil, ajudou a fundar o PT e chegou a ser candidato a deputado estadual. Doutorou-se em sociologia com a tese publicada em livro pela Paz e Terra <i>Quando Novos Personagens entraram em cena</i>. Dentro do PT, alimentava discussões em torno do conceito de autonomia (inspirado pelo filósofo francês Castoriadis), junto a Marilena Chauí e Marco Aurélio Garcia. Morreu em 88 de AIDS, vítima de uma transfusão de sangue contaminado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sinta-se convidado. Depois das discussões, haverá um pequeno lanche. O grupo não é fechado a membros do PSOL, mas sim é aberto a todos que tenham interesse em discutir questões pertinentes ao socialismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O nosso estudo será constante. Nesse encontro também decidiremos os próximos textos e a periodicidade do grupo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O texto pode ser baixado <a href="http://www.cipedya.com/web/FileDetails.aspx?IDFile=177476">aqui</a>. Confirme presença pelo e-mail psoljoinville@gmail.com .</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um abraço,</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><i><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><i>PSOL Joinville</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><i><br /></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">Fonte: <a href="http://psoljoinville.blogspot.com/2010/07/convite-para-grupo-de-estudos-sobre.html">PSOL Joinville</a>.</span></div></i></span>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-56796085370181217012010-06-29T21:35:00.000-07:002010-06-29T21:36:45.470-07:00'Ao falar de ateísmo, falamos de política'. Entrevista com Terry Eagleton<p style="text-align: justify;"><strong>Terry Eagleton</strong>, autor do livro "<strong>Razão, fé e revolução</strong>" (inédito no Brasil) foi entrevistado por<strong> Miguel Conde</strong>. A entrevista foi publicada pelo jornal <strong>O Globo</strong>, 26-06-2010.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Eis a entrevista.</strong></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Em seu livro “Razão, fé e revolução” (inédito no Brasil), o senhor se pergunta por que Deus se tornou um assunto tão central no debate intelectual contemporâneo, e afirma que isso tem a ver com os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Qual é a conexão?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Os chamados <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?id_edicao=273">neoateístas</a> são uma espécie de braço intelectual da guerra ao terror. O 11 de Setembro é, portanto, o marco inicial desse debate. Essa discussão aparentemente politicamente inocente sobre Deus é na verdade uma reação ao islamismo radical. Quando falamos sobre o ateísmo hoje estamos falando de política, e não apenas de teologia.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>O senhor diria que não devemos pensar o terrorismo contemporâneo prioritariamente em relação à religião?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Não acho que as motivações por trás do islamismo radical sejam principalmente religiosas, mas políticas, ainda que não seja fácil separar as duas coisas no caso do <strong>Islã</strong>. Ao se bater contra a religião, esse novo ateísmo ocidental está errando o alvo.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Qual seria um alvo melhor?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">O islamismo radical é motivado pelo que percebe como uma injustiça política, assim como o fundamentalismo ocidental resulta da ansiedade de um grupo que se sente deixado para trás na sociedade moderna, e expressa isso em termos religiosos, porque precisa do conforto de algumas certezas. Não se pode pensar nenhum dos dois apenas em função da religião, é preciso considerar um contexto mais amplo, o que não significa de forma alguma apoiálos. Há um equívoco, popular no momento, de que explicar seria o mesmo que endossar. Temos que combater esse tipo de discurso com firmeza.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Intelectuais como <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27355">Christopher Hitchens</a> costumam dizer que a motivação do fundamentalismo islâmico é destruir as democracias liberais. O senhor concorda?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">O islamismo radical é muito perigoso, autoritário e antiliberal, e acho que as sociedades liberais têm que ser protegidas disso. Mas acho que <strong>Hitchens</strong>, particularmente, acredita que isso se aplica ao Islã em si mesmo, e não apenas ao islamismo radical.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Ou seja, acho que <strong>Hitchens</strong> é um islamófobo, alguém que detesta o Islã como um todo, e não alguém que está preocupado apenas com os ataques à liberdade feitos por algumas das formas extremas do Islã. É irônico que os liberais como <strong>Hitchens</strong> e <strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18096">Dawkins</a></strong> muitas vezes sejam os primeiros a esposar posições muito antiliberais quando se trata da relação com o Islã. Seria de se esperar que eles de fato protegessem a chama liberal, e não é o que eles têm feito.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>O senhor afirma que ao tomarem como equivalentes o sentimento religioso e a intolerância eles estão ignorando uma rica tradição cultural e uma série de discussões teológicas sofisticadas. Mas, por outro lado, não se poderia dizer que, como um fenômeno cultural, nos EUA por exemplo, a religião de fato muitas vezes aparece hoje associada à intolerância?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">É preciso lembrar que existe, da mesma forma, a intolerância ateísta. Pense na União Soviética, por exemplo, ou na China de <strong>Mao</strong>, ou nos estados fascistas, que são com frequência antirreligiosos. Então não acho que exista nenhuma conexão automática entre a religião e a intolerância. Não se pode tomar a religião isoladamente. Ela é tolerante ou intolerante dependendo das circunstâncias sociais e econômico-políticas. Quando as pessoas se sentem acuadas, tendem a se apegar a alguns dogmas reconfortantes, que não são necessariamente dogmas religiosos, embora de fato possam ser.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">O<strong> senhor descreveu Richard Dawkins como um racionalista à moda antiga. O que quer dizer com isso?</strong></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Ambos, <strong>Hitchens</strong> e <strong>Dawkins</strong>, de fato são racionalistas da velha escola. E por racionalista não quero dizer simplesmente alguém que acredita na razão, mas alguém que tem uma confiança excessiva na razão, que acredita na razão isolada de outros fatores. Acho que ambos trabalham com uma versão caricatural do Iluminismo, e não percebem que a razão nunca funciona sozinha, e sim com nossas necessidades, desejos e daí por diante.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Em livros anteriores, o senhor debate e critica ideias de alguns dos principais pensadores pós-modernos, especialmente as críticas deles ao racionalismo. Agora, no entanto, o senhor está se batendo com o que chama de neorracionalistas. Algo mudou no seu modo de pensar?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Simplificando bastante, o pós-modernismo subestima a importância da razão, e tende a reduzi-la ao desejo ou aos interesses, enquanto o racionalismo superestima a importância da razão. São erros opostos, dois lados da mesma moeda. Mas o que acho muito irônico nesse debate neoateísta é que as pessoas estão voltando às grandes narrativas que o pós-modernismo supostamente teria desacreditado. Nos anos 1990 falava-se muito no fim da História, no fim das grandes narrativas e daí por diante.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Agora pessoas como <strong>Hitchens</strong> e <strong>Dawkins</strong> estão ressuscitando narrativas que supostamente estariam ultrapassadas, e acho que isso é um sinal de desespero, que eles estejam se agarrando a essas certezas reconfortantes, como o progresso, a razão, a ciência, a civilização e assim por diante. E num certo sentido essas certezas têm o mesmo papel nas ideologias deles que as doutrinas nas dos fundamentalistas.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>O senhor estaria tentando construir um meio termo na maneira de conceber a razão?</strong></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Não acho que em geral o meio termo seja o melhor lugar para se estar. É uma terceira posição, que reconheça que sem a razão estamos perdidos, mas que a razão no fim das contas não é o essencial. A não ser que a razão se relacione com desejos, interesses, afetos, simpatias, ela sequer funcionará como razão. Os racionalistas pensam, pelo contrário, que para a razão funcionar ela deve ser separada dos afetos, da imaginação. Mas aí ela acaba num vazio, onde se torna impotente. É só quando a razão interage com elementos além dela mesma que ela pode se tornar razoável. Uma das razões pelas quais <strong>Marx</strong> é importante, na minha opinião, é que por um lado ele era um filho do Iluminismo, com um forte compromisso com a razão, mas ao mesmo tempo <strong>Marx</strong>, como <strong>Freud</strong>, sempre pensa a relação da razão com poderes que estão além dela.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Recentemente, o filósofo alemão Jürgen Habermas publicou um livro de debates com teólogos, no qual ele discute o lugar da religião numa sociedade democrática. O senhor vê outros pensadores contemporâneos tentando pensar com mais nuances a relação entre fé e razão, para além da simples oposição?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Se existe isso que se pode chamar de neoateísmo, há também um novo ateísmo teológico: <strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=15494">Habermas</a></strong>, <strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=15075">Badiou</a></strong>, <strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28959">Agamben</a></strong>, <strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=31755">Zizek</a></strong> etc. Um fenômeno impressionante e incomum de todo um conjunto de pensadores de esquerda lidando seriamente com teologia.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Deus volta ao debate intelectual de duas maneiras: há uma polêmica contra ele, por um lado, e por outro um aproveitamento de recursos teológicos por parte de uma série de pensadores de esquerda declaradamente ateístas. E acho que essa segunda história ainda precisa ser examinada com mais profundidade. O que está acontecendo, para que parte do trabalho teológico mais importante de hoje esteja sendo feito por ateístas de esquerda? Parte da resposta, na minha opinião, é que, quando a esquerda passa por tempos difíceis, ela não pode ser dar ao luxo de olhar os dentes do cavalo, como se diz. E se ela descobre que algumas ideias teológicas podem ser úteis, então, por que não?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Embora seus textos sejam muitas vezes irônicos ao discutir o pensamento pós-moderno, alguns desses autores foram interlocutores importantes para o senhor?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Sim. Não todos, alguns deles são por demais superficiais. Mas certamente aprendi muito com pós-estruturalistas como <strong>Foucault</strong>, <strong>Lacan</strong>, <strong>Derrida</strong>... E acho que muitos dos pós-estruturalistas — em vez dos pós-modernistas — lidaram de formas indiretas com o marxismo. <strong>Derrida</strong> e <strong>Foucault</strong>, por exemplo. Vou lançar um livro no ano que vem, a propósito, chamado “<strong>Por que Marx estava certo</strong>”, e o que ele fez é pegar dez das objeções mais habituais ao marxismo e tentar refutá-las.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Não é de forma alguma acrítico em relação a <strong>Marx</strong>, mas tenta mostrar que ele é um dos grandes pensadores do nosso tempo. E talvez o momento global seja adequado para um reengajamento desse tipo.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Há algum tempo o senhor escreveu um artigo em que tentava encontrar uma espécie de fundamento mínimo a partir do qual fosse possível contestar a ideia de que o debate intelectual no fundo é sempre apenas um enfrentamento de ideologias. E então o senhor elegia como esse ponto inicial o corpo humano. </strong><strong>Poderia falar sobre isso?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Estava tentando reconceitualizar o materialismo marxista e fundamentá-lo, no que acredito ser uma abordagem razoavelmente original, no corpo. No corpo trabalhador, reprodutor, falante, histórico. Numa época em que há tantos tipos de idealismos, esses idealismos pós-modernos, é importante tentar repensar o materialismo. Mas, a respeito do que você diz sobre ideologia, se é verdade que algum tempo atrás as pessoas diziam que as ideologias estavam por toda parte, que era impossível escapar delas, pode-se dizer que o engano que se comete agora é que ninguém mais fala nisso. O que aconteceu com a ideologia? Fora algumas pessoas, como <strong>Fredric Jameson</strong>, ela mal é mencionada. Como um conceito, parece ter desaparecido. </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>É algo mais que precisaria ser repensado</strong>. <strong>Pelos seus textos tem-se a impressão de que o senhor sente falta também de críticas à democracia liberal nos debates contemporâneos. É verdade?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Sim, embora hoje pode-se esperar que os acontecimentos históricos produzam esse tipo de crítica. Quando há 20 anos se falava no fim da História, era só um jeito de dizer que a democracia liberal era a rainha do pedaço, mas quando contradições e problemas começam a emergir, acho que será possível de novo ter uma perspectiva mais crítica sobre isso.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Seus livros são consideravelmente mais populares do que a média para obras de crítica e teoria literária, e sua escrita é muito acessível e sedutora. O quanto é importante para o senhor o trabalho com o texto?</strong> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Em algum lugar, <strong>Roland Barthes</strong> fala de um tipo de escritor para quem o ato de escrever em si é muito realizador, e talvez não importe tanto o que ele escreve. Às vezes penso que sou esse tipo de figura.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Eu gosto tremendamente do ato de escrever, me divirto muito e talvez por isso escreva tanto. Não sinto nenhuma grande distinção entre a escrita criativa ou crítica quanto ao prazer — já escrevi ambos tipos de texto —, sou muito envolvido com a escrita, como por exemplo <strong>Fredric Jameson</strong> também é. Escrevi sobre a importância do estilo de <strong>Jameson</strong> em seu pensamento. Uma vez lhe perguntaram sobre seu estilo e ele respondeu: “bom, tem que haver nisso tudo algo para você mesmo”. E acho que isso é verdade, mas que também é uma questão de tentar, como você disse, ganhar o leitor, de se botar no lugar dele, o que exige um pouco de imaginação, acredito. Eu tento alternar livros mais e menos populares. Gosto de fazer ambas as coisas. Acredito que críticos de esquerda têm uma responsabilidade de popularização, e fico impressionado que tão poucos deles levem isso a sério.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;"><strong>Pensadores de esquerda são muitas vezes associados a um moralismo insípido, que se leva sempre muito a sério. O senhor, por outro lado, parece valorizar o humor e a ironia.</strong></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Sim, há um tipo de expressão de pôquer terrível, que nos dá a todos má-fama. O humor, a comédia, a ironia, a sátira, sempre foram para mim muito carregados politicamente. Meu pensamento político sempre foi inseparável desse estilo. Eu tento às vezes escrever não ironicamente, e não consigo.<br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Fonte: <a href="http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33790">IHU</a>, <b>27/6/2010</b>.<br /></p>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-50225858868673751442010-06-23T18:50:00.000-07:002010-06-23T19:07:50.065-07:00O 22 Prairial de Luis Inácio¹*<div style="text-align: justify;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-size:100%;">O <span style="font-style: italic;">18 Brumário de Luís Bonaparte</span> é um texto clássico do conjunto da obra de Karl Marx e, de modo mais amplo, do marxismo em geral. Segundo Florestan Fernandes, <span style="font-style: italic;">O 18 Brumário de Luís Bonaparte</span> é o “principal trabalho histórico” de Marx.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Iremos nos servir desse texto como uma ferramenta teórica a fim de compreender criticamente o presente, talvez o que exista de mais fundamental no projeto teórico – mas também prático-político – de Marx. Para tanto, acabamos por fazer uma leitura, por assim dizer, “interessada” do <span style="font-style: italic;">18 Brumário</span>. O objeto ao qual nos voltamos, munidos dos referenciais teóricos de Marx, é o governo Luís Inácio. Nosso problema, portanto, é testar, criativamente, a atualidade do 1<span style="font-style: italic;">8 Brumário</span>, não através de uma aplicação mecânica, mas sim como uma inspiração teórica.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Nosso empreendimento, no limite, não é nada original: outros e muito mais gabaritados analistas políticos já o fizeram com mais êxito. Tentaremos incidir nesse debate, muito embora, possivelmente, glosaremos o principal. No que tange aos analistas brasileiros, privilegiamos dois textos fundamentais: Hegemonia às avessas do sociólogo Francisco de Oliveira e Raízes sociais e ideológicas do lulismo do cientista político André Singer.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Dessa maneira, portanto, não reconstituiremos historicamente as batalhas travadas que são narradas no<span style="font-style: italic;"> 18 Brumário</span>. Tentaremos, mais produtivamente, pinçar conceitos que estão imersos e, por vezes, à primeira vista, escondidos no interior do texto.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-size:100%;" >Nota metodológica</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Em primeiro lugar, cabe assinalar a dificuldade, propriamente, de se falar em “conceitos” na obra de Marx. Isso porque Marx não dispõe, por exemplo, de conceitos a priori e, portanto, deve retira-los da experiência, notadamente, da experiência histórica. Desse modo, cabe a Marx a partir de circunstâncias históricas, por vezes, peculiares, compreender o que há de essencial nos fenômenos manifestos. Isso acaba por marcar os conceitos marxistas historicamente. Em primeiro lugar porque a extração histórica serve de origem ao conceito e a seu nome – por exemplo, os conceitos de bonapartismo (abstração de uma situação ocorrida na França durante três ou quatro anos no século XIX) e via prussiana (que busca demarcar a passagem dos resquícios feudais ao capitalismo na Prússia).</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Em segundo lugar, porque os conceitos, dado que foram extraídos da história e ela própria é essencialmente mudança, têm uma vigência limitada. O conceito que tem aplicabilidade no feudalismo pode perde-la no capitalismo; o que vale ao capitalismo concorrencial pode não significar nada no capitalismo monopolista. Nesse sentido, contra nosso argumento, vale lembrar que Florestan Fernandes não considera o conceito de bonapartismo válido ao capitalismo que não seja concorrencial.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Dessa maneira, cabe assinalar o que há de essencial e o que há de acessório nos conceitos. O mesmo Florestan Fernandes dirá que bonapartismo está ligado necessariamente ao exército, como traço essencial. Várias questões conceituais têm seu campo delimitado nessa via: ora, por exemplo, se o conceito de via prussiana vale apenas ao processo de transição capitalista ocorrida na Prússia em fins do século XIX por meio de um arranjo político oligárquico, o que há de conceitual no conceito de “via prussiana”? Em que medida não passa a ser uma mera descrição que, como tal, diz respeito apenas a uma absoluta particularidade? O problema contrário também é válido: se via prussiana explica toda transição capitalista não-revolucionária – como, em larga medida, o conceito foi reapropriado no Brasil, por críticos como Carlos Nelson Coutinho –, isto é, se explica quase tudo ou uma generalidade razoável, em que medida o conceito não passa a ser vazio?</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Em suma, esse o problema, o qual tentaremos afastar por meio de uma definição mais rigorosa do conceito de bonapartismo.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-size:100%;" >Bonapartismo</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">O bonapartismo diz respeito a uma série de condições e características: 1) enfraquecimento das instituições, 2) personificação do poder, 3) aparato estatal hipertrofiado, 4) indeterminação da representação, 5) mecanismos de cooptação e deseducação das massas, 6) autonomização do Estado, 7) líder como expressão de uma classe incapaz de organizar-se por si própria.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Acreditamos que estas sejam as características fundamentais do conceito de bonapartismo. Florestan Fernandes propõe, talvez com razão, de que há uma ligação não eventual entre bonapartismo e exército. Sem contradize-lo, mas também sem conceder-lhe o ponto, optamos pelo conceito de bonapartismo tal como elaborado por Domenico Losurdo no qual afasta o exército e acrescenta o adjetivo <span style="font-style: italic;">soft</span> a fim de qualificar um certo bonapartismo contemporâneo. Passaremos a tentar explicar cada uma dessas características mostrando como elas aparecem no texto de Marx.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">O enfraquecimento das instituições, internamento ao texto do <span style="font-style: italic;">18 Brumário</span>, tem seu exemplo, entre vários, a partir do momento no qual a constituição é desrespeitada em favor do esmagamento da Montanha pelo Partido da Ordem. Dirá Marx: “A 13 de junho o partido da ordem não tinha apenas destroçado a Montanha: tinha efetuado a subordinação da Constituição às decisões majoritárias da Assembléia Nacional. E compreendia a república da seguinte maneira: que a burguesia governa aqui sob formas parlamentares, sem encontrar, como na monarquia, quaisquer barreiras tais como o veto do poder executivo ou o direito de dissolver o parlamento. Esta era uma república parlamentar, como a cognominou Thiers. Mas se a burguesia assegurou a 13 de junho sua onipotência dentro do parlamento, não tornara ao mesmo tempo o próprio parlamento irremediavelmente fraco diante do poder executivo e do povo, expulsando a bancada mais popular?” (p. 53). Se para a aniquilação, enquanto força parlamentar, da Montanha foi necessário o desrespeito da instituição, esse mesmo expediente foi utilizado para a aniquilação do partido da ordem. Vale notar também que o sufrágio universal é reestabelecido por Bonaparte, no entanto, aparece agora como uma forma vazia, destituída de todo seu significado político, servindo apenas a manutenção da legitimidade do bonapartismo.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">A centralização no poder executivo acaba por levar à personificação progressiva do poder. Marx dirá que Bonaparte e sua causa – a ordem – passam a identificar-se. O golpe da Montanha, a tentativa de impeachment contra Bonaparte, aparada pelo partido da ordem, acabou por ampliar a popularidade de Bonaparte.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">A centralização do poder político em uma pessoa serve à instrumentalização do Estado pelo executivo. Marx aponta a esse respeito: “Torna-se imediatamente óbvio que em um país como a França, onde o poder executivo controla um exército de funcionários que conta mais de meio milhão de indivíduos e portanto mantém uma imensa massa de interesses e de existências na mais absoluta dependência; onde o Estado enfeixa, controla, regula, superintende e mantém sob tutela a sociedade civil, desde as suas mais amplas manifestações de vida até suas vibrações mais insignificantes, desde suas formas gerais de comportamento até a vida privada dos indivíduos; onde através da mais extraordinária centralização, esse corpo de parasitas adquire uma ubiqüidade, uma onisciência, uma capacidade de acelerada mobilidade e uma elasticidade que só encontra paralelo na dependência desamparada, no caráter caoticamente informe do próprio corpo social” (...) (pp. 58-59). Dessa maneira, é possível constatar que o aparelho estatal moderno, hipertrofiado, é fonte grandiosa de poder político, através das mil relações que mantém com a sociedade civil.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">A indeterminação da representação é um elemento fundamental para explicar o surgimento de uma personagem relativamente superior e autônoma ao resto da sociedade. Marx oferece o seguinte conceito de representação: “Não se deve imaginar (...) que os representantes democráticos sejam na realidade todos shopkeepers (lojistas) ou defensores entusiastas desses últimos. Segundo sua formação e posição individual podem estar tão longe deles como o céu da terra. O fato que os torna representantes da pequena burguesia é o fato de que sua mentalidade não ultrapassa os limites que esta não ultrapassa na vida, de que são conseqüentemente impelidos, teoricamente, para os mesmos problemas e soluções para os quais o interesse material e a posição social impelem, na sua prática, a pequena burguesia. Esta é, em geral, a relação que existe entre os representantes políticos e literários de uma classe e a classe que representam” (p. 48). Ou seja, Marx assinala que o representante pode ser de natureza material diversa do representado, coincidindo teoria do representante com a prática do representado; interesse material do representado e horizonte intelectual e político do representante.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">À medida que o partido da ordem passa a girar em falso, devido a conflitos mesquinhos entre os partidos, devido ao desejo de ordem da burguesia a fim de perpetuar seus negócios, que é superior a quaisquer laços históricos de representação, Bonaparte aparece à burguesia francesa como a melhor escolha, implodindo a relação de representação entre burguesia e partido da ordem. Os representantes se destacaram definitivamente dos interesses reais da burguesia e, por isso, foram abandonados pela classe a qual almejavam representar.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Outro expediente do bonapartismo se consuma por meio da cooptação das massas. Esse elemento em Luís Bonaparte não se dá por uma cooptação geral das massas, mas sim em setores localizados da sociedade, notadamente exército e lúmpen-proletariado. A esse respeito ilustra Marx: “Na sua qualidade de fatalista, [Luís Bonaparte] vivia e vive ainda imbuído da convicção de que existem certas forças superiores as quais o homem, e especialmente o soldado, não pode resistir. Entre essas forças estão, antes e acima de tudo, os charutos e a champanha, as fatias de peru e as salsichas feitas com alho” (p. 73). Marx faz referência a toda uma engenharia social que serve à manutenção dessa cooptação e um amortecimento geral dos setores que por ela são visados: “Donativos e empréstimos – resume-se nisso a ciência financeira do lúmpen-proletariado, tanto de alto como de baixo de nível” (p. 64).</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">O resultado profundo de todos esses mecanismos acaba por redundar em uma relativa autonomia do Estado. Autonomia que se dá por meio da máquina burocrática que, através de sucessivos golpes, em nome da ordem e da coesão social, é abdicada pela burguesia em favor de um poder supremo outro. Esse poder serve a manutenção do poder burguês, mas freqüentemente pode assumir formas autônomas que, se não o contradigam, não são sua expressão direta.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">A última característica que destacamos diz respeito ao fato de que a autonomia do Estado é relativa, logo não absoluta. Não é absoluta porque ainda é expressão de uma classe. Muito embora uma classe particular, uma classe incapaz de organizar-se por si mesma: os pequenos camponeses. Marx explica o porquê dessa desorganização estrutural: “A grande massa da Nação Francesa é, assim, formada pelas simples adição de grandezas homólogas, da mesma maneira por que batatas em um saco constituem um saco de batatas” (p. 115). Os elementos culturais dessa classe apontavam uma solução autoritária, que passava por uma mitificação do Bonaparte tio, o que permitiu a realização desse ideal – idéia napoleônica – pelo sobrinho.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-size:100%;" >Governo Luís Inácio</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Elencadas essas características que constituem o conceito de bonapartismo – seguindo Losurdo, bonapartismo <span style="font-style: italic;">soft</span> – o problema desse seminário ganha todos os elementos necessários a afim de se responder a questão: é ainda de alguma atualidade o <span style="font-style: italic;">18 Brumário</span>?</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Se formos acreditar no ex-porta-voz do Planalto, André Singer, sim. Segundo ele, em relação ao comportamento político que dá sustentação a Luís Inácio:</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">“O modelo de comportamento político desenhado acima tem antecedentes clássicos. Marx, em <span style="font-style: italic;">O 18 Brumário de Luís Bonaparte</span>, revela que a projeção de anseios em uma força previamente existente, que deriva da necessidade de ser constituído como ator político desde o alto, é típica de classes ou frações de classe que têm dificuldades estruturais para se reorganizar” (p. 88).</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Singer se refere ao subproletariado que, após o primeiro mandato, passou a ser o sustentáculo principal de Luís Inácio.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Vamos tentar apontar de modo geral que as principais características do bonapartismo são homólogas no governo Luis Inácio.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Enfraquecimento das instituições. O Congresso Nacional, instituição legislativa primeira do Estado brasileiro, desde o início da era Luís Inácio passou por um duplo enfraquecimento. Primeiro, por meio de escândalos de corrupção, acentuados pela mídia burguesa, puseram, em larga medida, em xeque, senão sua legitimidade, sua credibilidade. Em segundo lugar, ao institucionalizar, de exceção à regra, a medida provisória, o executivo passou a governar não só contra, mas a despeito do legislativo. O legislativo tornou-se uma tribuna de acusações estéreis, e não muito mais que isso. Segundo Francisco de Oliveira, a política não diz mais respeito a nenhum conflito de classe, o que implica na própria despolitização da política.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">No tocante a personificação do poder, é evidente, de modo sintomático, que se operou uma separação razoável entre Partido dos Trabalhadores e Luís Inácio. André Singer oferece um argumento irretocável: ele mostra que o eleitorado do PT sempre foi superior nas localidades com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ao passo que Luís Inácio em 2006 teve votações superiores nos bolsões de pobreza. A transferência de votos e prestígio de Luís Inácio mostrou-se limitada nas últimas eleições municipais, índice de que sua personalidade é superior ao partido. Essa separação mostra, com mais precisão ainda, que Luís Inácio descolou-se de sua base social – um proletariado mais formalmente educado e organizado e setores médios – para uma base subproletária.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">O Estado na era Luís Inácio passou por um reforço importante, com contratações visando a substituição de terceirizados e aumento do serviço público. A teia de relações entre Estado e sociedade civil aumentou significativamente.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Em alguns momentos conjunturais tornou-se visível a indeterminação da representação política, que chegou a ter conseqüências graves. Eike Batista, empresário do ramo do petróleo, não cansa de declarar à imprensa sua concordância com Luis Inácio, Dilma Roussef e a política econômica. E não é um caso isolado: Abílio Diniz, usineiros, banqueiros etc., vários ramos da burguesia declaram explícito apoio a Lula. Isso fez, como no modelo exposto no <span style="font-style: italic;">18 Brumário</span>, um curto-circuito na representação da burguesia. A revista Veja, por exemplo, que imaginava estar à vanguarda da burguesia, viu-se abandonada pelos mais notórios empresários, restando de público uma pequena-burguesia moralista. Mesmo expoentes do PSDB e do DEM, que de início criticavam acerbamente, o programa bolsa-família, hoje lutam para vincular sua imagem a esse mesmo programa. Em suma, houve uma clivagem entre burguesia política, anti-Luís Inácio, e burguesia econômica, pró-Luís Inácio.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">Do ponto de vista da cooptação, Francisco de Oliveira constata: “Já no primeiro mandato, Lula havia seqüestrado os movimentos sociais e a organização da sociedade civil.”. Além disso, os antigos sindicalistas passaram a operar os fundos de pensão mais rentáveis do Brasil, ligados à esfera pública, o que criou uma subclasse de ex-sindicalistas. CUT e UNE, e em menor medida MST, passaram a apêndices do governo. Marinho, ainda como presidente da CUT, foi convidado a assumir o ministério do Trabalho, o que prontamente aceitou. Diretores da UNE também possuem cargos no Conselho Nacional de Juventude. O programa bolsa-família, como mostrou Singer, um importante mecanismo de deslocamento da base subproletária ao encontro de Lula, possui larga abrangência (7,5 bilhões de reais – em que pese o orçamento destinado à dívida pública ser até treze vezes maior). Singer ainda aponta o crédito consignado – será mais uma amostra da ciência financeira do lúmpen-proletariado? – como uma importante medida do governo do ponto de vista da coesão social.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">A autonomia do Estado brasileiro foi diagnosticada pela historiadora Virgínia Fontes. Fontes afirma que o Brasil passou a ser, na era Luis Inácio, um país imperialista por meio de investimentos estatais e exportação de capital para vários países da América Latina. Esses investimentos se dão por meio do BNDES, Petrobrás, Banco do Brasil e empresas privadas como a Vale – cuja subsidiária no Canadá chegou a enfrentar uma greve por mais de 9 meses, o que assinala elementos de truculência tipicamente nacionais. Segundo Virgínia, a condição para a organização do imperialismo brasileiro se dá por meio da autonomia do Estado, ao centralizar e direcionar capitais.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">O subproletariado brasileiro, como André Singer mostrou em seu texto, sempre esteve, por definição², à margem da organização de classe, nunca fez-se representar e sempre esteve na órbita da direita, do ponto de vista eleitoral. Fatores da segunda eleição de Lula – bolsa família, aumento do salário mínimo, crédito consignado – deslocaram esse setor que viu em Lula o líder capaz de lhe dar coesão política e representativa. Singer discorda da tese de Francisco de Oliveira segundo a qual há uma hegemonia às avessas, isto é, que as classes populares teriam a direção política da sociedade, muito embora governassem para as elites. Ao contrário, Singer pensa que há uma autêntica representação do subproletariado, o que conduz a um elemento novo na política brasileira.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-size:100%;" >Referências bibliográficas</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">MARX, Karl <span style="font-style: italic;">O 18 Brumário de Luís Bonaparte</span>, ed. Paz e Terra, 1986.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">SINGER, André <span style="font-style: italic;">Raízes sociais e ideológicas do lulismo,</span> revista “Novos Estudos”, nº 85, dezembro de 2009.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">OLIVEIRA, Francisco de <span style="font-style: italic;">Hegemonia às avessas</span>, revista “Piauí”, nº 7, janeiro de 2007.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">FONTES, Virgínia <span style="font-style: italic;">O imperialismo brasileiro está nascendo</span>, entrevista ao site IHU em 7/5/2010, consultado em 21 de junho de 2010.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">LOSURDO, Domenico <span style="font-style: italic;">Democracia ou Bonapartismo</span>, ed. UFRJ e UNESP, 2004.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">[1] Data, segundo o calendário proposto pela Revolução Francesa, que expressa a publicização da “Carta ao Povo Brasileiro”. Sugestão presente no <span style="font-style: italic;">Momento Lênin</span> de Chico de Oliveira.</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">[2] Definição de subproletários, segundo Paul Singer: “Subproletários são aqueles que ‘oferecem a sua força de trabalho no mercado sem encontrar quem esteja disposto a adquiri-la por um preço que assegure sua reprodução em condições normais’” (p. 98).</span><span style="font-size:100%;"><br /><br /><br /></span><span style="font-size:100%;">* seminário apresentado por Hernandez Vivan e Nilson Morais na disciplina Tópicos Especiais em Ciências Humanas, ministrada no primeiro semestre de 2010 no departamento de Filosofia da Universidade Federal do Paraná pelo profº Emmanuel Appel.</span></div>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8992985944165715388.post-62492719259011130052010-06-18T10:26:00.000-07:002010-06-18T10:29:20.313-07:00Os sindicatos e o governo Lula<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style=" ;font-family:'trebuchet ms';"><i>A chegada ao poder da direção do movimento operário que enfrentou a ditadura militar e revivificou as instituições democráticas brasileiras nos anos 1980 coloca desafios para o movimento sindical. Entre eles, romper com a burocratização e o contínuo afastamento das direções em relação às bases</i></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';"><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal; "><b>por Ruy Braga</b></span></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Refletir sobre o papel desempenhado pelo sindicalismo na vida política brasileira contemporânea implica, na realidade, emaranhar-se nas tramas de um desconcertante paradoxo. Afinal, a histórica direção sindical daquele grupo operário que balançou as estruturas da ditadura militar nos anos 1970, e revivificou as instituições democráticas brasileiras ao longo dos anos 1980, governa hoje o país com altos índices de aprovação popular. Naturalmente, seria de se esperar que o incontestável sucesso dessa burocracia sindical coroasse uma realidade vertebrada pelo prestígio simbólico, político e social dos trabalhadores. Contudo, após quase duas décadas de hegemonia neoliberal, a classe trabalhadora brasileira aproximou-se daquela condição (sub)proletária, socialmentedesacreditada, que o jovem Engels encontrara no ano de 1842 em Manchester.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sólidos indícios desse paradoxo encontram-se presentes no realinhamento eleitoral que garantiu a última vitória de Lula. Há pouco, ao comparar pesquisas eleitorais de 2002 com as de 2006, André Singer argumentou de forma convincente que a emergência do “lulismo” apoia-se na aproximação de eleitores de baixíssima renda – isto é, aqueles que recebem entre um e dois salários mínimos – do programa político representado por Lula, enquanto que, ao mesmo tempo, o atual presidente teria, no bojo do escândalo do “mensalão”, perdido a aprovação de parcela significativa das camadas médias urbanas que o sufragaram em 2002.1</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A esta importante constatação, Singer adicionou o argumento segundo o qual as bases eleitorais do lulismo e do petismo teriam se desconectado em 2006, na medida em que Lula se saiu melhor nos estados mais pobres enquanto a votação da bancada federal do PT manteve-se associada aos estados mais ricos da federação. Acrescentaria apenas que a ascensão hegemônica de um lulismo eleitoralmente dependente do subproletariado brasileiro decorre, na realidade, do desmanche burocrático do petismo, e que as razões disso são conhecidas e enlaçam processos econômicos, políticos e simbólicos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No Brasil, a década de 1990 foi traspassada pela reestruturação das empresas, pelas privatizações, pela crise do sindicalismo combativo e pelo desmanche burocrático do petismo. As transformações produtivas e as privatizações incrementaram o desemprego e degradaram o ambiente laboral, desestruturando ainda mais nosso, desde sempre combalido, mercado de trabalho. O aumento da concorrência entre os trabalhadores foi acompanhado pela intensificação dos ritmos produtivos e pela multiplicação das formas de contratação de força de trabalho. O antigo sistema de solidariedade fordista sucumbiu diante da precarização do emprego, e o sindicalismo militante e combativo, historicamente associado a esse sistema de solidariedade, entrou em crise, acentuando a burocratização sindical e promovendo um contínuo afastamento, rumo aos píncaros do aparato de Estado, das direções em relação às bases.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A burocracia sindical lulista ampliou essas tendências ao conquistar o governo federal e conservar a essência da política econômica anterior. Em seguida, o governo Lula imobilizou os movimentos sociais por meio do “transformismo” de parte expressiva de suas lideranças, colaborando ativamente com o desmanche burocrático do petismo.2 Ao absorver as forças sociais antagônicas no aparato de Estado, desmobilizando as classes subalternas e os movimentos sociais, o lulismo esvaziou todo o conteúdo crítico presente na longa “era da invenção” dos anos 1970-1980. O efeito politicamente regressivo, antevisto por Francisco de Oliveira e explorado analiticamente pela equipe de pesquisadores do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic-USP), consiste exatamente nisso: sob Lula, a política afastou-se dos embates hegemônicos travados pelas classes sociais antagônicas, refugiando-se na sonolenta e desinteressante rotina dos gabinetes, ainda que frequentados habitualmente por escândalos de corrupção.3</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eis a hipótese levantada pelo atual projeto de pesquisa do Cenedic: vitórias políticas, intelectuais e morais “dos de baixo” fortalecem “dialeticamente” as relações sociais de exploração em benefício “dos de cima”. No Brasil, décadas de luta contra a desigualdade e por uma sociedade alternativa à capitalista desaguaram na incontestável vitória de Lula em 2002. Quase que imediatamente, o governo federal racionalizou, unificou e ampliou o programa de distribuição de renda conhecido como “Bolsa Família”, transformando a luta social contra a miséria e a desigualdade em um problema de gestão das políticas públicas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Jogando no campo de seu adversário eleitoral, isto é, no campo da instrumentalização da pobreza e da gestão burocrática dos conflitos sociais, o atual governo soube derrotar o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), mas ao preço da despolitização generalizada das lutas sociais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já tendo refletido a respeito do “transformismo” da burocracia sindical lulista em seu influente ensaio O ornitorrinco4, não foi difícil para Oliveira perceber o “sequestro” dos movimentos sociais pelo “Estado integral” brasileiro – os fundos de pensão das estatais aí incluídos. Ao praticamente desaparecerem da pauta política reivindicativa nacional, exceção feita aos valentes acampados do MST, os movimentos sociais, tendo o outrora poderoso movimento sindical “cutista” na vanguarda (do atraso), salgaram o terreno para uma oposição de esquerda autêntica ao governo, quase anulando o antagonista histórico e encurralando os conflitos sociais no plano cinzento da política dos gabinetes. Talvez o processo de reorganização do sindicalismo combativo, atualmente em curso no país, aponte para um futuro menos sombrio nesse domínio. Veremos...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Contudo, uma coisa é certa. Se bem é verdade que o vínculo orgânico “transformista” da alta burocracia sindical com os fundos de pensão não foi suficiente para gerar uma “nova classe”, o argumento decisivo daquele ensaio de Oliveira mostrou-se profético: o caminho do “novo sindicalismo” na direção do regime de acumulação financeira globalizado liquidou completamente qualquer possibilidade de retomada da defesa dos interesses históricos das classes subalternas brasileiras por parte daquele movimento sindical plasmado pela hegemonia lulista.5</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não poderia ser diferente, pois esta se apoia em uma forma de dominação que logrou desmobilizar os movimentos sociais, ao integrá-los às burocracias estatal e paraestatal em nome da aparente realização das bandeiras históricas desses mesmos movimentos, que passaram a consentir ativamente com a mais desavergonhada exploração, dirigida pelo regime de acumulação financeira globalizado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Ruy Braga é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e Diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic-USP).</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">1 André Singer, “Raízes sociais e ideológicas do lulismo”, Novos Estudos, nº 85, nov. 2009, pp. 83-102.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">2 Sinteticamente, o filósofo marxista italiano Antonio Gramsci chamou de “transformismo” o processo de absorção pelas classes dominantes de elementos ativos ou grupos inteiros, tanto dos grupos aliados como dos grupos adversários.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">3 Francisco de Oliveira, “Hegemonia às avessas”, Piauí, nº 4, Rio de Janeiro/São Paulo, janeiro de 2007.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">4 Francisco de Oliveira, Crítica à razão dualista – O ornitorrinco, Boitempo, São Paulo, 2003.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">5 Gramsci entendia que o “transformismo” destruía a força política das classes subalternas ao decapitar suas lideranças, desarticulando os grupos antagonistas e semeando desordem no terreno adversário.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Palavras chave: sindicalismo, governismo, classe social</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fonte: http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=683</div></span>H.http://www.blogger.com/profile/09029260887301419514noreply@blogger.com0